Enzo Pellegrino

A arte do encontro

Coluna de Enzo Pellegrino Pedro

A arte do encontro

Publicado em: 26 de novembro de 2022 às 12:13

Em 17 de julho de 2010, os beagles Pacheco e Buba presenciaram seus pequenos filhotes vindo ao mundo, todos com suas intermináveis orelhas e aquela carinha de “me leva pra casa”.

Um deles, meses depois, chamou atenção de um jovem rapaz e teve seu olhar de piedade atendido para ganhar um novo lar, na Rua Fernando César Júnior, n. 80, onde deu início à sua incrível saga de farejador.

Ainda muito pequeno, farejou, farejou, farejou… até descobrir suas comidas prediletas e decorar, com precisão cirúrgica, os limites de um quintal que jamais o limitaria, mas que garantiria sua segurança, conforto nos dias de chuva e a certeza de um lugar para retornar.

Farejou, farejou, farejou… até perceber que suas patas estavam maiores, que seus amigos humanos já não acompanhavam mais a velocidade de seus passos e que sua língua alcançava o incrível tamanho das orelhas, prontas para ouvir o barulho das panelas mas ainda sem qualquer aptidão para assimilar broncas e repreensões.

Farejou, farejou, farejou… e pela trilha do seu faro descobriu sorveterias, bancos, bares, escolas, estradas, escritórios e até festas de rodeio, fazendo amigos e admiradores por onde quer que se aventurasse, mas sempre retornando ao limitado quintal para descansar até a próxima jornada.

Farejou, farejou, farejou… criando alegrias e conhecendo tristezas que não eram suas, mas que fazia questão de ajudar a carregar, tornando-as sempre incrivelmente mais leves ao impregnar o azedume com doses cavalares de doçura.

Farejou, farejou, farejou… e viu amigos muito especiais partirem, outros surgirem e ainda outros, insistentes, permanecerem, principalmente quando necessária alguma intervenção para recarregar as baterias e colocar suas engrenagens no lugar.

Farejou, farejou, farejou… sem medo de ser feliz e certo de que a tristeza jamais seria um problema, pois passageira e merecedora de respeito enquanto acompanhasse sua viagem — uma amiga nada engraçada, porém especialista nos mais complexos ensinamentos.

Farejou, farejou, farejou… sentindo o corpo já fraco, debilitado e cheio de dores, teimoso como ele próprio ao não obedecer os comandos do cérebro, roubando-lhe o prazer de comer seu frango e de escapar sem hora para voltar.

Farejou, farejou, farejou… até se deparar com uma grande porta aberta e repleta de luz, de onde vinha um cheiro gostoso de comida fresca, fazendo-o entrar sem pensar muito para cair num belo campo verdejante, onde recuperou sua plena saúde e o faro aguçado da juventude.

Farejou, farejou, farejou… e em seu novo caminho passou por aqueles que há tempos não via em seu quintal, mas que nunca deixaram seu coração. Ouviu suas vozes repletas de ternura e retribuiu com lambidas o carinho recebido, mas não podia ficar ali, tinha uma missão a cumprir.

Farejou, farejou, farejou… reencontrando diversas vezes esses mesmos humanos e cachorros que conhecia pelo cheiro, sem pestanejar. Caminhou por anos a fio, sempre com o nariz colado ao solo, as patinhas ligeiras e o rabo, espetado como uma antena, a indicar foco absoluto em seu objetivo — que todos à sua volta desconheciam e já estavam intrigados para entender.

Farejou, farejou, farejou… e farejou por muitos anos sem parar, até que, no ano de 2084, uma corrente de ar trouxe ao seu olfato um cheiro inconfundível, o cheiro que procurava desde que cruzara aquela bendita porta. Já não precisava mais da busca, então trocou a atenção pela corrida, substituiu o silêncio por latidos roucos, levantou a cara do chão e saiu em disparada para encontrar quem também corria em sua direção, ainda que tivesse acabado de chegar.

 

* Texto em homenagem ao meu melhor amigo e grande companheiro Ronaldo, pastor beagle que faleceu em 09/11/2022 e deixou saudades imensuráveis. Um agradecimento especial ao também grande amigo e veterinário Guilherme Zaia, que cuidou dele desde filhote e possibilitou que vivêssemos (até o último suspiro) essa linda história, que não termina aqui.


Enzo Pellegrino

Enzo Pellegrino

Enzo é advogado em Santa Cruz do Rio Pardo


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