Publicado em: 09 de outubro de 2021 às 04:10
Na semana seguinte em que elegemos o incapaz (tive que escolher uma só. Desconsiderei a má fé, o dolo, a canalhice, a falta de escrúpulos, o assassino, enfim... isolei a rapa e fiquei só a falta de capacidade, que por incrível que pareça, consegue se sobrepor às sórdidas) que atualmente ainda ocupa o cargo da presidência do Brasil, mais exatamente no domingo seguinte, foi publicada a primeira História do Magú aqui no Debate. De lá para cá milhares de Bonecos morreram enquanto outros viraram pragas. Só os que salvaram e continuam se salvando dia após dias desde a eleição do assassino (resolvi mudar. Claro, nada sobrepõe).
Enfim... como uma última homenagem ao meu desgarrado personagem (continuo sem notícias) que durante todo o período desse fatídico mandato à beira do abismo narrou semanalmente suas histórias neste espaço, trago aqui uma “reprise” (foi o que consegui nesses dias de luto e férias forçada) da primeira publicação: “O Boneco”.
O boneco
Histórias do Magú
Parei pra tomar café. Antes do primeiro gole, ouvi uma voz atrás de mim:
- Me vê um também!
Encostou ao meu lado, abriu um sorriso e emendou:
- Tá triste amigo?
Respondi que não com a cabeça e um sorriso de volta.
- Desanima não. A vida continua, tem que acreditar. É assim que é. Tá em viagem? Finado?
- Não. Vivo. E você?
Ele sorriu novamente.
- Você me lembra o neto do Seu Laércio, dono da fazenda que nasci. Patrão da minha mãe. Saí de lá faz tempo já. – gargalhou – Se tem um homem bom é o seu Laércio. Tomava até café com a gente. Aliás, café igual o da mulher dele eu nunca vi.
Eu não estava exatamente a fim de conversar, mas não resisti.
- Que fazenda?
- Fica longe daqui. E você?
- Eu sou de Santa Cruz do Rio Pardo.
- Então tá a caminho.
- Você conhece Santa Cruz do Rio Pardo?
- Já fiz serviço por lá.
- O que você faz?
- Faço o que precisar.
- Que bom.
- Aqui na região eu trabalhava na estrada.
- Na estrada?
- É, nessa mesma estrada. Antes de parar você não passou por uma obra?
- Ali atrás.
- Sabe o boneco?
- O que segura a bandeira para sinalizar a obra?
- Trabalhei no recapeamento desde o primeiro quilometro.
- Com o boneco?
- Não, o boneco ainda não tinha chegado, tava sendo usado em outra obra. Eu mesmo balançava a bandeira no lugar do boneco.
- Sei.
- Eu balançava e os veículos passavam devagarzinho. Cumprimentava todo mundo. Tem cada um. O boneco não, o boneco fica parado. Mas funciona igual. Se tem vento a bandeira balança. Fica bom.
- E agora?
- Agora eu to de chapa, fico parado aqui no posto. De vez em quando faço serviço pra eles. Substiuo o boneco. Gosto.
Tomei o último gole e apertei a sua mão.
- Boa viagem. Deixa o café por minha conta, de mim eles não cobram.
Agradeci. Acho que só queria cumprimentar mais um. Segui viagem. (Magú)
Beto Magnani é ator, escritor e filho do artista Umberto Magnani Netto
Previsão do tempo para: Terça
Durante a primeira metade do dia Céu nublado com aguaceiros e tempestades com tendência na segunda metade do dia para Períodos nublados com aguaceiros e tempestades
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