Publicado em: 19 de junho de 2021 às 03:38
Atualizado em: 19 de junho de 2021 às 03:44
Acho que foi a primeira vez que me viu depois de passar em frente quase todas as manhãs há mais de um ano exatamente na hora em que chega o jornal do dia. Desta vez me cumprimentou com a cabeça depois do inesperado e inédito desvio de seu olhar em minha direção. Surpreendido, consegui devolver um “bom dia”.
— Por que o senhor ainda assina o jornal? — perguntou em seguida, superando o inusitado cumprimento anterior.
— Para saber as novas. – respondi, ainda surpreso.
— Novas? São sempre as velhas de sempre. Se repetem. Não percebeu ainda? Não mudam. – retrucou, mostrando-se realmente disposto à conversar.
— Sim. Mas eu gosto de conferir se elas realmente não mudaram de um dia para o outro. – provoquei, interessado no que viria a seguir.
— Acho que na verdade você ainda tem a esperança de que elas possam mudar entre um amanhecer e outro.
— Talvez. É sempre bom ter alguma esperança. Faz bem.
— Deveria experimentar a desesperança. A minha me faz bem. Gosto dela. Plena.
— Não consigo. Acreditar que tudo pode mudar para melhor é o meu defeito. Mas também gosto dele. Me faz bem. Pleno. Deveria experimentar.
— Já experimento os meus. São muitos. Consegui eliminar alguns. Mantive só os que sustentam minha alma.
— Agora o senhor disse tudo. A minha esperança é um defeito que sustenta a minha alma.
— Esperança é clichê.
— Acho que esse seu pensamento não te faz bem. Não leva a lugar nenhum e pode trazer consequências graves. Vai acabar ficando doente.
— Tudo traz consequências.
— Sim. Mas tem consequências positivas e negativas, concorda comigo?
— O negativo e o positivo são reavaliados quando estamos doentes.
— A cura será sempre positiva.
— Ou não.
— Sempre haverá cura possível.
— Desde que a morte faça parte sempre haverá.
— Acho que você precisa de ajuda.
— O mundo precisa de ajuda.
— Também.
— O mundo está doente faz tempo.
— A cura virá com o tempo.
— Com ajuda de quem?
— De todos que acreditam na sua cura.
— Voltamos à tola esperança de cada dia.
— Não sei o que seria de nós sem ela. Nos mantém bem.
— Não é bom estar bem sempre. Ouça o que lhe digo.
— Estou ouvindo.
— A sua esperança será maior se você deixar a sua desesperança viver. Acredite. Ouça o que lhe digo.
— Estou ouvindo.
— Ainda vai ler o jornal?
— Claro.
— Não deveria.
— Bom dia.
— Bom dia.
Foi embora. Entrei em casa arrependido de ter correspondido ao seu cumprimento. Poderia ter ficado sem essa. Na verdade, eu não estava a fim de conversar, mas não resisti. Fiquei triste. Mais ainda. Vai passar. Espero. Ou não.
Beto Magnani é ator, escritor e filho do artista Umberto Magnani Netto
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