Enzo Pellegrino

Medo da morte

Coluna de Enzo Pellegrino Pedro

Medo da morte

Publicado em: 09 de dezembro de 2023 às 22:18

* Aviso importante: o texto fala sobre
a morte. Não o leia se estiver passando
por um momento delicado ou se
entender, de alguma forma, que a
leitura pode te fazer qualquer mal.

 

Cavalos, macacos, cachorros, seres humanos, insetos, plantas e todos os outros seres vivos têm algo em comum para além da beleza que cada um deles manifesta em sua simples existência: todos apresentam, do primeiro ao derradeiro momento, instintos naturais de preservação da vida. Em outras palavras, nascemos já com o objetivo natural de evitar a morte.

Até aí tudo bem, tem mesmo que ser assim para aproveitarmos a dádiva de estarmos vivos, só que para nós, humanos, esse instinto parece se tornar um peso que aniquila possibilidades de gozo, evitando que se viva em sua plenitude.

Somos (fomos, na verdade) costumamos tratar a morte como enorme tabu, o que nos fez crescer acostumados a sentir um certo pânico só de ouvimos essa palavra. Inseridos na cultura ocidental isso é ainda pior, pois ela leva ao extremo a pregação de que nada é mais importe que estarmos vivos a todo custo, proclamando essa mensagem em quase todos os filmes, livros, contos e até mesmo religiões.

Será mesmo que essa é uma abordagem saudável?

A forma como tratamos vida e morte foi abordada por diversos filósofos e ganhou notoriedade recente nas obras do sul-coreano Byung-Chul Han, que trata do tema também de forma indireta ao expor suas ideias a respeito da histeria ocidental pela manutenção da saúde a todo custo — nesse ponto sequer consigo discordar, já que é normal escutar por ai que “saúde é o que importa”, “saúde e paz, o resto a gente corre atrás”.

A pandemia do coronavírus também incrementou a discussão sobre as prioridades do ser humano e deu palco aos mais diversos surtos coletivos, entre eles sobre essa ideia de temeridade máxima da morte. Claro que todos deveriam ser responsáveis por evitar a disseminação do vírus a fim de proteger a coletividade, mas o julgamento individual direcionado ao “desrespeito do cidadão com a própria vida” também sempre esteve presente, como se fosse impossível que qualquer pessoa tivesse como prioridade algo além de manter-se vivo e saudável.

Em sentido mais amplo, essa necessidade imposta de estar a todo custo saudável e de temer a morte a todo instante faz com que não nos preparemos para duas coisas inevitáveis da vida: o adoecimento e a morte. Podemos tentar prolongar o máximo possível, mas todos nós, ao nascer, já temos o destino traçado com o subsequente crescimento, adoecimento e morte (podendo pular diretamente para esse último estágio, infelizmente).

Isso também dificulta que aprendamos a lidar com o adoecimento e morte daqueles que amamos. Nosso apego às pessoas e a associação frequente entre morte e sofrimento nos deixa vulneráveis e completamente despreparados para enfrentar momentos difíceis, tornando-os praticamente insuportáveis.

Não digo que são coisas fáceis de lidar, que não é sofrido pra caramba perder um ente querido ou lutar contra uma enfermidade grave (na prática a coisa é realmente desgastante), mas já seria difícil de qualquer maneira… Precisávamos realmente embutir doses cavalares de sofrimento e desespero para tornar essas fases ainda mais pesadas?

Admiro a forma como culturas orientais tratam o tema, apontando à morte como algo natural e a se evitar, claro, mas por respeito à vida e não por pânico. Quando chegar o momento, chegou, não adianta entrar em histeria. Até as orações podem ser com gratidão pela vida e para que não tenhamos medo, para que Deus nos dê força, coragem para enfrentar a caminhada, e não para que ela simplesmente desapareça e as coisas voltem a ser fáceis.

Penso que não somos devidamente preparados para lidar com a morte e, por isso, quando ela ameaça dar as caras, o assunto nos mata em vida. Disse Michel de Montaigne: “quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver!”


Enzo Pellegrino

Enzo Pellegrino

Enzo é advogado em Santa Cruz do Rio Pardo


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