O jornalista Helio Fernandes em entrevista a Alberto Dines
Publicado em: 10 de março de 2021 às 19:40
Morreu na madrugada desta quarta-feira, 10 de março, o jornalista Helio Fernandes. Ele tinha 100 anos e foi um dos maiores defensores da liberdade de imprensa no país.
Irmão do humorista Millôr Fernandes, que historicamente publicou charges e tiras ácidas em veículos do País, Helio foi diretor da Tribuna da Imprensa, jornal que comprou em 1962 do ex-deputado Carlos Lacerda.
É verdade que a história de Helio se confunde com a da Tribuna. Mas a vida do jornalista começa, na realidade, na finada revista Cruzeiro, de Assis Chateaubriand.
Helio começou a escrever os primeiros textos para a revista de Chatô aos 13 anos. Nunca mais parou. Seu irmão Millôr também trabalhava para o veículo.
Deixou a Cruzeiro para dirigir o Diário Carioca. Cobriu o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas em 1945 e, até um dia atrás, era o único jornalista vivo que participou da Assembleia Constituinte de 1946. Na mesma época conheceu Carlos Lacerda.
Foi assessor de campanha do candidato Juscelino Kubitschek. Elegeu JK e, depois, voltou ao jornalismo – mas como oposição, bem ao seu estilo combativo.
Em 1961, a Tribuna da Imprensa foi comprada pelo genro da condessa Pereira Carneiro, dona do à época gigante Jornal do Brasil. Um ano depois, sucumbiu às enormes dívidas e se viu ameaçada de fechar.
Coube ao jornalista Helio Fernandes dirigi-lo. Pagou nada, mas assumiu todas as dívidas.
A Tribuna foi o jornal que mais sofreu com o Ato Institucional 5, o AI-5, promulgado em 1968 pela ditadura militar. Contou com a presença de um censor dentro de sua redação durante 10 anos e 2 dias.
Ao todo, o jornal foi vítima de mais de 20 apreensões. Fernandes chegou a ser preso e detido 37 vezes.
O jornalista foi expurgado do Rio de Janeiro à força, a mando dos generais da ditadura, e enviado para o arquipélago de Fernando de Noronha em 1967.
Segundo narra o documentário “Confinado”, que homenageou o centenário do jornalista, o motivo do envio de Helio à ilha foi um artigo intitulado “A humanidade perde pouca coisa com a morte do general Humberto Castelo Branco [morto num acidente aéreo]”.
O local – Fernando de Noronha – foi designado pelo general Jarbas Passarinho. O próprio Passarinho revelou que enviou Helio ao arquipélago por acreditar que ninguém mataria o jornalista a 2.400 quilômetros da capital fluminense. Nos quartéis, corria a hipótese de assassinar Fernandes.
No início da década de 1980, dias antes do ataque Riocentro, a sede do jornal Tribuna da Imprensa e a residência de Helio Fernandes foram bombardeadas. No dia seguinte, porém, as bancas receberam os exemplares da Tribuna.
Causou reviravolta a frase do general Hugo Abreu. Certa vez, questionado sobre a censura à Tribuna, Abreu disse que a medida aconteceu porque “u não consegui falar nunca com o jornalista Hélio Fernandes. Eu telefonava e ele mandava dizer que não estava. Uma vez eu telefonei e ele mandou um recado perguntando se eu podia telefonar dentro de cinco anos”.
Helio Fernandes processou a União pelos danos que sofreu na ditadura e ganhou. Mas nunca recebeu a indenização – que gira em torno de R$ 10 milhões. Queria usar o dinheiro para sanar as dívidas da Tribuna, cuja circulação foi interrompida em 2008. “Assim que pudermos comprar papel e tinta, voltaremos com o jornal”, disse, esperançoso de que a Justiça um dia lhe desse as mãos.
Jornalista, fala sobre história, cultura e imprensa
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