Pascoalino S. Azords

O joio e o trigo, juntos

Coluna de Pascoalino S. Azords

O joio e o trigo, juntos

Publicado em: 03 de dezembro de 2022 às 12:41

“Assim foram exterminadas todas as criaturas que haviam sobre a face da terra, tanto o homem quanto os grandes animais, os animais que rastejam e as aves do céu; todos foram exterminados da terra; restaram somente Noé e os que estavam com ele na arca”. (Genesis, 7, 23)

Ao pé da letra, a Arca de Noé caberia num campo de futebol. A comparação talvez não seja a mais apropriada, afinal, os ingleses só botaram a bola pra rolar milênios depois. Mas, respeitando fielmente as medidas que estão no primeiro livro da Bíblia, holandeses e americanos puderam reconstruir réplicas da excepcional barcaça. A arca dos holandeses até que navega; já a dos americanos não foi feita para isso, mas apenas para receber turistas do mundo inteiro em Kentucky. Acredito que o Brasil um dia também terá a sua arca num desses parques aquáticos, com a vantagem da gente dispensar intérprete e ainda poder pagar em Real.

Mal comparando, novamente, a Arca de Noé seria do tamanho do Anna Nery, o último transatlântico brasileiro, onde trabalhei aos 18 anos de idade. Nas últimas viagens, seus motores cansados afogavam em alto mar sem que nenhum dos 1.200 felizes passageiros desconfiasse. O último apagão se deu em Manaus, de onde o navio foi recolhido a um estaleiro na Iugoslávia para nunca mais voltar.

Se na Arca de Noé coube tudo o que viríamos a conhecer depois do dilúvio, no Anna Nery passeavam casais em lua-de-mel, um respeitável time de idosos e muitas professorinhas encalhadas. Eu mesmo namorei uma mineira de BH que tinha quase o dobro da minha idade! Sem falar nos tripulantes que, aparentemente, não contavam para o Lloyd Brasileiro. Digo isso a título de informação para quem não desfrutou de um cruzeiro em alto mar, porque na Arca, como todos sabem, viajavam girafas, pernilongos e calopsitas, elefantes, vacas e jumentos para futuros presépios – tudo de dois em dois.

Eu sempre me lembro da velha Arca quando adentro uma agência bancária refrigerada em dias de calor. Por que lá fora não está fresquinho assim? Podia ser o contrário: fresquinho lá fora e um calor infernal aqui dentro do banco. Parece absurdo, mas essa é a lógica que fez com que o Criador, ao constatar “que a maldade dos homens na terra era grande”, resolvesse destruir não apenas o homem, “como o gado, os animais que rastejam e as aves do céu” (Genesis 6.7)

Que tanto teria aprontado o homem para em apenas dez gerações (de Adão e Eva a Noé) ter estressado o Criador? Que destino nos daria Ele hoje, depois da descoberta da pólvora, da bomba atômica, dos paraísos fiscais, dos motéis e dos telefones celulares?  

Não estou está aqui para chorar o leite derramado. Mas, fosse eu, faria justamente o contrário. Lotava a Arca com tudo o que me desagradava e despachava aquele tataravô do Titanic para algum mar morto, sem remorso e sem volta. Quem haveria de dar pela nossa falta?

 

* Publicada em 24/02/2019 e republicada em 04/12/2022


Pascoalino S. Azords

Pascoalino S. Azords

Cronista, mantém coluna no DEBATE desde 1977


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