Raízes

Os seis filhos da matriarca da família, Lourdes, nasceram na Santa Cruz dos anos 30 e 40. Alberto, João, Jaime e as três Marias (Helena, Angela e Aparecida) sempre viveram entre interior e capital, fosse no auge da fortuna de seu pai, com fazendas no velho oeste e um casarão na Avenida Europa, fosse em épocas de vacas magras, sem as terras e dividindo apartamento estilo república durante os estudos universitários. De qualquer maneira, seus corações sempre foram santa-cruzenses e paulistanos. Com o passar dos anos, uns se mudaram definitivamente para a metrópole, onde formaram família e prosperaram, enquanto outros fizeram o mesmo na terrinha.

Os meninos, Bertinho, Jota e Jaiminho, todos acabaram se divorciando. As meninas, Nena, Angela e, mais recentemente, Cida, todas acabaram enviuvando. Com as viuvezes, divórcios e efeitos inevitáveis do deus tempo, cinco dos seis acabaram por voltar às raízes. Um a um foram regressando à cidade de suas infâncias, em busca de uma vida mais pacata, mais próxima às memórias afetivas e junto dos irmãos, que apesar das cabeças duras, seguem muito unidos.

Nós, nascidos, criados ou adotados pela pequena grande Santa Cruz, temos a tendência de colocá-la em um pedestal. Eu faço isso de forma natural e inconsciente e percebo que as gerações anteriores fazem exatamente o mesmo. E não noto o mesmo comportamento em meus amigos ou minha esposa, também nascidos em munícipios do interior paulista. O que explica esta espécie de gravidade, que faz com que sejamos atraídos de volta à cidade? Uma cidade que não tem absolutamente nada de especial e, ao mesmo tempo, é tão especial assim. Não sei se é o ar puro, as águas do Pardo ou algum elemento invisível que está fixado nas profundezas de nosso DNA. O que sei, ainda que me faltem muitas décadas, é que como muitas Marias, Joãos, Anas e Paulos, enxergo esta cidade abençoada com um refúgio repleto de boas lembranças.