Ourinhos | André Rosil

Me senti grama diante daquele jardim

Que bom que mais uma vez pude me sentir nanico em frente a ela, ou a elas.

Me senti grama diante daquele jardim

Publicado em: 08 de junho de 2022 às 08:50

Não vou falar de imperialismo, que ainda existe, mas sim da palmeira imperial. Não vou explorar o fato de que é originária da região das Antilhas, mais especificamente das Ilhas Maurício e que chegou ao Brasil junto com a família real portuguesa. Existe Google para isso. Para quem não a conhece, ela é grande e chama muito a atenção.

Tratar da imperial, no caso, a palmeira, é falar de desigualdade, já que é muito grande em relação a muitas árvores, algo parecido com o nosso país, que é continental, e só como exemplo, cabem vinte Alemanhas aqui dentro, mas não vou por esse caminho. Prefiro afunilar e passar por um túnel que desembocará nas águas do Paranapanema, no lugar onde estou agora: Ourinhos, interior do Estado de São Paulo.

Domingo passado houve um evento na praça Mello Peixoto, lugar central da urbe. Mello Peixoto foi um homem que ocupou posição de destaque no cenário regional no início do século XX, porém de não muita influência nacional: grandezas diferentes. É aquela velha história de algo que se destaca, mas muitas vezes não vemos. Esse é o caso da palmeira imperial plantada no meio da praça Mello Peixoto, um dos “cartões postais” ourinhenses.

Estou tratando dela, porque sempre que cruzo a praça, não a vejo, e ela é tão grande e opulenta, que preciso parar, quase que tocá-la com os olhos dos lábios, se é que isso existe. O fato é que me incomoda muito essa sensação de invisibilidade – da minha parte, óbvio – e me sinto culpado quando coisa assim acontece.

Talvez isso tenha ficado mais latente, no último domingo, durante um evento ligado ao hip-hop, e adivinhe onde aconteceu? Na praça Mello Peixoto, entorno à palmeira. O hip-hop é como ela, ou seja, grande, mas que muitas vezes não enxergamos. E só para tensionar um pouquinho mais, normalmente o público presente nesses eventos, raramente vai ao teatro municipal, e novamente mais uma alfinetada – no meu ego -.

Fiquei feliz por terem sido contemplados, já que houve financiamento público envolvido na execução, mas também enrubescido, porque gostaria de vê-los com frequência participando dos outros eventos, que em sua maioria ocorrem no Teatro Miguel Cury – será que querem ou é apenas uma necessidade narcísica e burguesa da minha parte? -.

Neste último final de semana vi várias palmeiras imperiais sorrindo, movimentando os braços, dançando e sendo representadas. Embora grandes, imponentes e opulentas, muitas vezes acabam passando despercebidas pelas nossas vidas – que fique claro que estou falando da minha -. Que bom que mais uma vez pude me sentir nanico em frente a ela, ou a elas.

Domingo, durante o show do Coruja BC1 e das várias apresentações que o precederam, me senti grama diante daquele jardim. 


Ourinhos | André Rosil

Ourinhos | André Rosil

André Rosil é escritor, professor e servidor público na Secretaria Municipal de Cultura de Ourinhos-SP. É licenciado em história pela UNESP e especialista em Gestão Pública Cultural. Instagram:@andre_rosil


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