Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Fechando para balanço

Coluna de Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Fechando para balanço

Publicado em: 09 de dezembro de 2023 às 19:15

Sim, vou fechar para balanço, como aí, em Santa Cruz, fechava-se a farmácia de igual nome, do doutor Alziro Sousa Santos ou o empório do irmão deste farmacêutico, o Dito Santos, que estava estabelecido na outra esquina em frente à drogaria ou o dos Irmãos Scudeller, que vendiam secos e molhados e aparelhos agrícolas rudimentares. Mesmo a Santa Cruz Elétrica, adiante, no Largo de Igreja. Ou mais embaixo, em direção ao Jardim, o estúdio do Seu Luiz, retratista. Todos fechavam para balanço, cerrando por dias suas portas corridas de alumínio. Para verificar estoques ou computar lucros ou prejuízos do ano, em suas atividades comerciais. Para finalmente continuar a vida. Há quem chame estes dias por sabáticos. Dias de reflexão, assim, como fazem os judeus, que, aos sábados, somente oram e pensam. Daí dias ou anos sabáticos, de sábado, de descanso, de renascimento.

Seria 2024, um ano sabático, para mim? Não sei! Porque falta-me grana para ficar todo um ano parado, orando e pensando. Mas vontade não me falta a ver que tudo está uma zona, no mundo todo, em que, no Brasil, há um presidente que brinca de querer ser Mandela, com a Janja, uma Graça Machel (viúva de Nelson Mandela), que diz apitar no social. Contudo, parece-me, gosta mesmo de mandar e viajar e vai se apaixonando pelas cortes de todas as oropas e ao mesmo tempo que o nosso presidente puxa o saco do Rei das Arábias, o que deu as joias ao Bolsonaro, Janja vai fazer compras, é possível, que, em Dubai, já para a COP 28. Enquanto Lula que quer fechar com a preservação do clima, deseja mesmo é furar poços ao lado da Foz do Amazonas, com o Brasil entrando na OPEP. Já que somos um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo.  Querendo mostrar para o planeta que isto não é uma incoerência, como, por exemplo, o Congresso aprovar e ele sancionar o marco do veneno, a contaminar pior de que pragas, toda nossa comida, com fortes defensivos que se dizem agrícolas, para as graças de um capitalismo selvagem que quer derrubar árvores e cultivar desgraças.

Não bastasse, a gente fica nos melhores hotéis do Rio de Janeiro, como se fosse um navio e sem botar o nariz na rua de noite ou sequer ir à praia, apenas sai para atender compromissos inadiáveis porque, como acontece em São Paulo, os que mandam nas ruas são os milicianos e os bandidos, infiltrados em todos os órgãos do poder e os manda chuvas, não são mais os Guinle, no Rio ou os Matarazzo, em São Paulo, empresários criativos. Mas os Marcola do PCC ou os bicheiros cariocas, que viraram milicianos e dizem hoje, que são imperadores do tráfico de drogas em escala mundial.

De outra banda, uma tropa de diletantes parte para a posse de Milei, no dia 10 de dezembro. Alguns levantando cartazes com fotos de Bolsonaro, Trump e Milei, como a falar eis, eles são os nossos reis. A despeito dos planos diabólicos destes cidadãos, que, com Putin, formam a quadra de azes do absurdo. Não obstante, alguns deles, carregando nas costas parelhas de sandices. O russo até torcendo para que o pau coma na guerra próxima e possível, entre a Venezuela e a Guiana, pelo petróleo de Essequiba e aí me lembro que um dia o Putin dissera que iria levar a guerra para a América Latina. Pode ser por aí, fornecendo mercenários e dinheiro para a disputa entre o Maduro e a Guiana Inglesa e assim para bagunçar o coreto, aqui, no nosso continente, não pacífico jamais, mas já há algum tempo, não guerreiro. Agora começo entender porque Putin dissera que logo houvesse guerra na América do Sul.

Bem e há quem aplauda estes amalucados, como se essa gente fosse emissária de uma nova redenção; o que é o muito do pior em tudo. Como o antigo Ministro da Justiça, que ia saber quem matara Mariele, gerente de um empenho impossível e demagógico, mas que, agora, vai para o STF, em que pese, um dos melhores a vestir a toga de magistrado, por lá. Tudo, uma contradição. Mesmo assim, poderá ser interessante ver o Flávio Dino, antigo membro do PCdoB, partido de extrema esquerda e comunista, sabatinado no Senado pela extrema direita do centrão bolsonarista. 

