Publicado em: 10 de novembro de 2023 às 18:55
Atualizado em: 18 de novembro de 2023 às 19:02
Tenho a impressão de que o mundo está à beira de um colapso. A realidade tem apresentado dilemas complexos para a humanidade. Não faz muito tempo, vivemos uma pandemia, que nos colocou frente a frente com a imprevisibilidade da vida e com inúmeras adversidades. Eu tinha esperança de que a humanidade aprenderia algumas lições fundamentais e passasse a desejar uma mudança de rota, que a coloca-se em movimento, numa busca incessante de possibilidades que desenvolvessem relações justas, igualitárias e sustentáveis. Mas não há esperança que sobreviva a realidade caótica do sistema capitalista, a humanidade continua fazendo escolhas ruins e já está condenada a lidar com as consequências de suas atitudes, que priorizam o poder, o dinheiro, o individualismo, a violência e o lucro.
Mesmo reconhecendo meus privilégios e as condições favoráveis que facilitam o desenvolvimento da minha vida nesta sociedade dividida em classes, a realidade me desassossega e os desafios que fogem do meu controle, geram, em mim, uma inquietação e uma ansiedade bastante sintomáticas. E por mais que a vida real tenha me capacitado para atuar em situações difíceis e a profissão tenha me trazido habilidades para cuidar das dores e das desumanidades, nos mais variados níveis, é preciso reconhecer que, em alguns momentos da vida, a nossa capacidade de lidar com o sofrimento se fragiliza, nos fazendo lembrar que somos seres humanos, cheios de defeitos e vulnerabilidades.
Para mim, que lido cotidianamente com o sofrimento das pessoas, é difícil reconhecer as minhas próprias dores e sofrer por elas é quase um sacrilégio. Aos meus olhos, as dores que sinto sempre parecem pequenas, irrelevantes e, na verdade, se comparadas as dores maiores do mundo, elas de fato são; no entanto, grandes ou pequenas, eu as sinto e acolhê-las não pode ser compreendido como um sinal de fraqueza, mas sim, como um ato que legitima o sentimento. Olhar para dentro e encarar nossas próprias fragilidades não é nada fácil, requer virtudes como humildade, sabedoria e amor próprio. Olhar para dentro é um movimento necessário, uma questão de sobrevivência, um ato de resistência e coragem que nos permite sentir os afetos que nos atravessam, sejam eles quais forem, grandes ou pequenos.
Antiella Carrijo Ramos é psicóloga e trabalhadora da Assistência Social em Santa Cruz do Rio Pardo
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