As mais belas casas de Santa Cruz do Rio Pardo - 3

Residência Delourdes e Calil Ali

A terceira casa da série sobre as joias da Joia da Sorocabana é a primeira que não ocupa um lote de esquina. É também a primeira localizada na icônica Avenida Tiradentes, endereço de muitas das maiores e melhores casas santa-cruzenses, embora o caráter residencial esteja sendo substituído há alguns anos por clínicas e comércios. Apesar destas diferenças em relação às duas casas sobre as quais escrevi anteriormente, guarda semelhanças com elas, sobretudo com a do casal Gonçalves-Catalano.

Em uma entrevista realizada no final da manhã de um sábado, o casal Delourdes Andrade e Calil Ali gentilmente respondeu às mesmas 15 perguntas do roteiro que formulei no início da série. Também compartilharam memórias, histórias e curiosidades que giram em torno da casa que construíram para si em meados de 1980.

A proprietária, graduada em Belas Artes na cidade de Campinas, não esconde seu bom gosto. Graças a ele e a sua persistência, após um longo período buscando o arquiteto e projeto ideais, e visitando grandes cidades como São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Londrina, encontrou em Bauru o responsável por colocar no papel a casa de seus sonhos. Andava com uma câmera com a qual fotografava casas que lhe agradavam para servir de inspiração e se apaixonou pelo estilo mediterrâneo-modernista do arquiteto de nome Bernard. Natural da França e falecido há muitos anos, foi inclusive autor do projeto da casa cuiabana do Governador do Estado de Mato Grosso, conta orgulhosa.

O generoso lote de 1000m² que é ocupado pela casa pertencia à família Andrade e teve as partes dos outros herdeiros adquiridas pelo casal, que antes disso residia poucos metros ao lado, onde hoje é o consultório da filha do meio, Dra. Elaine Ali. A arquitetura, aparentemente simples, dispõe harmonicamente três volumes em alturas distintas que abrigam, respectivamente, o bloco da garagem, o bloco das salas e o bloco dos dormitórios. Livre de muros ou grades, os veículos acessam lateralmente sua área de estacionamento, que assim como nas duas casas dos artigos anteriores, não é fechado por um portão, mas sim por elegantes correntes de ferro. A planta em “U” forma um pátio com piscina de azulejos claros que é ladeado por varandas e para o qual se abrem todas as suítes.

Exigentes nos acabamentos e na mão-de-obra, o casal conta que a obra demorou mais que o previsto justamente pela dificuldade em encontrá-los na cidade. Os paralelepípedos que compõem o calçamento, acesso e abrigo de automóveis vieram de Piraju, assim como o assoalho de mogno e o forro de peroba. A ardósia verde que reveste as várias salas e varandas veio de Santa Catarina. As portas, janelas e móveis vieram de Jaú, por indicação do arquiteto que lá residia.

Apaixonada pela residência que construiu com tanto esmero, Delourdes conta que não fez – ou faria – nenhuma modificação no projeto original. Ao longo dos quase 40 anos em que vivem lá, a casa apenas recebeu manutenções esporádicas, ressaltando que, apesar de grande (são 700m²), é fácil de ser mantida. A construção, sólida, cujas paredes não são de tijolos e sim de concreto maciço, não apresenta uma rachadura sequer.

Com um layout integrado e propício para celebrações, já recebeu diversas festas de aniversário, bodas, réveillons e em dezembro reúne a família toda, com filhas, genros, netos e bisnetos, para celebrar o Natal. Para encerrar, pergunto como imaginam a casa daqui a 30 anos. O assunto, delicado para eles, não fica sem resposta. O casal de bon vivants sente falta de bons bistrôs e lojas de roupas finas na cidade e ficaria feliz em ver a residência da família convertida em um hotel boutique ou restaurante. Espaço não faltaria.