Um amor de dar água na boca

Rita Lee virou trilha sonora em casa nos últimos dias. Lidei com sua partida escutando suas músicas, o que me fez celebrar o privilégio de partilhar o mesmo tempo que ela - uma mulher tão revolucionária, criativa e inovadora. Rita sempre esteve presente, o LP “Lança Perfume” fez parte da infância. Lembro das manhãs de domingo, em que eu colocava o disco da minha mãe para tocar, no três em um que a gente tinha lá em casa na década de 80. Conhecia Rita – a artista, mas não conhecia sua vida, tampouco a história de amor que partilhou com o marido.

Quem assistiu a entrevista do Roberto de Carvalho, para o Fantástico, no domingo passado, teve o privilégio de testemunhar uma história de amor, daquelas de dar água na boca. Rita Lee e Roberto de Carvalho viveram juntos por 47 anos. Desde que se conheceram, começaram uma relação cheia de amor e cumplicidade, na vida e na arte. Roberto de Carvalho, além de seu parceiro de vida, com quem teve três filhos e dois netos, era também o seu grande parceiro artístico, e, com o guitarrista, escreveu canções de sucesso.

Depois da entrevista, fui conhecer um pouco dessa história e entre entrevistas, vídeos antigos e muita declaração de amor, me chamou a atenção uma matéria da CNN, publicada no dia 09/05/2023, que dizia que em 1991, Rita e Roberto resolveram romper a parceria artística, cada um concentrando-se em sua carreira solo, retomando a parceria em 1995, quando Roberto reassumiu as guitarras da banda da mulher. Não consegui comprovar essa história, mas ela me fez pensar que as relações de amor verdadeiro também possuem seus desafios e alguns rompimentos são necessários para o reconhecimento da individualidade do outro.

Refleti muito sobre o amor a partir da história de Rita e Roberto, também reli o livro da bell hooks, onde encontrei algumas respostas: o amor verdadeiro é quando a gente ama a pessoa exatamente como ela é, abre mão do desejo do poder, reconhece, criticamente, as próprias necessidades e desejos, constrói uma base de cuidado, conhecimento e respeito, encara com coragem a realidade e tudo isso está totalmente relacionado ao trabalho. Porque o amor é atividade humana, um ato da vontade que exige esforço. Amar alguém não é apenas um sentimento forte: é uma decisão. Rita e Roberto não tiveram que amar, eles escolheram amar, falaria bell hooks.