Ourinhos | André Rosil

Liberdade abandonada

Você também se sente um hambúrguer gourmet em relação ao de caixinha?

Liberdade abandonada

Publicado em: 16 de julho de 2022 às 02:20

Da janela onde trabalho vejo quase todos os dias um grupo de moradores em situação de rua. Ficam sentados em roda, conversando ou ouvindo músicas. Aproveitam que ali existe uma cobertura para se abrigarem. Esse local, feito com teto metálico é conhecido localmente como lanchódromo.

Nesse espaço e à noite, é onde fazem hambúrgueres à moda antiga, ou seja, compram os congelados de caixinha de papelão e fritam na chapa. O gourmet não mora ali. Talvez esse gourmet, essa carne moída chamada e vendida como nobre, temperada e banhada ao molho barbecue com crispy de cebolas e cheddar, seja eu ou você.

Estou tentando entender porque aquela paisagem e aquelas pessoas me incomodam. Vejo nelas o Brasil desleixado e recheado com qualquer coisa química e gordurosa, menos com carne. Esse Brasil sou eu? Você?

Hoje é um dia qualquer para mim e para você, mas e para eles? Será que o “sextou” existe nos seus vocabulários, ou é mais uma data comemorativa do proletariado – ou precariado – que somos nós? Estamos no inverno, ou algo parecido com isso. Teremos sopa quente quando o clima nos enviar uma mensagem via aplicativo – que mundinho pequeno vivemos, não é? -, e eles?

Você também se sente um hambúrguer gourmet em relação ao de caixinha? Provavelmente você preferiria ser assado em uma churrasqueira na brasa, defumado e de maneira lenta, em um lugar só seu, e não simplesmente jogado em uma chapa e frito com óleo de soja ao lado de calabresas, milhos, ervilhas, tomate e cebola. Sentimos empatia, mas não queremos nos misturar. É isso mesmo? Eu não queria ter escrito isso, mas talvez seja a realidade.

Posso até refletir e tentar organizar meu pensamento, mas como diz o ditado: a carne é fraca. Isso é o que temos todos em comum. Sangramos quando algo nos espe(afe)ta.

Da minha janela consigo ler nos letreiros do lanchódromo, o nome daquelas empresas. Ali mesmo e em roda, aquelas pessoas que aqui já mencionei, são os ponteiros de seus próprios relógios. Elas marcam seus segundos e minutos. Elas não tem horas.

Muito além de enxergar as mazelas sociais, e os nossos privilégios de classe, provavelmente o que me incomode tanto neles seja essa liberdade abandonada que não escova os dentes para falar com um estranho na rua.


Ourinhos | André Rosil

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André Rosil é escritor, professor e servidor público na Secretaria Municipal de Cultura de Ourinhos-SP. É licenciado em história pela UNESP e especialista em Gestão Pública Cultural. Instagram:@andre_rosil


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