Pascoalino S. Azords

Desencapetamento total

Coluna de Pascoalino S. Azords

Desencapetamento total

Publicado em: 05 de novembro de 2022 às 10:30

Sempre que eu vejo uma nova promoção dessas igrejas da prosperidade, eu compartilho. Mais engraçados do que os novos comediantes, os despachantes de Deus se superam nas ofertas ou campanhas pela libertação, pela cura de doenças incuráveis, pelo loteamento do céu... Em sã consciência, ninguém cairia nesse estelionato, principalmente os meus amigos – por isso compartilho. Eu não consigo imagina-los adquirindo tijolinhos da edificação, fronhas e meias abençoadas, chaves ou canetas ungidas para estudante que não estuda se dar bem nas provas, pacotinhos de sal, de terra santa, de água benta, sabão em pó e sabonetes da purificação. Para centralizar num único ponto de venda todos os itens oferecidos pelas igrejas neopentecostais, o comerciante hoje precisaria de um hipermercado, ou de um parque de diversões.

Mas, sempre que eu vejo uma dessas promoções de igreja eu também me lembro do “Poderoso Chefão”. Mais precisamente, de uma informação de bastidores dada por Francis Coppola, o diretor do filme. Fazendo um resumo da trilogia, Coppola disse que no primeiro filme o crime estava nos pequenos delitos de rua, no contrabando e assassinatos por encomenda. Que no segundo filme, o mal tinha migrado para a política, representada pelo senador americano que se vende ao crime no prostíbulo. Quase 20 anos depois, Coppola chamou o escritor Mário Puzzo, seu parceiro nos dois primeiros filmes, e perguntou onde ele situaria o mais profundo círculo do inferno. O escritor respondeu de pronto: no narcotráfico. Coppola discordou. Para ele a raiz do mal então se achava na igreja. E assim, o terceiro filme começa com um notório criminoso sendo condecorado pela igreja católica em New York, passa pelo envenenamento do Papa João Paulo I, e se encerra com uma diabólica transação imobiliária inspirada no escândalo do Banco Ambrosiano, nas barbas do Vaticano.

O Poderoso Chefão, que originalmente se chama Godfatlher (God = Deus, father = pai, Godfather = padrinho) é trágico, operístico, da primeira à última cena filmadas entre 1972 e 1990, em três filmes pra lá de violentos.

Se acompanhasse a escalada de bixxpos, paxxtores, missionários, reverendos, apóstolos e outros despachantes de Deus, fiel à ideia de que o mal mora em igrejas, Francis Coppola hoje poderia filmar uma comédia no Brasil. A lista de produtos abençoados, a forma e a intensidade propostas para se dizimar (aqui no sentido contribuir e destruir o contribuinte), carnês, boletos, maquininhas para ofertar no cartão, transferência de imóveis e veículos para igrejas... Esse filme poderia se chamar “The End – o apocalipse já começou no Brasil”, com trilha sonora dos nossos sertanejos universitários, claro.

A maior dificuldade para Coppola talvez fosse encontrar atores para representar à altura os despachantes de Deus. Por que não convidar então aos próprios? Por um bom cachê, livre do Imposto de Renda, livre de cabelo e maquiagem, aposto que todos eles topariam!

Como pano de fundo, quem sabe o fato de que esses mascates têm hoje mais influência do que um dia Roberto Marinho teve sobre outros presidentes de maior patente. Mas precisa filmar logo porque, pelo andar da carruagem, logo seremos governados por um guarda de trânsito ou um sargento da guarda mirim. Dai, ao invés do Coppola, melhor chamar o Renato Aragão para nos imortalizar em celuloide.  

 

* Publicada em 13/01/2019 e republicada em 06/11/2022


Pascoalino S. Azords

Pascoalino S. Azords

Cronista, mantém coluna no DEBATE desde 1977


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