Ainda a cilada absolutamente boçal, em que a direitona quer botar o Supremo de joelhos - enquanto para mim, a divisão política, direita e esquerda é um absurdo e mesmo porque sou ambidestro, escrevendo com as duas mãos - e o populacho se põe orgasmático (quer dizer gozando como se fosse um prazer sexual), por gostar de ver o Supremo coagido e ignorando que a coação ao STF, é o princípio da derrocada de toda ordem democrática e constitucional brasileira. O único meio para vivermos em liberdade, paz e progresso social, que os brasileiros temos.

Vem aí, a Reforma Tributária, sim, a indústria vai ganhar. Neo industrializar-se, como dizem. Entretanto acredito que o único cara que pensa nessa reforma, como uma solução certa, para o Brasil, por conhecê-la de verdade, seja o Bernardo Appy, que honesto, contudo, às vezes me parece doido. Os outros vão nessa onda da moda, pensando que ela plantada em nossa Constituição, como tantos abusos legislativos, vá nos salvar. Em caudais de emendas constitucionais que são inconstitucionais, para gastar mais, com a guitarra da emissão de moeda e alimentando a inflação, eles vão transformando nossa Carta Magna, em almanaque de farmácia, se é que ainda exista quem saiba ser isto, almanaque de farmácia, mas que foi um livreto que, no passado, continha histórias folclóricas do Jeca Tatu, sendo distribuído a cada novo ano, pelas farmácias a seus clientes, contendo propaganda de remédios caseiros e baratos, como o célebre Biotônico Fontoura. Quem se lembra?

Sempre fui e sou antirracista. Não me envergonho de minhas origens mestiças, ao contrário, orgulho-me. Mas viraram este tema de cabeça para baixo e se quer fazer do Brasil, um grande Haiti, uma república negra, uma África idílica, que não existe e nunca existiu. Dividida em tribos, segregando-se mutuamente enquanto dizem, não quererem ser segregadas. Como se a necessária unidade populacional brasileira, do único país do mundo sustentado em uma democracia sexual, fosse uma balela ou uma invenção de ignorantes, não um fenômeno autônomo, natural e necessariamente social.

Faz pouco tempo me lembrei de um colega, grande advogado. Eu me separara de meu primeiro casamento e ele, então, um boêmio. Cada um de nós havia ganho uma grande causa, mas em bancas separadas e entre um gole e outro de uísque, resolvemos tirar um tempo sabático. Alugamos apartamento em Boston e dali viajamos bem a costa leste da América do Norte, de Quebec, no Canadá, até Nova Orleans, no extremo sul, na América Negra, capital do jazz. De lá, voltamos a Nova York; Atlanta, em muito, negra.

Enquanto saíamos de lá e a aeronave taxiava, deixei de olhar da janelinha do avião, em que me punha pensativo e perguntei ao colega o que achara da América comparativamente ao Brasil, no quesito racial. Ele pensou e respondeu. No Brasil, somos uma democracia sexual. Não casamos pela raça ou pela cor, mas pelo amor e assim nos reproduzimos e eu pensei, sim, para formarmos um grande país, de um só povo, a ser exemplo de unidade nacional. Em lugar nenhum do mundo é assim. Neste Universo, o ser branco casa com a branca, o japonês, com japonesa, o libanês, com a libanesa e assim, por diante, o judeu, com judia e etc. 

Todavia aqui nos casamos por amor e não vemos a raça, a origem ou a religião do parceiro. Claro que há exceções, mas são poucas. O Brasil quer jogar fora o presente que Deus nos deu. Por isto, lembrando o velho bruxo do Cosme Velho, o Machado de Assis, que, perplexo, como Rui Barbosa, se perguntara, ao fim da vida, mudou o Natal ou mudei eu? Parafraseio-o. Enlouqueceu o mundo ou enlouqueci eu? Por isto, fechei para balanço. É muito difícil viver em um mundo em que somente interagem os que perderam a vergonha com outros que nunca a tiveram. Mas eu não desisto. Até breve!  I will be back! Eu voltarei, como dissera um general americano que expulso, pelo exército japonês, das Filipinas, voltou para a Ásia vitorioso para vencer a guerra e democratizar o admirável e grandioso Império do Sol Nascente.


Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Santa-cruzense, Sampaio Gouveia é advogado graduado pelas Arcadas e especialista em Finanças e Contabilidade (pela EAESP/FGV) e em Direito Penal Econômico (pela GVLAW/FGV), mestre em Direito Público (Constitucional) pela PUC-SP, Conselheiro e Orador oficial do IASP, membro do Consea/Conjur/Fiesp, procurador-jurídico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, entidade em que é irmão Mesário e remido, conselheiro da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Medicina da Faculdade de Misericórdia de São Paulo. É membro do Instituto Brasileiro de Recuperação de Empresas em Crise. Foi conselheiro-seccional da OAB-SP e da ASP. CEO Sampaio Gouveia Associados


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