Sem pressa

Por causa do trabalho com reforma de edifícios antigos, e agora também com a bucha que assumi de conselheiro no meu próprio edifício, frequento muitas reuniões de condomínio. Entre uma alfinetada e outra desferidas pelos moradores, observo com curiosidade as diferenças e semelhanças entre eles. Invariavelmente, há os moradores de longa data, alguns dos quais habitam o prédio desde sua inauguração, e há os jovens que acabaram de se mudar.

Numa das últimas assembleias que tive o prazer de presenciar, a audiência era bem simétrica: cerca de 10 jovens (entre 30 e 40 anos) e 10 senhoras e senhores (acima dos 70 anos). E, para esfregar na minha cara a ironia da vida, ao contrário do que eu poderia imaginar, entre a dificuldade de locomoção, entre mãos e vozes trêmulas e entre as falhas de memória da população mais sênior, quem causou incômodo e empacou o andar a reunião foi um membro da ala “jovem”. Visivelmente ansioso para que aquilo terminasse o quanto antes, atrapalhou-se com a lista de presença (auditada, com a presença do contador responsável pelos documentos do condomínio e que seria posteriormente registrada em cartório). Confundiu as linhas e acabou por assinar em uma unidade diferente da sua. Como era tarde da noite e nenhum morador possuía uma impressora, o contador e sua assistente precisaram reescrevê-la manualmente, com todo o cabeçalho, nomes completos e apartamentos. Isso atrasou a reunião em pelo menos mais dez minutos.

Esta mesma reunião, na qual se tratou de algumas questões cotidianas rápidas e apresentamos o projeto de reforma, se estendeu ainda mais por uma surpresa planejada pelo síndico septuagenário: aquele seria o último dia de uma fiel funcionária do edifício, que nos últimos 15 anos esteve a serviço do edifício. Chamada na parte final do encontro, foi surpreendida por uma salva de palmas dos presentes, flores e chocolates, além de um discurso emocionado do síndico, seguido por um coro de “muito obrigados” e comentários elogiosos espontâneos dos moradores que foram pegos desprevenidos. De maneira singela, os velhinhos do prédio deram uma aula de elegância e humanidade aos jovens apressados.