Publicado em: 28 de janeiro de 2022 às 14:47
Atualizado em: 29 de janeiro de 2022 às 05:06
Quem não está cansado nestes tempos? É possível perceber o esgotamento nos rostos, na expressão cabisbaixa e silenciosa que se segue a um breve momento de riso, no franzir da testa de quem se vê diante de uma obrigação a cumprir e já não tolera mais.
Não é o cansaço cheio de excitação que acompanha uma atividade física intensa. Tampouco é a sensação que acompanha o fim de uma longa tarefa, cujo resultado podemos ver e nos orgulha – seja escrever uma tese ou limpar a casa.
É uma canseira de nunca chegar a lugar algum. Trabalhar, cuidar para não ficar doente, não morrer: uma sucessão interminável de ações que parecem ser meramente manutenção da sobrevivência.
A pandemia nos trouxe a preocupação constante em não sermos alcançados por um vírus mortífero. Bom, isso para quem se importa consigo e com os outros. Aqueles conscientes dos riscos e do número subnotificado de mortes, se veem há dois anos em constante apreensão. Muita gente não dá a mínima e encontra respaldo em um Presidente da República que tem seus interesses ligados ao negacionismo.
Já havia certo desgaste das relações entre as pessoas que buscam uma sociedade igualitária, ou um pouco menos injusta, e quem defende cegamente o bolsonarismo, com sua ideologia de ódio e exaltação de uma sociedade desigual. Com a pandemia e as reiteradas atitudes e palavras de Bolsonaro e sua claque contra a prevenção, minimizando as mortes e dificultando quaisquer estratégias para lutar contra a catástrofe, parte do eleitorado que nele votou está em silêncio. Um “núcleo duro” ainda o defende, a despeito de qualquer bom senso, sensibilidade e civilidade mínima.
Cansa deparar-se com a continuidade das mortes e do aumento do número de pessoas com sequelas de covid-19, ao mesmo tempo em que vemos pessoas descuidadas, ou deliberadamente atacando estratégias de prevenção, particularmente a vacina. É um sentimento que vai da exasperação à impotência: sentimo-nos revoltados pela constante necessidade de defender o óbvio e o minimamente humano; vemo-nos assujeitados, como se não tivéssemos forças para lutar contra uma visão de mundo tenebrosa, que se infiltrou nos mais diversos espaços de nossa vida.
Passamos os dias apegados a pequenas esperanças, tentando buscar sentido em um mundo que colocou o dinheiro acima de todas as coisas. Nesses dois anos, a concentração de renda aumentou e o lucro dos bancos bate recordes. Nós, pessoas comuns, estamos trabalhando mais para tentarmos manter o mesmo nível de vida que tínhamos anteriormente. Mas a sensação é de uma corrida em direção a uma linha de chegada que continuamente se distancia.
A única coisa que nos dizem é para trabalharmos mais. O tempo da distração, da família e de aprender algo, agora é tempo de trabalho. Temos que estar continuamente disponíveis, com cara de satisfeitos e exalando “positividade” – como se nosso planeta não estivesse rumo ao desastre ambiental e a economia não estivesse, cada dia mais, esmagando a maioria de nós.
Tenho certeza que essas palavras soam pessimistas e, nestes tempos, isso está proibido, pois devemos estar felizes e motivados o tempo todo. Contudo, sem olharmos bem para o buraco em que nos enfiamos, não vamos conseguir sair dele. Não admitir o que nos faz mal e nos traz dor é um elemento central em todo sofrimento psíquico. A resolução começa falando a respeito do que nos faz mal – não à toa, o psicólogo “só” escuta: é preciso que nós falemos de nossas dores para iniciar um processo de “sair” delas.
O psicólogo também fala e eu tenho insistido nessas questões nos textos dessa coluna, pois vejo em meu trabalho clínico e também em meu trabalho como educador, o cansaço que não cessa, a angústia que tudo escurece, o medo e a insegurança paralisante, a solidão que desumaniza, apresentando-se sempre na vida de pessoas das mais diversas idades e características. Falo aquilo que é preciso ser dito se quisermos uma vida que não seja apenas uma sucessão de dores.
Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915
Previsão do tempo para: Terça
Durante a primeira metade do dia Períodos nublados com tendência na segunda metade do dia para Céu limpo
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