Publicado em: 20 de dezembro de 2022 às 15:59
Neste ano e no ano passado, na UEL, minha alma mater, os cursos mais procurados e disputados no vestibular foram, nesta ordem: medicina, biomedicina e ciência da computação. Assim como a moda e a música, estas escolhas dizem muito sobre nosso tempo. Por alguns anos, lecionei espanhol nos cursinhos solidários da Universidade e de um colégio estadual. Naquela época, bem como ainda hoje e nos anos que nos antecederam e nos sucederão, medicina segue sendo o curso dos sonhos da maioria dos vestibulandos. O motivo? Poderia dizer que é a aspiração de salvar vidas, descobrir a cura do câncer ou do Mal de Alzheimer, mas a realidade que vivenciei durante aquele período foi a de dezenas de estudantes de baixa renda que depositavam altas expectativas na possibilidade (distante) de serem aprovados no concorrido curso de medicina.
A desigualdade de renda é o grande motor desse abismo entre os 217 candidatos disputando apenas uma vaga na medicina e, por exemplo, a concorrência de menos de um candidato por vaga no curso de letras ou cinco no curso de geografia. Historicamente, a remuneração dos educadores brasileiros é uma das piores da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com o poder de compra reduzido pela inflação, estas profissões, essenciais para a formação do país, são preteridas em detrimento de outras mais valorizadas pelo mercado, como a famigerada medicina ou o abrangente curso de direito.
É curioso observar a rapidez com que as tendências se transformam. Onze anos atrás, quando era eu quem estava escolhendo minha profissão, arquitetura, psicologia e engenharia predominavam.
Hoje, com o inegável poder da era digital, a influência das mídias em como nos enxergamos e as novas técnicas cosméticas (botox, harmonização facial, nanotecnologia...), cursos relacionados à tecnologia da informação e às profissões estéticas (biomedicina. odontologia) se destacam em relação aos outros.
A pandemia afastou muito estudantes das universidades, com uma baixa de cerca de 10% se compararmos aos anos que a antecederam. Com o arrefecimento dos casos de Covid e a troca de governo, vamos torcer para que o cenário nos próximos anos seja mais promissor.
Arquiteto, é santa-cruzense e estudou História da Arte em Madrid
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