Enzo Pellegrino

Siga o fluxo

Coluna de Enzo Pellegrino Pedro

Siga o fluxo

Publicado em: 15 de setembro de 2023 às 00:51

Mário Heleno chegou em casa esgotado do trabalho. Tudo o que queria era encostar em seu sofá, abrir uma lata de cerveja, esticar as pernas e assistir a qualquer jogo de futebol que estivesse passando na televisão. Só havia um pequeno detalhe a impedir o sonho de relaxamento: seu filho João Miguel, de 8 anos de idade e sedento por migalhas de atenção do pai.

Foram algumas tentativas da criança em prender sua atenção, porém a última delas foi recebida com extremo mau humor. Com um estridente grito de “chega!”, calou o pequeno João e o fez desistir de qualquer nova investida.

O garoto, entristecido, saiu pelas ruas contando árvores e pisando com cuidado para evitar cores escuras nas calçadas, até se deparar com um filhote de cachorro correndo em direção à rua. Sem pensar, avançou até ele, pegou-o no colo e devolveu-o à aflita dona, uma garota aproximadamente de sua idade que já chorava alto, temendo o pior.

Um sorriso bastou como agradecimento e ela voltou aliviada para o carro da família, mas no trajeto foi interrompida com um morador de rua que feria seu orgulho em busca de alimento. Feliz com o animalzinho a tiracolo, botou a mão no bolso da calça e deu-lhe todas as moedas que tinha.

O homem passava por ali todos os dias enquanto batalhava por sua vida contra dois adversários terríveis, a dependência química e a fome. As moedas graúdas que recebeu dariam para amansar momentaneamente as duas feras, só que outro homem passou por ele em situação semelhante e não pestanejou antes de oferecer-lhe algum vintém. Com isso, precisaria pedir um pouco mais de dinheiro a desconhecidos, porém garantiu uma pequena conquista também ao colega de rua, que comeu seu pão na chapa e tomou seu pingado antes de uma senhora a atravessar a rua de uma esquina perigosa, já com duas ou três pessoas a fitar sua bolsa.

Agradecida e aliviada (pensou que o homem iria pedir algo enquanto só queria ajudá-la), encontrou sua filha, que a esperava em uma loja, e contou-lhe o acontecido, gerando nela a mesma surpresa positiva que sentira minutos antes. Ficaram ambas tão leves que decidiram fazer uma visita surpresa a uma amiga antiga de sua família, também de idade avançada, há tempos um pouco adoecida e que cobrava visitas por ter dificuldades para sair de casa.

O trajeto era longo e acabaram se demorando na visita, para felicidade da anfitriã, que não se lembrava da última vez que recebera convidados assim, de surpresa. Foram necessárias algumas horas para colocar o papo em dia e somente quando ficou novamente sozinha conseguiu perceber o tamanho da própria alegria. Pegou então o telefone e ligou para contar ao filho único, Mário Heleno, sobre os convidados e a respeito de algumas fofocas novas.

Logo ao atender ele já notou, abismado, a felicidade que inundava a voz de sua mãe. Nem parecia a mesma senhora debilitada e desanimada que visitara no dia anterior. Demorou-se na ligação e, quando desligou o telefone, no breve instante de ligar a televisão, ouviu a explosão do vidro da janela de um dos quartos. A bola escapou pela porta entreaberta e chegou aos seus pés ao mesmo tempo que o pequeno João Miguel, vindo do quintal já com aquela cara de criança que fez coisa errada, numa mescla de tristeza, constrangimento e medo.

O pai fechou a porta do quarto, pegou a bola com uma das mãos, dirigiu-se até o pequeno e, com a outra mão, acariciou sua cabeça: “vamos jogar?”


Enzo Pellegrino

Enzo Pellegrino

Enzo é advogado em Santa Cruz do Rio Pardo


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