Linha aérea da Vasp tinha escala no aeroporto de Santa Cruz do Rio Pardo
Publicado em: 17 de novembro de 2023 às 22:47
Atualizado em: 18 de novembro de 2023 às 18:34
Sérgio Fleury Moraes
Um grave acidente aéreo ocorrido em 1951 na cidade de Rancharia/SP foi o tema de um documentário do cineasta João Francisco Cunha lançado em 2015 e exibido no “Palácio da Cultura Umberto Magnani Netto” no ano seguinte. A produção ganhou visibilidade ainda maior na semana passada, quando o canal “Aviões e Músicas” do Youtube, apresentado por Lito Souza, contou a história do desastre baseado no documentário de Cunha.
Na verdade, a ideia do documentário surgiu quando o cineasta e um grupo de amigos ficou intrigado com as revelações de testemunhas oculares do acidente, quase todas contando sobre possíveis falhas no motor e até incêndio. O avião estava em baixa altitude e bateu numa árvore, matando todos a bordo no dia 18 de maio de 1951. Na época, o relatório da Aeronáutica culpou o piloto, João Rizzo, que teria sido imprudente.
No entanto, João Cunha teve contato com uma reportagem antiga do DEBATE sobre uma passageira que desembarcou em Santa Cruz do Rio Pardo antes de o avião seguir viagem e cair. Através do jornal, ele chegou à passageira, a professora aposentada Ondina Taveiros Mendes – que morreu em 2016, aos 91 anos. Ela acabou sendo a principal personagem do documentário “Rancharia e o Desastre Aéreo de 1951”.
O vídeo de Lito Souza, falando sobre o caso, “viralizou” em Santa Cruz do Rio Pardo através de grupos do WhatsApp e do Facebook. O assunto que despertou interesse em 2015 voltou à pauta através do canal “Aviões e Músicas”.
O acidente aéreo envolveu um DC-3 da Vasp, pois na década de 1950 havia um aeroporto em Santa Cruz do Rio Pardo e a empresa aérea tinha voos regulares para São Paulo e Presidente Prudente. Na praça Leônidas Camarinha, por exemplo, ainda há um antigo banco (localizado em frente aos Correios) com a propaganda da Vasp e o telefone da antiga agência de aviação.
A tragédia esteve intimamente ligada a Santa Cruz do Rio Pardo. Primeiro, porque o piloto que faria o voo era Eça Taveiros, irmão de Ondina e funcionário da Vasp durante muitos anos. Aquele triste dia começa no aeroporto de Congonhas, o único que existia em São Paulo em 1951 para voos comerciais. O piloto escalado para fazer o trajeto São Paulo-Presidente Prudente, com escala em Santa Cruz do Rio Pardo, era o comandante santa-cruzense Eça Taveiros.
No saguão, pouco tempo antes do voo, Taveiros se encontra com o amigo João Rizzo, que o procurava desesperadamente. Rizzo contou que tinha negócios para tratar em Presidente Prudente e, por isso, propôs trocar o voo. O voo original de Rizzo era para o Rio de Janeiro e Eça concordou, desde que o amigo levasse a bordo do DC-3 sua irmã Ondina Taveiros Mendes. O acordo entre ambos foi fechado.
Eça, então, seguiu com outro DC-3 para o Rio de Janeiro e, neste ponto, o mistério do desastre aéreo começou a ser esclarecido muitos anos depois da tragédia. Na verdade, o voo para Presidente Prudente atrasou, conforme relato que Ondina fez ao DEBATE há muitos anos e, depois, no documentário do cineasta João Francisco Cunha.
Ondina contou que, naquela manhã de 1951, esperou muito tempo dentro do avião, já numa das pistas do aeroporto, porque mecânicos da Vasp consertavam um problema no motor. Segundo ela, o motor “pipocava” ao ser acionado. O DC-3 tinha dois motores a pistão, transportava até 30 passageiros e era considerada uma aeronave muito segura. Pousava, inclusive, em qualquer pista e, na época, o aeroporto de Santa Cruz do Rio Pardo não tinha asfalto.
Com a demora, segundo Ondina, deu tempo para um passageiro atrasado alcançar o voo. Ele correu pela pista do aeroporto e, com a passagem em mãos, e entrou no avião. Era Eikichi Tsuzuki, que iria viajar para Presidente Prudente. Ele entrou esbaforido no avião e sentou-se ao lado de Ondina, exclamando: “Que sorte!”. Tsuzuki seria uma das vítimas do desastre.
Depois do motor reparado, o avião decolou com destino a Santa Cruz, sua escala antes de chegar a Prudente. Ondina desembarcou e foi dar aula numa escola da cidade.
Minutos depois, veio a notícia. O avião D-3 caiu em Rancharia, matando todos os passageiros e tripulantes. A aeronáutica culpou o piloto João Rizzo por estar voando baixo em condições de chuva forte, sem muita visibilidade, quando bateu numa árvore e explodiu.
O relato de Ondina Taveiros, entretanto, mostra que a aeronave pode ter sofrido alguma pane no motor. Assim, o comandante João Rizzo, em condições climáticas adversas, pode ter reduzido a altitude para tentar fazer um pouso de emergência. Naqueles tempos, não havia caixas-pretas nestes aviões DC-3 e muito menos equipamentos para voar por aparelhos. Assim, o comandante tentava enxergar o solo, o que se chama “voar por contato”.
Todos os tripulantes do avião foram sepultados em São Paulo, com os jazigos lado a lado. O comandante santa-cruzense Eça Taveiros permaneceu chocado com a perda do amigo durante muito tempo, lembrando que a morte deveria ser dele.
Ondina Taveiros, a principal personagem daquele voo da Vasp, morreu em 2016, mas teve tempo de assistir ao documentário “Rancharia e o Desastre Aéreo de 1951”. A produção está disponível no Youtube, assim como o episódio relatado pelo canal “Aviões e Músicas”.
Previsão do tempo para: Quinta
Durante a primeira metade do dia Períodos nublados com aguaceiros e tempestades com tendência na segunda metade do dia para Períodos nublados com chuva fraca
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