Publicado em: 28 de novembro de 2023 às 21:47
A nossa história começa em 4 de setembro de 1545, quando o conquistador espanhol Pedro de Valdivia escreveu uma carta ao Rei Carlos V de Espanha para lhe pedir que enviasse “videiras e vinhos para evangelizar o Chile”. Por isso, 4 de setembro é o dia do vinho Chileno. As primeiras videiras chegaram em 1548 e a terceira região a plantar vinhedos, em 1556, foi Concepción, hoje capital da Província de Bio-Bio.
O Vale do Bio-Bio fica ao Sul do Chile e por muito tempo não foi levado a sério pelas grandes vinícolas chilenas, pois tinham em mente que o local era dominado por castas rústicas. Mas, dado ao clima mais fresco e um pouco mais úmido que as regiões mais ao norte, Bio-Bio está sendo redescoberto com o cultivo de Chardonnay e Pinot Noir, além de castas brancas aromáticas.
Não foram muitas as uvas trazidas pelos missionários espanhóis para o Chile, as quais ficaram conhecidas como uvas missioneiras, dentre elas destaca-se a primeira, que teria sido a Listán Prieto, que no Chile recebeu o nome de uva País. Nos últimos séculos esta casta se tornou tradicional entre os “campesinos” do Chile, pois sempre tinham um pequeno vinhedo e faziam o próprio vinho no porão da casa para consumo familiar. Os que que tinham uma produção maior vendiam o excedente e, além de armazenar, transportavam o vinho em barricas chamadas pipas, construídas com madeira Raulí, nativa do Chile. Daí veio o nome do vinho: Pipeño.
Recentemente, três amigos agrônomos decidiram produzir vinho no estilo Pipeño, no Vale de Bio-Bio, um dos berços da uva País no Chile, e iniciaram o Projeto Tinto de Rulo. Pesquisando, eles encontraram nesta região vinhedos da uva País com mais de 70 anos. De certa forma, vinhas velhas produzem menos uvas e de melhor qualidade. Assim, eles incentivaram os agricultores a fazerem aquilo que os seus ancestrais faziam, cuidar das videiras sem o uso de agrotóxico, de modo orgânico, seguindo o chamado sistema sequeiro, isto é, sem qualquer tipo de irrigação. As videiras passam por estresse hídrico, forçando às suas raízes a se aprofundarem para alcançar água e isso gera uvas que alcançam uma maior qualidade.
As uvas são colhidas manualmente e desengaçadas a mão, uma a uma, e colocadas em lagares velhos de madeira Raulí e potes de barro, exatamente como faziam os ancestrais. Modernamente, os enólogos têm à sua disposição uma grande variedade de leveduras que podem ser escolhidas conforme a característica que pretendem ver acentuada no vinho. Mas, no nosso vinho, a fermentação ocorre de forma espontânea e natural, sem adição de leveduras comerciais, através das próprias leveduras presentes no vinhedo, na casca da uva e no interior da vinícola. São conhecidas como leveduras nativas ou indígenas. Por ser um processo de fermentação natural é mais demorado, dura cerca de três semanas, e diariamente são realizadas pisadas manuais e controles de temperatura e densidade para garantir um correto processo. Isto é um vinho natural, com mínima intervenção.
Depois de pronto, o nosso Pipeño estagia cerca de um ano em barricas velhas de madeira Raulí que foram utilizadas mais de 10 vezes. Quanto mais velha a barrica, menos notas de madeira ela transfere para o vinho. Mas, através da barrica você tem uma micro-oxigenação do vinho através das frestas das tábuas da barrica, o que deixa os taninos mais macios.
Ligada ao processo de filtração do vinho há a fase de clarificação, onde muitos produtores utilizam produtos de origem, como a clara do ovo. O Pipeño é engarrafado sem ser filtrado, logo é vegano. A produção é minúscula. Na safra de 2016 foram apenas 3.500 garrafas.
Fiz a degustação do Tinto de Rulo, Pipeño, elaborado com a uva País. Safra 2020. Ele tem cor rubi bem clara, com aromas de média intensidade com delicadas notas de frutinhas vermelhas frescas como morango, cereja e framboesa. Também em um toque terroso e de especiarias, como alcaçuz e pimenta do reino. É seco, com acidez próxima a alta, o que lhe confere uma deliciosa refrescância. Taninos presentes, de intensidade média e macios.
As frutinhas vermelhas são confirmadas no paladar. Tem corpo também médio. O grande diferencial é a rusticidade de aromas e no paladar, o que retrata muito bem a forma como o vinho chileno era elaborado pelo seus ancestrais.
O nosso vinho tem uma boa estrutura e intensidade de sabor, além da rusticidade, assim, ele pode acompanhar salames, linguiça, charcutaria em geral. Carne bovina e suína, inclusive temperadas com ervas e risotos com cogumelo.
Neste vídeo apresento mais detalhes sobre o nosso vinho: https://youtu.be/d_UiL0QeTl8
Caso queira experimentar, pode ser adquirido com desconto, “black november”, neste link da “La Vinheria”: https://tidd.ly/40yZwol
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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