Pascoalino S. Azords

O homem que não queria ser chamado de doutor

Coluna de Pascoalino S. Azords

O homem que não queria ser chamado de doutor

Publicado em: 19 de novembro de 2022 às 20:22

Um dos conselhos de Carlos Drummond de Andrade para aqueles que com ele queriam aprender a escrever era: na dúvida entre dois adjetivos, não utilize nenhum. Quando tive que escrever sobre viagens, comidas e outros prazeres mundanos, eu me vali dessa lição do poeta. Ela tem também muita serventia para discorrer sobre literatura, música, cinema... Mas, quando a tarefa é escrever sobre uma pessoa como o professor Celso Fleury Moraes, você pode deixar de seguir à risca o que Drummond ensinou. Pode não, tem que deixar.

O professor Celso não soube, ou não quis ser mais um novo rico da sua cidade. Preferiu formar pessoas com caráter do que ganhar dinheiro. Para melhor ensinar inglês em escolas públicas, ele foi morar nos EUA por um ano. Quando se aposentou, foi cursar Direito em Jacarezinho, com viagens noturnas que somavam mais de 100 quilômetros por dia, durante cinco ou seis anos. Eu estive na formatura. Era evidente o respeito e o carinho que lhe dedicavam os seus colegas de turma, todos 30 anos mais jovens do que ele. Advogou por mais de vinte anos, mas sempre dispensou o título de doutor — preferia ser chamado de professor.

Na última terça-feira eu estive no seu velório. Parecia um totem horizontal cercado de flores, de amigos e familiares. As pessoas falavam baixo, mas eram unânimes em dizer o quanto a cidade estava perdendo com a sua partida. Aproximei-me do caixão e vi que as três canetas que ele sempre trouxe no bolso da camisa estavam lá. E mais para o centro, a gravata dos personagens do Walt Disney com que pediu para ser sepultado. Em local destacado, sobre o seu coração, o Pateta! Acho que foi um jeito que o professor achou de tornar o seu velório menos triste.

Celso Fleury Moraes foi uma das pessoas mais corretas que conheci. (Olha os adjetivos aí) Marido apaixonado e respeitoso, pai incentivador e presente, avô e bisavô muito divertido apesar da sua imensa erudição. Tenho certeza de que eu não teria encontrado em qualquer lugar do mundo, mais cedo ou mais tarde, um avô melhor para os meus filhos. Eles, meus três filhos estavam mais tristes na terça-feira passada ao se despedir daquele avô tão sábio e engraçado, assim como Santa Cruz do Rio Pardo já estava imensamente mais pobre de algo que não se mede em dinheiro.

 

* Publicada em 10/02/2019 e republicada em 20/11/2022


Pascoalino S. Azords

Pascoalino S. Azords

Cronista, mantém coluna no DEBATE desde 1977


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