Publicado em: 03 de setembro de 2022 às 04:05
Vi a partir do lado de dentro um Brasil em que não se podia pronunciar a expressão “política pública” sem ser rapidamente denominado “esquerdista”, em tom jocoso, quando não com muita raiva. Não estou falando de expressões que denotam o posicionamento político de maneira mais óbvia, como foram “Lula livre”, ou “Ele não”. São conceitos que fazem parte da esfera pública e nunca foram tomados como exclusividade de nenhum grupo, em nenhum ponto do espectro político.
Houve um período entre 2018 e 2019, em que se rechaçava com espuma no canto da boca, a mera menção a qualquer coisa que não fosse em louvor ao (neo)liberalismo, ao individualismo e ao privatismo; que pudesse ser interpretada como “politicamente correta”, por apoiar minorias, ou meramente pontuar a violência que sofrem.
Esse ódio foi sistematicamente insuflado por um grande aparato de propaganda, que engloba desde a grande imprensa até a capilaridade das notícias falsas por WhatsApp, passando pelos “gurus da nova direita” e pela explosão de influenciadores digitais.
É preciso dizer que esse posicionamento, que coloca qualquer possível fala a favor de algo coletivo, ou público, mesmo que vagamente, tem radicalidade e dinâmica que tornam possível situá-lo no conceito de extremista e de totalitário. Lembremos que vem sendo acompanhado de palavras e gestos que incitam ou sugerem o extermínio de quem pensa diferente.
Tudo isso está em plena atividade ainda. Entretanto, observo que boa parte da fórmula se esgotou. A pandemia e suas 700 mil mortes oficiais (fora a subnotificação); a fome, o desemprego e a carestia, estão fazendo muita gente abandonar a ojeriza a tudo que é público, reconhecendo, ainda que vagamente, a necessidade de se pensar e discutir políticas públicas abertamente. Sem receio de que algum infeliz pergunte sobre Cuba ou Venezuela.
O governo Bolsonaro e quem compactua com ele, incluindo os defensores do (neo)liberalismo, têm interesse no medo em se falar de qualquer coisa em benefício da coletividade. Com silêncio não se faz política; não se debate e não se constroem ideias e projetos para o bem comum. É o terreno perfeito para quem tem interesses escusos implantar seu projeto de poder.
Ainda persiste o desconforto em se falar de política. O assunto parece manter potencial para azedar relações familiares e colocar empregos em risco. Esse receio é perfeitamente justificável. Sabemos de pessoas que perderam seu trabalho por serem de esquerda. Tivemos mortes de militantes de partidos esquerdistas.
É preciso nos perguntarmos: até quando aceitaremos ficar em silêncio e permitir que continue esse completo descaso com nossas vidas e com a esfera pública?
Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915
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