Sinopse da injustiça

Somos todos seres humanos e, como tal, alimentamo-nos de nossa própria complexidade antes mesmo de iniciado o doce período de aleitamento materno.

Dito isso, mesmo sabendo que nem tudo é “preto no branco”, insistimos em resumir as pessoas a fatos ou impressões, desqualificando todo o oceano de outras coisas que não conhecemos. Fulano é “gay”, e nada mais importa; “traiu o marido” e isso basta para definir um caráter e toda uma trajetória de vida; “esse é drogado”, e pronto, está-se diante de um ser abominável, absolutamente desqualificado.

Não sou psicólogo ou filósofo para tentar explicar as razões desse comportamento (que é, em diferentes níveis, de todos nós), mas tenho aqui meus palpites. Talvez seja uma ânsia incontrolável em tentar simplificar a vida, ou então a força de um hábito enraizado na sociedade. Pode ser, também, um pouco de mau-caratismo ou mesmo de falta de o que fazer… Quem sabe?

O que é certo é a existência dessa etiqueta que insistimos em colar na testa das pessoas para julgá-las de acordo com nossas próprias ideias, sem nunca medir as consequências diretas ou indiretas que isso pode causar na vítima.

Isso aparece de forma ainda mais intensa quando alguém morre. É só chegar a notícia e surge o momento favorito da taxação. “Ah mas esse bebia demais”, “esse ai usou tanta droga que ia morrer mesmo”, “comendo daquele jeito, óbvio que ia morrer”, “morreu porque não se cuidava” e tantas outras baboseiras é o que mais escutamos e o que mais dizemos, naquela mesma tentativa que citei anteriormente de tentar simplificar coisas que nem sempre são tão simples — ou nada simples.

Por trás de erros públicos, muitas vezes reside um espírito corajoso, generoso e cheio de compaixão que carregou a pessoa por décadas diante de incontáveis adversidades. Milhares de momentos felizes até descambar num momento infeliz, como acontece para todos, sem exceção.

Se for para resumir alguém cuja biografia não lemos, por que tem que ser sempre de forma pejorativa?