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‘O Madalena decepcionou o funcionalismo de Santa Cruz do Rio Pardo’

‘O Madalena decepcionou  o funcionalismo de Santa Cruz do Rio Pardo’

Publicado em: 05 de março de 2020 às 09:42
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:34

Representante do sindicato paulista dos

professores critica posição do deputado santa-cruzense

na votação da reforma da Previdência de SP


André H. Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A Assembleia Legislativa de São Paulo vota na terça-feira, 3, o segundo turno da Reforma da Previdência Estadual. Um dos votantes será o deputado Ricardo Madalena (PL), de Santa Cruz do Rio Pardo, que já se declarou favorável à matéria.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria do governador João Doria (PSDB), prevê medidas mais duras na aposentadoria de servidores públicos.

Como a reforma federal da Previdência, aprovada no ano passado pelo Congresso, deixou de lado estados e municípios, ficou a cargo dos governadores adequar a legislação estadual.

Polêmico, o projeto já é alvo de protestos, inclusive em Santa Cruz. Na terça-feira, 3, dia da votação, professores da escola Zilda Comegno Monti vão promover uma paralisação. Alguns estarão em São Paulo para pressionar os deputados — entre os quais Madalena.

Um deles é o professor Carlos Eduardo Gonçalves, 31, representante da Apeoesp — Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.

Carlos concedeu entrevista ao DEBATE na tarde de sexta-feira, 28. Contrário à reforma, diz que Madalena “traiu o povo santa-cruzense”.

*

A indignação do sindicato dos professores com a reforma é geral, inclusive em Santa Cruz?

Não é só do sindicato. É de todo o funcionalismo público, inclusive associações de magistrados. Toda essa classe é contrária à reforma da Previdência paulista. O pessoal da Saúde, também. Se você ir ao Fórum, por exemplo, vai perceber um clima de revolta. Só existe um seleto grupo que não se manifestou até agora: os militares de alta patente. É que não mexeram nos direitos deles.

O deputado Ricardo Madalena votou favoravelmente à PEC. O sentimento de vocês em relação a ele é de traição com o povo de Santa Cruz?

É, mas eu já esperava isso dele. Para mim, o Ricardo Madalena sempre foi um deputado corporativista. Ele traz algumas emendas para a cidade. Porém, emenda não significa nada. Mais vale um voto que dê benefícios à população do que uma verba pontual que vai recapear uma rua, ajudar uma Santa Casa. O deputado que age a favor da população é aquele que legisla pensando a longo prazo. A gente tem que trabalhar pensando na aposentadoria. Significa que a pessoa tem um projeto para poder envelhecer com dignidade. E isso pode ser tirado.

Você votou no Madalena?

Não. Eu votei no Carlos Giannazi (PSOL).

Não acha que pode ser uma hipocrisia o fato de você, não tendo votado nele, o critique por ser favorável à reforma?

Não acho. A base eleitoral dele é aqui em Santa Cruz. De qualquer maneira, eu votei nele em 2014, mas me decepcionei. E boa parte do funcionalismo público que votou nele também tem o mesmo sentimento.

A idade mínima exigida para a aposentadoria de professores, se aprovada a reforma, será 60 anos para homens e 57 às mulheres – cinco anos a menos do que a exigida para servidores fora das condições especiais. Você não considera isso um avanço?

Eu acho que as pessoas que discutem essa legislação nunca entraram em uma sala de aula ao longo da vida, a não ser em ocasiões específicas. Elas não acompanham de fato a realidade que os professores enfrentam. Eles estão adoecendo em sala de aula. Eu conheço muitos professores que estão se acabando dentro da escola. Problemas de audição, voz e até psicológicos. Sem falar que as verbas às escolas estão cada vez mais enxutas. Isso desestimula o aluno e também o professor.

Qual o ponto frágil da reforma que, para você, deveria ser revisto?

Nós temos um desconto de 11% na folha salarial para a contribuição previdenciária. Estão querendo subir para 14%, mas manter o mesmo valor de aposentadoria. Por outro lado, querem aumentar o tempo de contribuição. Isso deveria ser revisto.

Além dos professores, você acha que outras classes serão prejudicadas com a reforma?

Sem dúvidas. Como eu disse, é só você ir a qualquer repartição pública estadual que vai perceber uma negativa quanto ao projeto.

No ano passado nós vimos a reforma da Previdência a nível federal. Você não acredita que o projeto em São Paulo siga a tendência de cortar gastos ou ajustar o orçamento dentro do funcionalismo?

Sim, mas como é que você corta do pobre? É o pobre quem paga a conta. Imagine se o salário do professor médio de escola pública estivesse a nível do professor de Ensino Superior. Eu não veria problemas em abaixar o salário de todo mundo. Mas o professor tem o pior salário das profissões que exigem nível superior. E eles tirar ainda mais da gente?

O Ricardo é filiado ao Partido Liberal, cuja agenda é favorável à reforma. Ele não pode ter votado por orientação do partido?

Com certeza, até porque ele segue uma agenda. 




CONTAS PÚBLICAS — Estado cobre rombo da Previdência, diz Ricardo



Para Ricardo, reforma

retoma investimentos


Deputado diz que medida deve trazer economia de R$ 32 bi

Favorável à PEC da Previdência, o deputado estadual Ricardo Madalena (PL), de Santa Cruz do Rio Pardo, diz que a medida é essencial para a retomada de investimentos do Estado. Somente com a Previdência, diz Madalena, São Paulo gastou cerca de R$ 34,3 bilhões em 2018. Do total, quase R$ 30 bilhões vieram dos cofres do governo estadual.

“Enquanto o Estado gasta R$ 29,5 bilhões para cobrir o rombo da Previdência, investe R$ 2,2 bi em Saúde, Educação e Segurança. Em 2008 a previdência consumia R$ 13 bilhões; em 2018, R$ 34,3 bilhões — um crescimento de mais de 160% em 10 anos”, afirma.

Nos cálculos do governo, a reforma deve gerar uma economia que ultrapassa R$ 30 bilhões em 10 anos. Madalena concorda.

Segundo ele, “a grande vilã da atual Previdência é o aumento da expectativa de vida, tanto a nível federal como a estadual”.

“Com a reforma, os impostos pagos pela sociedade, cuja grande parte hoje é revertida para cobrir o rombo na Previdência, poderão ser revertidos a outras prioridades”, diz.

PRINCIPAIS PONTOS DA  REFORMA

Idade mínima

• 62 anos às mulheres

• 65 anos aos homens

Tempo de

contribuição

• 25 anos para

homens e mulheres

• 10 anos no

serviço público

• 5 anos no cargo

em que se aposentará

Casos especiais

Professores

• 60 anos a homens

• 57 às mulheres

Policiais civil e

agentes penitenciários:

• 55 anos

• 30 anos contribuindo

• 25 anos no cargo de natureza policial



  • Publicado na edição impressa de 1º/03/2020


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