Luiz Bosco

Vontade de obediência

Coluna de Luiz Bosco

Vontade de obediência

Publicado em: 02 de janeiro de 2023 às 17:59

Parte significativa dos modelos de sociedade que conhecemos, inclusive a nossa, têm a obediência como um de seus valores centrais. Ainda que com variações históricas, a submissão a figuras consideradas superiores é um comportamento amplamente valorizado, que molda nosso conceito de sagrado, as relações familiares, a política e o próprio funcionamento social. É algo tão entranhado em nós que parece impossível pensar em uma convivência minimamente pacífica sem a obediência.

O fato de um fenômeno nos ser tão íntimo não pode impedir de refletirmos sobre ele. O caminho é sairmos de uma abordagem geral, que o tomaria como algo universal, partindo para uma compreensão de suas particularidades, apresentadas nas circunstâncias em que vivemos. É preciso, inclusive, observar suas contradições, pois a realidade está sempre em movimento e nunca se apresenta como tendo uma única face em suas manifestações.

Na insistência de grupos bolsonaristas em não aceitar o resultado das eleições presidenciais, eles veem a desobediência aos poderes instituídos como um autêntico ato de rebeldia frente ao mal. Chegaram aos atos violentos, com os ataques ocorridos em alguns bloqueios de estradas e, nesta semana, em Brasília, incluindo a invasão a uma unidade da Polícia Federal.

Não esqueçamos que são produtos da escalada de ações que envolvem protestos em frente a quartéis, simulacros de desfiles militares e a ininterrupta enxurrada de notícias falsas. O que vemos é o confronto ao processo democrático. A democracia, para uma cultura formada na obediência profunda, é caótica, pois permite o questionamento.

O apego daqueles que resistem ao resultado das urnas é a uma figura paterna, autoritária e monológica, isto é, cuja palavra é inquestionável, fechada para o diálogo. Com seus discursos sempre impositivos, com entonação impaciente ou de quem fala uma verdade óbvia, Bolsonaro encarna representações arcaicas e infantis de uma voz a ser obedecida a todo custo.

As manifestações trazem inúmeros elementos infantis, por isso seu tom cômico ou grotesco. Imbuídas pelo pensamento mágico, no qual a criança acredita que a realidade possa ser aquilo que ela desejar, fazem insistentes jogos de imitação acompanhados de diversas manifestações de birra. Essa também é uma tentativa de fazer o real se dobrar à vontade da criança, que insiste em apresentar um comportamento incômodo, quando não violento.

A obsessão pela obediência à figura paterna que Bolsonaro representa tem elementos da ânsia por retornar a um mundo sem nuances, seguro por ser dominado por apenas uma visão de mundo, uma raça, uma classe social, uma cultura. Sem surpresas, sem nenhuma contrariedade. A “benesse” da obediência à figura autoritária é que a vida se torna estática, pois tudo está definido, não sendo necessária a reflexão, nem a tolerância.

Isso não é suficiente para explicar o que estamos vivendo. Apresentamos aqui um mecanismo psicossocial profundo que vem sendo habilmente usado como disparador para pessoas que nunca imaginaríamos se entregarem ao burlesco e à violência como vemos agora.


Luiz Bosco

Luiz Bosco

Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915


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