Franco Catalano

Overdose de mesmice

Imaginem vocês que 115 mil pessoas se despencaram de suas rotinas para se atualizar

Publicado em: 24 de setembro de 2022 às 01:58

Me lembro da primeira Casa Cor que visitei, 10 anos atrás, quando ainda era estudante. Foi em um tempo em que os smartphones eram novidade e o Instagram ainda engatinhava. Para se ter acesso a referências de projetos dos mais renomados escritórios de arquitetura e decoração do país era preciso comprar revistas (sim, de papel e tinta!) ou viajar em busca de mostras de decoração e interiores. E qualquer edição das mostras ou das revistas eram de tirar o fôlego. Tudo tinha um ar de frescor, de novidade, de inusitado e de exclusivo.

Com o “boom” das redes sociais e sua desvirtuação do intuito original de interagir com amigos, que acabaram tornando-se mais uma plataforma de negócios e publicidade que qualquer outra coisa, as novidades perderam seu sabor. A Casa Cor de 2022, a primeira realizada no Conjunto Nacional (edifício modernista de 1955), quebrou a tradição de anos de ser sediada no gigantesco Jockey Club paulistano. Ao se inserir numa das avenidas mais importantes e movimentadas do país, a Paulista, acabou gerando novo interesse em mim, em colegas arquitetos de todos os cantos e, por osmose, dos transeuntes da pulsante avenida.

Em uma viagem decidida às pressas, na última semana do evento, fui conferir de perto a mostra, que começou pequena, mas acabou adquirida pela Editora Abril e virou franquia em mais de 20 cidades diferentes (nacionais e internacionais). Os quase 60 ambientes, repetitivos e monótonos, foram uma decepção. Após dois anos de um jejum pandêmico, imaginei que os arquitetos teriam mais apetite criativo. Como um crítico ácido pontuou: o sofá em formato de banana e tecido que parece pele de carneiro estava presente na maioria absoluta dos projetos. E não só sofás e tecidos foram replicados aos montes. A paleta de cores, os objetos de decoração, até as molduras dos quadros pareciam uma produção em série!

Imaginem vocês que 115 mil pessoas se despencaram de suas rotinas para se atualizarem nas tendências e novidades, percorreram por horas os quase 10 mil metros quadrados do espaço para, no final do percurso, perceberem que visitando apenas um ambiente, estariam visitando todos. Ok, estou sendo um pouco exagerado. Houve algumas poucas e boas exceções, mas que acabaram tornando-se menos potentes graças aos vizinhos preguiçosos.

De qualquer maneira, me questiono sobre o futuro de eventos deste tipo. Explorada ao máximo pelos detentores de seus direitos, a fortíssima marca que a Casa Cor se tornou parece visar o lucro acima de qualquer aspecto. Sem uma curadoria efetiva e com a facilidade (demasiada e exaustiva) que as redes sociais e ferramentas de realidade virtual trouxeram, não me surpreenderia se em alguns anos todas essas exibições fosse migradas para o mundo online, ou – usando a palavra da moda – para o metaverso.


Franco Catalano

Franco Catalano

Arquiteto, é santa-cruzense e estudou História da Arte em Madrid


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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