Henrique Perazzi de Aquino

Morreu o dono do jornal de Bauru

Coluna de Henrique Perazzi de Aquino

Morreu o dono do jornal de Bauru

Publicado em: 17 de novembro de 2023 às 22:45

Alcides Franciscato foi empresário bem sucedido aqui pelos lados de Bauru. Com certeza, devem conhecê-lo também aí em Santa Cruz. Seu maior empreendimento é o Jornal da Cidade, o último diário impresso existente em Bauru. Foi deputado federal por alguns mandatos e ficou muito conhecido por um episódio lhe marcando a vida, causado pela total devoção mantida junto ao general Figueiredo, então presidente da República. Inquestionável, a existência de vários empreendimentos alcançando o sucesso devido a benesses do regime militar. A Rede Globo de Televisão e o Expresso de Prata — seu outro grande negócio do ramo empresarial —, são belos exemplos deste favorecimento.

O Prata, tocado por ele e sua família, conquistou um padrão de qualidade invejável. Mas isto não apaga como foi alcançada a projeção. Franciscato foi prefeito bauruense por um mandato nos anos 70 e lembrado até hoje pelos dois lados, o dos que lhe enaltecem feitos e por outro, da proximidade com o regime ditatorial. O JC, como hoje chamamos por aqui seu diário, foi concebido e tocado o tempo todo dentro de um padrão ideário conservador. Incontestável isso, assumido até por ele e por todos os bons jornalistas que por lá atuaram e atuam até hoje. Isso não impediu que algo de bom despontasse. Sempre publiquei cartas no jornal e nunca fui censurado, apesar de quando para lá as enviava, sabia dos limites aceitáveis para aceitação.

O empresário com o passar dos anos foi se desfazendo de alguns destes empreendimentos, como a venda da empresa de transporte rodoviário para o grupo da Gol Linhas Aéreas, e a rádio 96 FM, também, hoje nas mãos de outro grupo. Ele, pelo que se sabe, não aceitou passar adiante o jornal e desta forma, aos 94 anos, com o seu falecimento, algo já pressentido pela cidade, talvez agora não prossiga no modal impresso. Talvez, somente no virtual, como outros tentaram, alguns conseguiram, outros não. O fato é que o jornal, mesmo com seu viés declaradamente liberal, continua sendo importante. Bauru já teve inúmeros jornais e este, o mais longevo, talvez até pela forma como foi constituído, com injeção de muito capital.

O ideário de Franciscato sempre foi conservador e algumas de suas passagens hoje estão já na névoa do folclore local. Neste momento, o que mais se vê são os elogios. Me abstenho de fazê-lo, até porque sempre, o considerei e ele assim o era, um “coronel” na cidade. Quem conhece como se deu a tal “Turma da Garagem”, reunião de políticos favoráveis ao regime militar, em reuniões regulares no jornal, sabe do que escrevo. Também, dentro de tudo o que se podia publicar no JC, dois temas eram praticamente impedidos de ali serem expostos, os contendo elogios para ferrovia e os envolvendo acidentes com os ônibus do Prata. Ele sempre se manteve numa espécie de altar na cidade e dele nunca desceu. Leio e ouço os elogios todos e creio, um maior debate sobre tudo o que representou, irá acontecer mais para a frente, não neste momento.

Ontem pelas redes sociais, uma admiradora posta algo afirmando Bauru ter uma enorme dívida para com o empresário. Não querendo entrar em gratuitas divididas, respondi de forma muito curta e encerrei o assunto, não polemizando: “Eu não devo nada a ele, não!”. Assim, refirmo, o enxerguei a vida inteira como o mentor dos tais “forças vivas”, expressão criada pelo JC, para designar os empreendedores, os “donos do poder” local. Ele foi um destes, talvez o mais significativo. Sou eterno amante de ferrovias e via nele um dos próceres do lobby rodoviário, decretando o seu fim, mesmo tendo ciência que, a fim dela já estava decretado, faltando só o empurrão final. O Expresso de Prata sempre foi uma excelência, hoje também não mais existente como tal e a importância do JC, antes com a maioria dos políticos lhe prestando reverência, também perdeu o brilho. Fica na memória uma época da história bauruense, ainda não esmiuçada e contada corajosamente, pois até o jornalismo local, hoje perdeu muito daquele ímpeto de antanho, na produção de matérias investigativas. Talvez volte a ocorrer no futuro e este período seja motivo de ampla pesquisa.


Henrique Perazzi de Aquino

Henrique Perazzi de Aquino

Henrique Perazzi de Aquino é jornalista, professor de História e mantém o blog Mafuá do HPA (www.mafuadohpa.blogspot.com)


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