Publicado em: 16 de junho de 2023 às 00:02
Se você gosta de vinho suave, eu respeito o seu paladar e a sua preferência. Ninguém tem o direito de fazer crítica ou até dizer: “vinho doce não é vinho”. Se alguém disser, não entende de vinho. Simples assim! Mas, o objetivo é ajudar quem queira a se adaptar ao vinho seco.
No Brasil é considerado seco o vinho que tem até 4g de açúcar por litro, aproximadamente até 3 colheres de café de açúcar. É meio seco, ou “demi-séc”, aquele que tem de 4,1 g de açúcar por litro até 25g, isto é, até 2 colheres de sopa de açúcar. Finalmente, é chamado de suave, ou doce, o vinho com 25,1 g até 80 g de açúcar por litro, que equivalem a mais de seis colheres de sopa de açúcar. É muito açúcar!
Não há problema algum em se gostar de vinho doce. Mas é importante que se saiba que nos vinhos suaves de mesa - tipo Pérgola, Sangue de Boi e tantos outros -, o seu dulçor não vem da uva, mas trata-se de açúcar adicionado. Isso ocorre porque o vinho de mesa é elaborado com uva americana (Niágara, Isabel, Bordô) que produz pouco açúcar, além de proporcionar um vinho de menor qualidade.
Em contraposição, os vinhos finos doces, feitos com uvas europeias, na esmagadora maioria, o dulçor vem da própria uva, não é adicionado açúcar, justamente porque a uva europeia tem maior concentração de açúcar.
Muitos, ao descobrirem esta diferença, pensam em deixar o vinho de mesa e buscar o vinho fino doce, de boa qualidade. Já é uma grande evolução. Mas, o importante é que se descubra uma forma de se adaptar ao vinho seco, pois ele oferece uma grande diversidade de ricas experiências.
Sempre que alguém me procura e reclama de que não gosta ou não consegue beber vinho seco, eu faço três perguntas. 1ª - “Por que você gosta de vinho suave?” A resposta é sempre do tipo: “Porque é docinho?” 2ª - “Por que você não gosta de vinho seco?” Muitas vezes ouço: “Não gosto porque o vinho seco ‘amarra a boca’.” 3ª - “Você estaria disposto a experimentar um vinho seco que não “amarrasse a boca’?” A maioria das respostas é: “Até posso tentar.”
Se esta for a sua dificuldade com o vinho seco, isto é, “amarrar a boca”, há uma solução. Basta entender o que é tanino. É exatamente a substância do vinho que “amarra a boca” e é encontrada em abundância no vinho tinto. No branco, praticamente não existe e, no rosé, tem muito pouco. Vamos entender melhor. Tanino é uma substância vegetal. Você já comeu banana verde? É o tanino da banana verde que amarra a sua boca.
A casca da uva tinta é rica em tanino e o vinho tinto é fermentado juntamente com as cascas, que podem ficar vários dias em contato com o mosto e transferem para o vinho o seu tanino, a sua cor e as famosas substâncias antioxidantes que fazem bem ao coração. O tanino, quando bem trabalhado pelo viticultor e enólogo, entrega para o vinho uma textura muito agradável, inclusive cria um volume na boca. Já o vinho branco é elaborado sem as cascas e, por isso, não tem tanino. O rosé é produzido com um rápido contato com as cascas. Assim, quanto mais clarinho for o rosé, ele terá menos tanino. Alerta! A uva americana com a qual é feito o vinho de mesa, além de ser pobre de açúcar, também é pobre de tanino e das substâncias benéficas à saúde.
Concluída esta longa, mas necessária introdução, vou apresentar cinco dicas para facilitar a experiência de quem deseja começar a apreciar vinho seco. A primeira consiste em concluir que, se o vinho branco não tem tanino, comece pelo branco seco, que será mais amigável na boca do que o tinto. De preferência para a casta Chardonnay que tem menos acidez do que a Sauvignon Blanc, por exemplo. Encontra-se uma grande variedade de Chardonnay brasileiro, chileno e argentino por um bom preço. Quando já estiver acostumado com o vinho branco, dê um pulo para os rosés mais claros e vá aumentando a intensidade da cor, até chegar aos mais escuros, com mais tanino. E, finalmente, estará bebendo tinto seco.
Na próxima semana teremos mais quatro dicas. Caso queria saber já, acesse em meu canal no Youtube, “Apaixonado por Vinhos”, o vídeo sobre este tema: https://youtu.be/LYroKJkCg4k.
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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