Publicado em: 11 de setembro de 2021 às 04:36
No âmbito da comunicação, às vezes, o destinatário não compreende a mensagem recebida, o que leva o emitente a ter duas reações possíveis: ignora a incompreensão alheia, imputa a responsabilidade ao destinatário e o deixa sem entender; ou assume que a falha é sua ao enviar a mensagem e a reformula de maneira que o destinatário a compreenda, pois é obrigação do comunicador se fazer entender.
Dias atrás encontrei um leitor que se dizia encantado com as peripécias do Beto e da Rosinha no mundo dos vinhos, afirmando que adorou a crônica “O preço do vinho”, publicada há alguns meses, chegando a repetir, para minha surpresa, a afirmação de Rosinha diante do comentário sobre o preço de um vinho Brunello de Montalcino: “Pode ser caro, mas é bom, eu quero e fim de papo”. Mas fiquei triste quando ele concluiu dizendo: “Realmente, vinho bom é vinho caro”. Não sei se foi a crônica que formou no leitor esta ideia, ou se ele já a possuía vagamente e diante do meu texto ela se cristalizou. De qualquer forma, no breve encontro, procurei desfazer este mito e senti-me na obrigação de abordar aqui este tema.
É inegável que há uma aura de requinte no consumo de vinho e creio que isto ocorre em razão de ser uma bebida distinta da maioria, pois não se apresenta padronizada, como a cerveja, onde as comerciais, mais simples, raramente são distinguidas no paladar pelo grande público. Ademais, em filmes e novelas, enquanto a cerveja é consumida em um ambiente descontraído, bar, praia, sofá de casa, o vinho, quando aparece, está relacionado a ambientes sofisticados, um restaurante chique ou à grande mesa de jantar de um milionário. E desta maneira foi-se se criando o tal mito de que vinho bom é vinho caro. Afirmo: “Isto não é verdade”.
Também recordo um tema correlato que abordei nesta coluna: “Vinho bom é o vinho de que eu gosto”, onde expus que esta maneira de pensar poderia ser enganosa, em razão de ser centrada no degustador e não qualidade do vinho. Na oportunidade demonstrei que era “possível fazer uma avaliação objetiva, e menos subjetiva, centrada no vinho, de maneira a afirmar se é bom ou não, independentemente da preferência do degustador”.
Exatamente fazendo uso de critérios objetivos é que são organizados os concursos de vinhos e um dos mais respeitados do mundo, além de ser o maior, é o “Decanter World Wines Awards”, que na edição deste ano, realizada entre 14 a 30 de junho, em Londres, bateu recorde histórico de inscrições: 18.094 vinhos de 56 países. As degustações ocorreram durante 15 dias consecutivos, reunindo em torno de 170 juízes internacionais especialistas em vinhos, incluindo 44 “Masters of Wine” e 11 “Master Sommeliers”.
Os vinhos foram analisados por categoria, pois não é possível comparar coisas distintas. Os brasileiros estiveram presentes e a cada ano recebem mais premiações. O único brasileiro a obter medalha de ouro, com 95 pontos, foi o vinho tinto Zanotto, da uva Sangiovese, safra 2020, produzido no Rio Grande do Sul, em Campos de Cima da Serra, pela Vinícola Campestre. Em consulta ao site do produtor ele está à venda por R$ 69,90. Por sua vez, o segundo vinho tinto brasileiro melhor pontuado obteve medalha de prata, com 92 pontos, foi o Arcanum da Serra, um blend de Cabernet Sauvignon – Merlot - Petit Verdot, safra 2020, produzido na Serra da Mantiqueira pela Vinícola Ferreira, a qual anuncia em seu site o preço de R$ 300,00.
Como se vê, o único medalha de ouro brasileiro custa quatro vezes menos do que o segundo colocado, que só alcançou a prata. Espero que seja suficiente para detonar o mito de que vinho bom é somente vinho caro. É claro que não podemos nos iludir, há vinhos fantásticos, inclusive brasileiros, com preço muito superior ao referido medalha de prata. Mas, verdade seja dita: há vinho bom em toda faixa de preço, conforme o bolso de cada um. Basta garimpar.
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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