Luiz Bosco

“Another brick in the wall” e a crítica ao ensino

A obediência ao professor é o treino para a obediência ao patrão, aos políticos, à polícia, entre outras instâncias de poder

“Another brick in the wall” e a crítica ao ensino

Publicado em: 11 de março de 2022 às 17:57
Atualizado em: 12 de março de 2022 às 05:43

No videoclipe da música "Another brick in the wall", tema mais conhecido do álbum "The Wall", da banda britânica Pink Floyd, vemos um garoto ser humilhado por um professor em sala de aula. Um bloco de anotações com versos é tomado das mãos do garoto; quando o vetusto docente percebe do que se trata, ironiza as tentativas de escrever do jovem. Golpeia-lhe a mão e retoma o que parece ser uma lição memorizada pela classe.

A música e o videoclipe são bem conhecidos e amplamente utilizados para a reflexão sobre nossas escolas. Penso que podemos hoje revisitar esse exercício de pensamento bastante conhecido, que ainda hoje se revela atual e com poder de proporcionar o engajamento para a busca por uma sociedade melhor, com instituições mais justas.

No tema em questão, a crítica ao sistema de ensino tradicional é explícita. Mostra como há um esforço para que a sensibilidade seja submetida a conteúdos e regras transmitidos de forma burocrática e sem vida. A escola é mostrada como uma ferramenta para forjar indivíduos que se comportem dentro de padrões esperados para a sociedade capitalista. A obediência às “autoridades constituídas” deve estar acima de tudo (como afirmara Durkheim no século XIX); a disciplina escolar chega a ser considerada um bem maior do que a aprendizagem de conteúdos.

Com essa organização rígida e homogeneizante, a escola forma indivíduos não para o pensamento nem para a participação política. Forma pessoas dóceis e que aceitarão a reprodução do sistema capitalista de poder, em que uma minoria (a burguesia) se mantém no poder e explora o trabalho da maioria (o proletariado).

A obediência ao professor é o treino para a obediência ao patrão, aos políticos, à polícia, entre outras instâncias de poder. A rotina regrada dociliza os corpos para que se sujeitem às exigências do trabalho na fábrica, no escritório, ou em qualquer outro espaço. Passamos a infância e a adolescência em um lugar austero, em silêncio, ouvindo o que um “superior” tem a dizer, para que vejamos com naturalidade passarmos a vida em trabalhos cuja rotina é repetitiva e austera, submetidos a um “superior”.

Mais do que conhecimento que se absorva na escola, nós somos treinados para carregar as marcas da submissão ao sistema capitalista. Aprendemos como se olha aos superiores, como se lhes dirige a palavra, como se vestir para ser respeitado, como se sentar, como caminhar, do que podemos gostar. Somos ensinados a embotar nossa sensibilidade, para que não nos incomodemos tanto com uma vida de rotina mecânica.

Vale a pena assistir o musical “The Wall” inteiro e ver como aquele garoto se torna uma pessoa em uma situação de sofrimento mental intenso. Os “desadaptados”, aqueles que não aceitam se submeter às exigências estritas de uma sociedade construida para explorar o trabalho da maioria, sofrem por sua inadequação e podem ser cooptados pelo hospício ou pela prisão.

A escola é indispensável instrumento de socialização, transmissão cultural e formação do pensamento crítico. Para essa missão ser cumprida de maneira verdadeira, e não em aparências, sua função de mera reprodutora das desigualdades sociais e da manutenção do sistema capitalista precisa ser superada.


Luiz Bosco

Luiz Bosco

Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915


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