Franco Catalano

As mais belas casas de Santa Cruz do Rio Pardo

Coluna de Franco Catalano

As mais belas casas de Santa Cruz do Rio Pardo

Publicado em: 02 de setembro de 2023 às 01:01

Residência Enid e

José Eduardo Catalano

 

Como prometi há algumas semanas, inicio hoje uma série de artigos sobre aquelas que considero serem as mais belas casas de Santa Cruz do Rio Pardo. Casas projetadas e construídas, em geral, na era pré-computador. Casas saídas das pranchetas de talentosos arquitetos e das mãos de habilidosos construtores. Casas do século passado que carregam em si mais adjetivos que os caixotes que hoje tomam conta da cidade e do país. Casas de uma época de terrenos mais generosos, de uma vida mais pacata e de mentes mais evoluídas.

Para esta sequência, que contará histórias de pelo menos cinco residências que saltam aos meus olhos e povoam minhas fantasias arquitetônicas desde menino, elaborei um roteiro com quinze perguntas objetivas e abstratas, que somadas a entrevistas feitas ao vivo ou por telefone dão vida a um conteúdo recheado de fatos históricos, curiosidades e memórias afetivas de seus moradores.

A primeira residência, por um feliz acaso, completa em 2023 cinquenta anos de existência. Localizada na esquina da Rua Benjamin Constant com a Avenida Doutor Cyro Mello Camarinha, ocupa um dos endereços mais nobres da cidade. Aliás, é na Rua Benjamin Constant em que se concentram as melhores e mais bem desenhadas casas da cidade. A quinquagenária construção pertence hoje ao casal Enid e José Eduardo Catalano, mas foram os pais de Enid quem a construíram.

Maria de Lourdes e João Narciso Gonçalves iniciaram o projeto da casa em 1971, data confirmada pelas plantas que Enid guarda até hoje. A construção ocorreu durante o ano de 1972, conforme os recibos dos materiais de construção e acabamentos, também guardados até hoje. E, finalmente, a inauguração ocorreu em 1973, informação afirmada e reafirmada pelo eletricista Dirceu, quem realizou todas as instalações elétricas durante as obras e que atende até hoje os chamados de manutenção da família.

João Narciso e Quintílio Rosso, que mantinham grande amizade, adquiriam simultaneamente da família Pinheiro os terrenos para a construção de suas respectivas residências, tendo o primeiro escolhido em comum acordo o belo lote de esquina, cuja lateral ocupa uma das duas únicas ruas santa-cruzenses no estilo “boulevard” arborizado. Edméa, irmã de Enid, que namorava Fernando Queiroz, um decorador residente da capital paulista, tratou de convencer seus pais a encargar o projeto a seu namorado, que juntamente a seu tio, um arquiteto paulistano de nome Ari, projetaram a casa de estilo modernista e mediterrâneo que se mantém atual até os dias de hoje.

 

 

João Narciso e Quintílio dividiram, além da amizade e do endereço, o mesmo construtor para suas casas. Guido Salomão foi responsável por tirar do papel os desenhos que vieram de São Paulo. O construtor, filho de italianos, era disputadíssimo na época, sendo responsável, segundo reportagem de 2019 do Jornal Debate, pelas obras do Icaiçara Clube, do Grande Hotel e das residências das famílias mais abastadas e de melhor gosto da cidade, como Aquino Rosso, Tião Yoneda, Paulo Corazza, Noêmia e Ângelo Aloe.

 

 

Quando seus pais faleceram, a casa foi colocada à venda. E assim ficou por anos. Enid, que morava a uma quadra de distância, em um dia de epifania e percebeu que a demora na venda significava que a casa deveria ser sua. Em suas palavras, era a perfeita “casa de vó”. E faz jus a este título: a residência recebe as festas familiares e por anos se destacou como a mais bem decorada na época de Natal, sobretudo pelo pinheiro de quase 15 metros que “rasga” a laje do jardim e enchia-se de pisca-piscas e papais-noéis nos meses de novembro e dezembro.

Do projeto original, pouco mudou: em meados dos anos 1990, Enid e José Eduardo confiaram a Maritê Baggio algumas ampliações e a instalação de uma piscina. Mais recentemente, durante a pandemia do Covid, após uma tentativa de furto, foi necessário reforçar a segurança com um gradil de ferro, que agora começa a ser preenchido por uma alegre primavera.

Quando perguntada se faria algo de diferente, Enid disse que não, reforçando que se orgulha da visão considerada futurista que seu pai teve à época. Inclusive, por este motivo, busca mantê-lo o mais próximo possível de sua forma original, desde as fachadas puristas brancas aos elementos decorativos, como pisos de ardósia, cerâmicas coloridas e correntes delimitando jardins e garagem, novidades que ditaram moda pelo pioneirismo na região.


Franco Catalano

Franco Catalano

Arquiteto, é santa-cruzense e estudou História da Arte em Madrid


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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