Franco Catalano

Pesos e medidas

Coluna de Franco Catalano

Pesos e medidas

Publicado em: 13 de fevereiro de 2023 às 18:52

Um pôster desbotado pela ação do tempo decorava uma das paredes da Farmácia Drogalar no final dos anos 90, início dos 2000, antes da reforma que removeu os tradicionais armários de madeira maciça em nome da modernização. Era uma reprodução de uma das famosas “gordas” do colombiano nonagenário Fernando Botero. E a parede em que a gravura se encontrava não era uma parede qualquer: estava justamente em frente à balança, ao lado da entrada, na esquina das ruas Marechal Bitencourt e Euclides da Cunha. Algo que seria muito malvisto hoje em dia, graças ao politicamente correto (amém!). O cliente, ou transeunte oportunista, que fosse aferir seu peso, o fazia encarando o medo da obesidade face a face.

Botero, apesar do sucesso comercial, sempre encontrou dificuldades em ser bem digerido pela crítica tradicional, que, via de regra, vê com maus olhos a arte popular latino-americana. Chamado de kitsch e apelativo, o artista deu inúmeras entrevistas em que negava retratar ou ter qualquer tipo de fixação por mulheres obesas, afirmando que sua arte, na verdade, explorava formas e volumes. Essa exploração, de fato, não se limitou apenas à representação do feminino, mas também pode ser observada nas representações do masculino, de animais, de naturezas mortas e em suas famosas releituras de telas de pintores consagrados, como a Da Vinci, Van Eyck ou Velázquez.

A questão do sobrepeso nos corpos femininos e como a sociedade os enxerga – belos ou feios – variou muito ao longo da história. As formas “volumosas”, como as representadas na pintura de Botero, eram o ideal de beleza durante o renascimento. Na época de ouro de Hollywood, os corpos com mais curvas (leia-se bunda e seios fartos e uma cintura fininha) eram o ápice do sex appeal. Até mesmo em achados pré-históricos, cujo exemplo mais conhecido é o da Vênus de Willendorf (esculpida há 30 mil anos), formas gordas representavam a mulher ideal: fértil e saudável, com estoque de energia para sua prole.

Os frutos da gordofobia que vemos hoje são resquícios da magreza excessiva das supermodelos dos anos 1990, período em que corpos esbeltos e desnutridos foram endeusados pela mídia. Com os movimentos de body positivity (positividade dos corpos) ganhando mais e mais espaço em campanhas publicitárias em todo o mundo, ainda há muito o que se discutir. Sobretudo na era do retoque através de Photoshop e filtros mágicos do Instagram, ser “fora do padrão” é um verdadeiro posicionamento político e não é para amadores.


Franco Catalano

Franco Catalano

Arquiteto, é santa-cruzense e estudou História da Arte em Madrid


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