Luiz Bosco

Contra o mal do feminicídio

Coluna de Luiz Bosco

Contra o mal do feminicídio

Publicado em: 03 de dezembro de 2022 às 12:57

O fim de novembro foi trágico em Santa Cruz do Rio Pardo e região, com mais um caso de feminicídio. Apesar das circunstâncias únicas do fato, não podemos nos iludir que se trate de caso isolado.  A atitude comum é de se buscar os porquês nas características individuais dos envolvidos, ou na história que eles tiveram. Porém, isso de pouco serve, pois as chaves para decifrar o insondável da mente humana se perdem com a morte. Acrescente-se que seria temerário de minha parte falar de pessoas que nunca conheci. O que podemos e precisamos abordar são as circunstâncias sociais envolvidas.

Observe que me referi a feminicídio, pois tudo indica que o seja: um crime no qual a mulher é vítima principalmente devido à sua condição mesma de mulher e tudo o que isso envolve. Não sejamos ingênuos de insistir no termo “crime passional”, que denota uma ação movida pelas “paixões”, deixando o homicida descontrolado devido a seus sentimentos, sem saber o que estava fazendo. Isso novamente nos levaria ao erro de buscarmos no indivíduo as causas de um fenômeno que vitimiza tantas mulheres. O número registrado em 2021 foi de 1341, uma cifra obviamente achatada pela subnotificação.

O feminicídio é indissociável do machismo, pois se trata da eliminação de uma mulher por ela não se submeter aos caprichos do homem. Este a mata pois a quer como sua posse, não importando o que ela deseja. O machismo vê a mulher como alguém que não pode ter vontade própria e se ela aceitou, em algum momento, estar em um relacionamento, deve aceitar tudo que daí venha, inclusive a impossibilidade de sua dissolução, se o homem assim quiser. Chega-se ao ponto de se considerar a morte da mulher, nesses casos, como algo que foi escolhido por ela ao se relacionar com “certos” homens.

Esse fenômeno não é novo; tem raízes históricas profundas, que podemos resumir na ideia de que o homem é o centro da sociedade e, por direito “natural” ou “divino”, deve ser considerado como superior à mulher. O que precisamos notar é que esse posicionamento ainda é defendido hoje: basta lembrarmos de que o ainda presidente Jair Bolsonaro já defendeu que as mulheres devessem receber menos que os homens, além de dizer que sua filha foi fruto de uma “fraquejada”.

O momento político e social em que vivemos dá renovada legitimidade a algo tão arcaico e que já se sabe amplamente do mal que faz. Acrescente um clima de exaltação, no qual pessoas (particularmente as conservadoras) estão sendo impelidas para um sentimento de situação-limite, na qual tudo vale a pena no que diz respeito a impor seu ponto de vista. Dissemina-se o desejo por resolver qualquer situação de arma em punho, pois cada indivíduo se sente na posse da resposta última para seus conflitos e sua vontade de atender a qualquer desejo seu, custe o que custar. Ao matar uma mulher o feminicida afirma isso, silenciando eternamente aquela que, um dia, ousou fazer qualquer coisa contra sua vontade.

A saída de Bolsonaro da presidência é passo importante para mudarmos esse pântano ideológico em que nos metemos, mas não é suficiente. Precisamos recompor nosso tecido social, principiando por nos desfazermos da crença na violência como resposta aos nossos conflitos. Quem afirmou um dia que sua “especialidade é matar”, só enxerga inimigos por todos os lados, merecedores do extermínio. É necessário rejeitarmos veementemente essa visão de mundo e retomarmos nossa capacidade para o diálogo.

Quando vemos uma pessoa ou grupo como inferior, o diálogo se torna impossível, pois nos colocamos em uma posição monológica, isto é, em que não há lugar para qualquer outro discurso a não ser daquele que domina.

Começaremos a superar toda essa visão de mundo violenta com a convicção de que ninguém deve se sujeitar a ninguém, em quaisquer circunstâncias; a obediência não deve ser irrestrita e a agressão jamais tomada como um valor, particularmente para fins educacionais. Que nenhuma pessoa se sinta superior a outra, nem reduza outrem a condição de coisa ou posse.

São mudanças mais profundas do que parecem e exigem ações consistentes que vão desde o ensino e a educação familiar, mas não podem mais ser adiadas.


Luiz Bosco

Luiz Bosco

Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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