Você merece um Barolo - 2

Na semana anterior você descobriu que Barolo é uma Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) situada no Piemonte, Itália. O Barolo é elaborado com a uva Nebbiolo, gerando um vinho potente e estruturado. No passado era austero e difícil de beber, sendo necessárias, aos menos, duas décadas para que ele fosse amaciado. Mas, na década de 80, jovens produtores causaram uma revolução.

Uma das mudanças foi a produção de vinhos menos extraídos e a utilização de barricas menores no estilo francês, de 225 litros, no lugar dos “bottis” de centenas de litros. Imagine estes “revolucionários” descendo até a cave e cortando com motosserra aqueles imensos “bottis”, alguns com quase cem anos, para darem lugar às barricas menores. Uma barrica menor traz mais influência para o vinho do que a maior, por isso o processo de afinamento, de amaciamento, é acelerado. Em razão disso, hoje, o Barolo mais simples até pode ser consumido sem tanta espera. Mas, os grandes entregam uma maior complexidade depois de 10 anos.

As normas da DOCG Barolo determinam que o vinho seja feito 100% com Nebbiolo, o vinhedo deve ser obrigatoriamente cultivado no território demarcado e deve estar entre 180 a 540 metros acima do nível do mar. Mais: o vinho tem que permanecer maturando no produtor por 36 meses, dos quais 18 devem ser em barricas de carvalho, o restante geralmente é na garrafa. No caso do Reserva ele deve ficar cinco anos no produtor, dos quais dois anos no carvalho. Ainda há produtores tradicionais que utilizam grandes barris e há outros que empregam grandes e pequenos e fazem o blend de ambos. O tempo exigido para a maturação dos vinhos também é um dos fatores para o preço elevado deste vinho.

Vinho Barolo não é tudo igual. A diferença surge da localização e da altitude do vinhedo e também do respectivo solo. Na parte oeste, onde estão as comunas de Barolo e La Morra, encontramos um solo chamado de Tortoniano, de coloração escura, com presença de marga calcária compacta, em solos de textura arenosa; ricos em manganês e magnésio, os vinhos são usualmente mais perfumados, elegantes, macios, ficando prontos para o consumo mais rápido.

Na parte leste e sul, nas comunas de Serralunga, Castiglione e Monforte, predomina o solo Helvético, de coloração mais clara, mais solto e menos fértil, com altos níveis de ferro e fósforo, gerando vinhos de coloração mais intensa, maior corpo e maior potencial de guarda. São vinhos estruturados e firmes, que demandam maior tempo de maturação antes do consumo. Em resumo, na região de Serralunga os vinhos pedem um maior tempo de guarda, enquanto que na região de Barolo e La Morra os vinhos ficam prontos para beber mais cedo.

Já foi dito que Barolo é pálido, no sentido de ter pouca cor. Apresenta taninos e acidez elevados, com bom corpo e álcool no mínimo de 13%. Mas, o verdadeiro elemento central – que torna o Barolo um dos rótulos mais aclamados pela crítica do mundo inteiro - é seu refinamento complexo. Os melhores vinhos Barolo normalmente exibem elementos balsâmicos e florais frescos, com notas de alcaçuz, menta e eucalipto. Além de notas terrosas que lembram  alcatrão. Ainda é possível sentir certo tom de ervas, além de tabaco, frutas vermelhas, café, chocolate e trufas.

É um excelente acompanhamento para carne vermelha em bifes, “Steak Tartare”, pato, costela, fígado, além de pratos no qual se possa sentir um sabor predominante de cogumelos. Vai muito bem com um risoto cheio de sabor, chocolate amargo e com alto nível de cacau; queijos fortes, como Gorgonzola e Grana Padano.

Experimentar um Barolo é entrar em contato com o que há de melhor na fina arte dos vinhos.