Franco Catalano

Começando com o pé... direito?

Coluna de Franco Catalano

Começando com o pé... direito?

Publicado em: 17 de janeiro de 2023 às 14:52

Inicialmente, há quase três anos, quando o André Fleury Moraes me convidou para assinar esta coluna, ela se dedicaria a um assunto inerente à minha profissão e aos meus estudos: arte. Mas o que ninguém esperava ou imaginava aconteceu, em meados de março daquele mesmo 2020. Com a chegada do vírus que colocou o mundo em quarentena, inevitavelmente acabei me desvirtuando do tema, enviesando para um conteúdo crítico ao governo que deu o azar de estar no comando durante um dos períodos mais difíceis que passaríamos. Muitas mortes. Muita má gestão. Muito descaso com a arte.

Com a mudança da minha contribuição semanal para quinzenal com o Debate, é apenas hoje que escrevo neste que seria um auspicioso 2023. Começamos bem: em 1º de janeiro uma lindíssima e emocionante cerimônia de posse presidencial aconteceu em Brasília. Pela primeira vez na nossa história, a faixa, um dos símbolos do Poder Executivo Nacional, foi passada não pelo antecessor (que neste caso fugiu do país, antecipando os eventos que viriam a suceder), mas sim por um coletivo das mais variadas e representativas camadas da sociedade brasileira. Homens, mulheres, povos originários, pessoas negras, pessoas pobres, pessoas com deficiência. Um retrato do nosso Brasil. Lindo, porém desigual. E aqueles que por tantos séculos estiveram às margens da sociedade foram homenageados com uma honraria inédita.

Da mesma maneira, me emocionei ao ver o retrato de um país diverso novamente representado (como nunca antes, mas ainda com espaço para melhora) nos chefes dos ministérios criados, recriados ou reformulados por Lula. A foto oficial fala por si: são 11 mulheres, um recorde! Entre elas, uma líder indígena, mulheres negras e periféricas, militantes do meio-ambiente e da luta por igualdade de gênero e raça. Também, entre os ministros, 30% se autodeclaram negros. Outro número recorde em nossa jovem democracia.

Gostaria mundo de destrinchar os detalhes da cerimônia, onde tudo foi minimamente pensado, desde a escolhas das roupas aos artistas convidados. Mas, graças a uma “minoria barulhenta” que agiu covarde e criminosamente na tarde do último domingo, sinto-me obrigado a voltar ao tema original desta coluna, que foi tão violentamente profanado naquele fatídico dia 8: arte.

Nada mais simbólico daquele que foi o pior governo da nossa história que os eventos que tomaram Brasília. O saldo, como todos já sabemos, foi uma tela de Di Cavalcanti esfaqueada; esculturas de Bruno Giorgi e de Frans Krajcberg destruídas; “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, pichada; além de diversas obras que desapareceram na invasão.

E, na semana que sucedeu estes eventos macabros, apesar de toda a comoção pública em torno da vandalização sem precedentes, mais uma notícia digna de pesadelos para quem sonha com um país onde a arte tenha cada vez mais – e não menos – espaço. A Secretaria de Educação do Paraná anunciou o fim das aulas de artes na Rede Pública do Estado, substituindo-as por uma disciplina chamada “Pensamento Computacional”, não bastasse o tempo que passamos imersos no universo digital. Além do efeito prático, que inclui a redução da visão global crítica, a falta de estímulo criativo e da correlação da história da humanidade com a história da arte, o efeito simbólico é gigante. Faz parecer que o plano dos governos que privilegiam o capital sobre o social é tornar nossas crianças cada vez mais alienadas, afastando-as das artes e, como consequência final, abrindo espaço para agressões como as do dia 8, que apenas pessoas ignorantes seriam capazes de cometer.


Franco Catalano

Franco Catalano

Arquiteto, é santa-cruzense e estudou História da Arte em Madrid


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