Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Vinho “contrabandeado”, falsificado e de carga roubada

Coluna de Mauricio Azevedo Ferreira

Vinho “contrabandeado”,  falsificado e de carga roubada

Publicado em: 10 de novembro de 2023 às 03:11
Atualizado em: 10 de novembro de 2023 às 03:14

Cuidado! Se você gosta de vinho argentino famoso, tipo DV Catena, e está acostumado a pagar barato ao comprar pelo  “WhatsApp”,  através do contatinho que um amigo lhe passou,  ou comprar em  grandes plataformas que vendem todo tipo de mercadoria, de parafuso a celular, onde não se sabe de quem está comprando, você pode estar caindo em uma destas três armadilhas: primeira, pode estar comprando vinho falsificado e colocando em risco a sua saúde e da sua família; segunda, pode estar comprando vinho de carga roubada e colaborando com o crime organizado e, terceira, pode estar comprando vinho “contrabandeado” (o nome correto é descaminho), e correndo o risco de estar adquirindo vinho em péssimas condições e colaborando com a corrupção e o desemprego no país.

O assunto é sério! Tudo isto ocorre em razão do inegável alto preço do vinho no Brasil, tanto do vinho importado como do brasileiro. Vou abrir um parêntese, que está dentro do contexto, e afirmar que o vinho nacional tem dois grandes inimigos: o primeiro é o preconceito dos próprios brasileiros em pensar que não temos vinho bom. É o famoso “complexo de vira-lata” do dramaturgo Nelson Rodrigues. Nós achamos que o que é brasileiro não tem qualidade. O segundo é a altíssima carga tributária. E aqui fica o meu reconhecimento de que os impostos sobre vinhos no Brasil são elevadíssimos.

Mas, tudo isto pode mudar. Um projeto de lei que classifica o vinho como alimento natural já foi aprovado em uma importante comissão do Senado. Se for convertido em lei a tributação sobre o vinho pode ser reduzida e, por consequência, os preços podem cair. Vamos aguardar!

Mas, enquanto a redução de preço não acontece, reina a ‘Lei de Gerson”, onde o consumidor quer levar vantagem em tudo, sem se preocupar com as consequências e, com isso, está aumentando o número de apreensão de garrafas ilegais no país. Vamos aos fatos. O Estadão publicou em seu site em 16 de outubro último que, apesar da redução durante o período de pandemia, os casos de falsificação de bebidas alcoólicas aumentaram em 138% de 2018 para 2022. Os casos de contrabando (descaminho) aumentaram em 436% desde 2019.

Em 2022, quase 330 mil garrafas de bebidas alcoólicas foram apreendidas, sendo 44% delas casos de falsificação, ou seja, 145 mil garrafas falsificadas. Considerando os dados da Receita Federal apenas sobre a apreensão de vinhos desde 2018, o ano de 2023 está caminhando para se tornar um recorde.

Sem dúvida alguma o maior número de vinhos contrabandeados e falsificados são os argentinos e, dentre eles, os da Catena Zapata ganham disparado. Ainda mais agora que a Catena foi reconhecida este ano pela “World’s 50 Best Vineyards” como a melhor vinícola do mundo. E dentre os seus vinhos, o que mais é apreendido é o D. V. Catena Malbec. Ouvi diversos comentários, de quem conhece o assunto, de que está circulando no Brasil mais garrafas de DV Catena do que são produzidas na Argentina.

Mas é possível identificar uma garrafa de vinho que entrou ilegalmente no país. Sem dúvida, o preço muito abaixo do que vende o importador é sinal de que algo está errado. Ademais, a lei brasileira exige que todo vinho importado tenha o contrarrótulo em português e conste o nome do importador, bem como o número do Registro no MAPA, isto é, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Este registro garante que o vinho passou por análise laboratorial e está apto para consumo. Se não cumpre estes requisitos, o vinho é fruto de descaminho ou pode ser falso e até proveniente de carga roubada. 

Na falsificação, geralmente, o papel e a impressão são de qualidade inferior. Mas há falsificações bem feitas, onde falsificam até o contrarrótulo, com o nome da importadora, conforme apreensões que já aconteceram no sul do país. Neste caso, o preço baixo será o indicador da fraude. No Brasil a Mistral é a importadora exclusiva da Catena Zapata e para evitar fraudes ela desenvolveu um selo de difícil falsificação que já está sendo colocado nas garrafas e, em um futuro próximo, todas receberão.

Se você fica indignado com a corrupção dos políticos, também deveria ficar indignado com o descaminho, pois geralmente os grandes carregamentos praticam, e muito, a corrupção. Sem contar a concorrência desleal com os comerciantes, desde os grandes até os pequenos, que vendem vinhos legalmente e pagam todos os impostos. Por fim, todas estas garrafas ilegais são transportadas clandestinamente e armazenadas muitas vezes sob o sol e no calor, o que acelera o processo de degradação do vinho, isto é, ele estraga mais rápido. Sem esquecer que o enfraquecimento do comércio interno gera desemprego.

A decisão é sua! Também abordei este tema, de forma mais aprofundada, em meu canal no Youtube: https://youtu.be/hAybN2LcJoQz


Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.


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