Publicado em: 24 de fevereiro de 2022 às 17:05
Atualizado em: 26 de fevereiro de 2022 às 04:08
É possível fugir de nos perguntarmos “o que é”, ou “quem é o mal”, buscando não personalizar a maldade em nenhuma figura ou ente? Difícil, sabendo da nossa tradição milenar em colocar o problema na conta do Diabo. Isso se reflete na nossa busca por eleger pessoas, grupos ou instituições como a encarnação de tudo que se possa considerar maléfico.
Trata-se de uma visão em que o mundo se dividiria segundo a popular máxima do “oito-ou-oitenta”. O mal seria perfeitamente identificável. Não por coincidência, a maldade nunca está em mim ou em meus atos, mas naquele que vejo como diferente.
Esse “outro” que me “ameaça” é tão radicalmente diferente que não o vejo com direito a ser considerado humano. O racismo, por exemplo, objetifica as pessoas, reduzindo-as a condição de coisa, algo que pode ser descartado – aliás, mais que isso, deve ser eliminado, pois representa constante perigo para aqueles que não fazem parte desse “outro”. O branco racista vê o negro sempre como ameaçador, mas não vê outro branco como potencial ameaça.
No papel de representante do mal, de uma constante ameaça, torna-se fácil chegar à conclusão seria possível eliminá-lo de forma eficaz, sem margem para dúvidas. O problema dessa maldade identificada em alguém é dar margem à possibilidade de que o seu extermínio seja desejado. É como se uma pessoa, grupo, raça, partido político, entre outros, representasse suprema ameaça à minha existência e daqueles que considero meus iguais. O que impediria a destruição definitiva do “mal encarnado” seriam regras desnecessárias impostas a nós, que apenas atrapalham a busca por uma vida “livre de todo o mal”.
O conservadorismo afirma com frequência a necessidade de as pessoas se armarem contra potenciais ameaças, que supostamente estariam à espreita em qualquer esquina; que a polícia deveria ter total liberdade para ser juíza e executora de penas sumárias; que o problema são as leis “frágeis”, ou que permitem que bandidos vivam impunemente.
Alimentado o clima de medo e se dando combustível para que os ânimos fiquem cada vez mais exaltados, o mal aparenta ser mais visível e palpável para aqueles cuja visão de mundo é estreita, alimentada pela paranoia e voltada para a busca incessante por responsáveis pela maldade no mundo. De preferência, responsáveis que sejam suscetíveis – o ódio poupa aqueles que têm poder e se descarrega no outro que está frágil...
Começa a se delinear um clima bem tenso para as eleições desse ano e não tenho dúvidas que o caminho do conservadorismo bolsonarista será o de alimentar o discurso do bem contra o mal. Tudo que seja contra Bolsonaro, será rotulado como sendo de origem maligna. Já vemos esse discurso até mesmo em atores políticos da região.
O debate político, necessário para uma construção racional do bem público, fica reduzido a um clima de “guerra santa”, em que o mais importante é a aniquilação do Adversário, para que o “Bem” triunfe.
Para aqueles que pouco se importam com os perigos reais de se incentivar essa ilusão, é preciso lembrar que tal posição vê inimigos por todos os lados. Ninguém é suficientemente “bom”: aqueles que não se alinharem, podem subitamente ser excluídos, passarem ao papel de “outro” e serem rotulados como maus.
Ou ainda, quem está no caminho da insaciável busca pelo poder, mesmo se colocando ao lado dos “bons”, pode ser visto como um objeto descartável, a ser removido para o triunfo do “bem”.
Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915
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