Vocação

Há famílias em que todos são médicos; em outras, dentistas; em outras, artistas... Na minha predominam os advogados. Há também as famílias que não têm escolha senão seguir com a luta diária — na profissão que seja — para botar um prato de comida na mesa. E estas são maioria neste país condenado a um futuro cujo lema estampado em nossa bandeira parece sempre tão distante.

Há a família Buarque de Hollanda, esta sim uma família admirável. Abundante de intelectuais, historiadores, professores, jornalistas, compositores, cantores, escritores, atores... Além das aspirações profissionais e talento nato e estimulado pelo ambiente transbordante de cultura, compartilham também uma afinidade pela democracia e pela justiça social. Sérgio e Maria Amélia Buarque de Hollanda foram militantes de oposição à ditadura militar. Sérgio é pai de Chico, que também busca estar do lado certo da história.

Há as autoproclamadas “famílias tradicionais brasileiras”, onde família pode significar uma esposa triste e incontáveis amantes do patriarca; tradicional pode significar agressões físicas, abordos velados e filhos ilegítimos abandonados e brasileira pode significar cultural e geograficamente pertencente ao sul e sudeste brancos do país.

Há as famílias que querem um país de iguais e as famílias que defendem, ainda que não saibam ou admitam, uma espécie de apartheid moderno. Há as famílias que se dividem por divergências morais e há as que lutam para permanecer unidas, enquanto um lado tenta convencer o outro de que seu lado da história é o correto.