Pascoalino S. Azords

Dona Hilda e suas crianças

Coluna de Pascoalino S. Azords

Dona Hilda e suas crianças

Publicado em: 13 de agosto de 2022 às 05:43
Atualizado em: 13 de agosto de 2022 às 06:49

(Para meu pai,
que sabia o nome
completo de todos eles)

 

Quando assassinaram o marido da dona Hilda, há setenta anos, ela estava grávida do João, seu segundo filho, e acumulava as aulas no Grupo Escolar com uma cadeira na Câmara Municipal. Assim que se viu viúva naquele fim de mundo, Dona Hilda mudou-se para uma cidade mais civilizada, ou próxima da civilização, deixando para trás as aulas e o mandato de vereadora – nossa primeira vereadora. Se dependesse dela, aquele chão onde tombou o pai de seus filhos jamais tornaria a empoeirar os seus pés. Dona Hilda queria esquecer tudo, com razão, mas os seus alunos não conseguiram esquecê-la jamais!

Passados 43 anos, dona Hilda voltou. O Grupo tinha sido demolido e por isso levaram-na a uma outra escola para a homenagem. Na escola nova, construída em um novo bairro, um impessoal corredor a levou à porta de uma familiar sala de aula. Então, alguém lhe entregou a lista de presença. Dona Hilda deve ter respirado fundo antes de abrir a porta e reencontrar 37 dos seus 41 alunos. Trinta e seis, para ser exato, pois a Alfinha do Duquinha sempre chegava atrasada, como chegou teatral naquele dia, 43 anos depois. Então, dona Hilda disse aos alunos que eles podiam se sentar e passou a fazer a chamada. A lista com os nomes e sobrenomes dos 41 meninos e meninas, incluindo os ausentes, estava na cabeça do Bernardino que, para compensar os já falecidos, listou o nome de seus irmãos para aquela aula histórica.

É claro que a homenagem não reparou a dor maior de dona Hilda, mas, foi um jeito que a minha cidade achou de se penitenciar. Setenta anos depois, dona Hilda talvez tenha nos deixado na poeira acreditando que o amor verdadeiro é maior do que o tempo e a distância. Talvez tenha se convencido disso no momento em que fazia a chamada e seus 41 alunos responderam com uma voz quase irreconhecível e um tanto cansada: “Adinaldo Amadeu – presente. Alfa Brasileiro de Souza – presente. Alzira Celes – presente. Aparecida de Oliveira – presente. Azilpa Muniz – presente. Bento Garcia – presente. Bernardino Mendes de Seixas – presente...”.

 

* Publicada em 16/09/2018 e republicada em 14/08/2022


Pascoalino S. Azords

Pascoalino S. Azords

Cronista, mantém coluna no DEBATE desde 1977


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