Então é dezembro

Parece mentira, mas já estamos de novo em dezembro.

Estar em dezembro, para mim, é como voltar a um daqueles tantos países que eu não conheci. Minha autonomia de voo se resume a uma viagem de ônibus a Aparecida do Norte, onde me levaram para batizar. Mas existe uma extensa literatura, e as publicações das agências de viagem, e os guias turísticos... De forma que acabei tendo uma ideia do que seja o Caribe, a América, ou aquele imenso planeta chamado África. É tanta informação que hoje eu posso afirmar que conheço um pouco o Butão, o Paquistão, o Japão, e até o mercadão de São Paulo, onde se pode comer o pastel mais caro do mundo.

Com dezembro se dá a mesma coisa, só que pelo contrário. Tem toda uma tolice natalina que já estamos careca de ver. Tem o nervo exposto de uma pieguice brega de adulto que mal convence crianças. Tem o comércio aberto até 22h, como se o horário dilatado pesasse mais do que o orçamento doméstico na decisão de comprar. Tem a musiquinha das Casas Pernambucanas, o especial de fim de ano do Roberto Carlos, e o prefeito entregando a chave da cidade ao Papai Noel, como se fosse pouco onze meses de ilusão. Dezembro tem esse lado brega e terminal, um exercício sentimental de tolerância que fazemos em respeito a tantos profissionais que vivem disso: o eletricista que se desdobra para conseguir decorar as casas; o bom velhinho derretendo de calor naquela fantasia de cetim barato, com botas e barbas e luvas; quem tem as manhas de montar e desmontar o presépio na praça; o motorista da Coca Cola que ganha uma hora extra para nos proporcionar aquele desfile final com gosto de festa...

O dezembro desse ano está apenas começando e você já sabe que no fim do mês não será tão fácil como das outras vezes. Esse dezembro que nos ronda depois das eleições me parece mais uma vez com a volta a um daqueles tantos países que eu não conheci.

A árvore está montada – só nos resta subir.

* Publicada em 02/12/2018 e republicada em 30/09/2022