Luiz Antonio Sampaio Gouveia

O ministro Fux e o cavalo

Coluna de Luiz Antonio Sampaio Gouveia

O ministro Fux e o cavalo

Publicado em: 07 de julho de 2023 às 22:21

Que beleza, o cavalo! Sim, este animal cujas linhas e porte enfeixam todas os contornos da beleza, que pode ostentar a criação divina, que se não for de Deus, é da natureza que por si somente é deusa. Atrai me qualquer ângulo que se pode presenciar neste animal sagrado com que a Humanidade pode fascinar e ser fascinada, Símbolo o cavalo, a um só tempo de amizade e traição, expressão da beleza que ilude até a embriaguez plena de todos os sentidos quando como centauros nos incorporamos a ele, tanto é a paixão que ele nos desperta. A única fascinante simbiose em um só corpo, na natureza mítica, é aquela que se faz entre o homem e o cavalo. Não se vê na fábula um animal como o centauro, meio homem, meio cavalo com tanta beleza. É tanto por isto, o amor do homem por este animal, símbolo da maior traição que a beleza pode camuflar para nossa rendição ante o belo, o cavalo de Tróia.

Mas o cavalo de Tróia voltou à balha (como diria o Ministro Marco Aurélio), no julgamento do Juízo de Garantia, quando relator, o Ministro Fux, dissera fosse este instituto jurisdicional um cavalo de Tróia, que pudesse, argumentando um bem, fazer um mal e porque separar no processo crime, um juiz para a instrução criminal  para colher as provas do processo e outro, para julgá-las no contexto dos processos, seria destrutivo da Justiça brasileira a ver que a maioria das comarcas brasileiras têm somente um juiz.

Mesmo assim, o cavalo já foi proposto tê-lo por um Rei da Inglaterra, que apeado em uma batalha, em quem se ferira sua montaria, gritara no meio da selvageria, meu reino por um cavalo. Calígula, imperador romano, fez de seu cavalo Senador daquele admirável império, era o Incitatus. Alexandre, o grande, um cara que foi grande, o maior conquistador da Humanidade, que nunca tivera o desplante em dizer nunca dantes neste planeta, como adequando o substantivo planeta por pais, diz um estadista sul americano, tinha no cavalo amuleto e aliado, que o fazia vencer todas batalhas, o Bucéfalo. Entre as brincadeiras com o cavalo, porque ninguém é tão extremista como estes que andando por aí, direitistas, não brincam e nem sabem sequer sorrir, Gil Vicente, um teatrólogo português da Idade Média, dos maiores da História, já dizia preferisse um asno que o carregasse a um cavalo que o derrubasse.

Já cai do cavalo mais de uma vez e recentemente quando montava nas manhãs, na Hípica Paulista, em São Paulo, quase caí de novo, afetado por uma grande tontura. Parei o animal, fui para casa, mas desmaiei no banheiro. Dias depois estava operado de um câncer na próstata de que me salvei bonitinho. Para mim o cavalo sempre teve importância capital curiosamente.

Dona Anália Vilas Boas da Silva, minha professora, daí de Santa Cruz, no meu quarto ano de grupo escolar, no então Segundo Grupo, que dizíamos o Grupo da Dona Maria José Camarinha, em que me formara, com destaque, primeiro aluno, dera-me como prêmio, um livro, chamado, O Potro Indomável. Carinhosa e enérgica, fora ela mãe, do José Gilberto Vilas Boas da Silva, gente antiga de Santa Cruz e sobrinho do Zeca Pio.  O inesquecível Coelho! Meu pai, contudo – que me trazia no cabresto, até onde pode – falava ser esse, o livro mais significativo que eu recebera, porque mais o fazia lembrar-se de mim.

Certa feita, sob o céu da Amazônia, brilhante e fascinantemente estrelado, na beira do Rio Telles Pires, quando não havia asfalto ainda, um quase uruguaio de espírito, mais que tudo brasileiro, gaúcho me ensinou Martin Fierro, este clássico da literatura argentina, que dizia que nós latinos americanos, precisamos nos unir, se não nos comem nossos inimigos, dissertou sobre sua vida com os cavalos e me ensinou que a gauchada não usa baixeiro para cavalgar em baixo da sela, mais sim, matambre (a porchetta)  porque eles botavam a carne embaixo do arreio, para salgar e aprimorar o charque. Contudo, o fato é que caminhávamos, sob a noite amazônida, nos lembrando de Maquiavel, este que dissera que cada homem traz, em seu semblante e caráter, nos que ostentam, as mesmas características de um animal com que parecem. Gargalhávamos com  cada amigo comum que animalizávamos. Já madrugada, perguntei e eu cara, que sou?

Ele me fitou por minutos e grande e saudoso amigo, respondeu enfaticamente: Tu, Luiz? És um corcel, um potro indomável! No seu sotaque profundamente gaúcho. Chamava-se Arthur da Porciúncula, já partido infelizmente, se é que os grandes homens não se tornam lenda.

Mais tarde quando montava no glorioso Regimento 9 de Julho, da heroica PM de São Paulo – quando os estribos se tocam está feita a camaradagem – com um velho Coronel da Engenharia, que tinha o nome contraditório à sua senilidade, porque chamado Broto, ali vivi a história da famosa Coluna Prestes, em realidade comandada por um cavalariano dali, o General Miguel Costa, um homem desses que não se fazem mais há algum tempo, social democrata mas não comunista.

 Se o cavalo de Tróia simboliza a embriaguez dos troianos por um presente de grego, errado está o Ministro Fux, a ver contudo ser ele, um grande magistrado. Pois houvesse o juízo de garantia, não teríamos tido a Lava-a- Jato, esta, sim, que bagunçou mais o Brasil.


Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Santa-cruzense, Sampaio Gouveia é advogado graduado pelas Arcadas e especialista em Finanças e Contabilidade (pela EAESP/FGV) e em Direito Penal Econômico (pela GVLAW/FGV), mestre em Direito Público (Constitucional) pela PUC-SP, Conselheiro e Orador oficial do IASP, membro do Consea/Conjur/Fiesp, procurador-jurídico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, entidade em que é irmão Mesário e remido, conselheiro da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Medicina da Faculdade de Misericórdia de São Paulo. É membro do Instituto Brasileiro de Recuperação de Empresas em Crise. Foi conselheiro-seccional da OAB-SP e da ASP. CEO Sampaio Gouveia Associados


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