Luiz Bosco

A responsabilidade pelo que se diz

Coluna de Luiz Bosco

A responsabilidade pelo que se diz

Publicado em: 20 de agosto de 2022 às 05:47

Cada palavra que escrevo ou digo; cada símbolo que utilizo; cada gesto que faço, expressa um posicionamento. Mesmo que disso não se tenha clareza, um valor está expresso ali, sugerido e podendo ser intuído mediante as circunstâncias em que ele costuma se apresentar.

Uma pessoa que desconheça a legislação de trânsito pode dizer que uma placa em uma rodovia provavelmente seja um aviso para quem por ali trafega. O conhecimento do que se diz através de um signo não se limita a uma clara e indiscutível consciência de seu significado, podendo ser utilizado conforme elementos contextuais, ou pela intenção que é percebida em seu uso.

Temos estudado o signo nesses textos, conforme as concepções do Círculo de Bakhtin. Uma afirmação bastante conhecida desse grupo de estudiosos soviéticos é a de que “não há álibi” para nossos atos. Podemos estender isso para nossos atos de fala, toda comunicação que estabelecemos, seja cotidiana ou formal.

Quando falamos, não importa se pela boca, pelos gestos, pela escrita etc., assumimos posicionamento sobre aquilo que é falado. Nada é desprovido de valores que orientam nossa escolha de vocábulos, nossa entonação, a quem nos dirigimos ou deixamos de nos dirigir, em que contexto estamos. Parte dessa complexa aventura da comunicação é calcada em níveis não muito organizados da consciência, como no ideologia do cotidiano (“ideologia da vida”). Entretanto, isso não tira a responsabilidade sobre o que se diz, visto que as consequências serão colhidas, independentemente da clareza da intenção por trás delas.

Ao ofender uma pessoa em um momento de ira, mesmo que se peça desculpas logo a seguir e o alvo da ofensa ofereça seu perdão, o ato já está feito e suas consequências apareceram.

Qual a responsabilidade de quem se utiliza do signo da arma de fogo?

A arma simboliza o poder em sua manifestação última: matar. Quando alguém exibe zombeteiramente a “arminha” com os dedos para alguém de posicionamento político diferente, não está literalmente afirmando que irá matar aquela pessoa. O posicionamento que se assume é difuso, mas não menos mortífero.

O bolsonarismo, que o utiliza amplamente, alega que se trata da luta pelo direito de portar uma arma de fogo para se defender. O Brasil estaria entregue a bandidos e seria necessário o  porte massificado de armas para que a segurança seja garantida. Também representaria a posição contra a corrupção da classe política, em uma indicação de que a melhor opção seria eliminá-la. Esse aspecto condiz com o atual presidente da República que, apesar de estar há três décadas no mundo da política profissional, apresenta-se como “antipolítico”.

O símbolo do posicionamento bolsonarista traz a ideia de eliminar o adversário, incluindo opositores políticos — a “petralhada” que deve ser fuzilada. Por mais que se dê o voto de boa-fé de que Bolsonaro está apenas sendo galhofeiro ao dizer esse tipo de coisa, foi se firmando uma posição de intolerância que tem resultado em mortes.

Não há como isentar de responsabilidade aqueles que assumem a arma de fogo como seu símbolo. Mesmo que tal uso se faça de forma irrefletida. É um signo de morte e tal sentido é acessível a qualquer pessoa com mínimo domínio da linguagem. Seus efeitos são verificáveis em catástrofes que se avolumam. Até quando?


Luiz Bosco

Luiz Bosco

Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915


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