CULTURA

‘Fami’ de Ipaussu tem origem histórica

Entidade que atende crianças e idosos começou em 1946 com a fazendeira Sebastiana da Cunha Bueno

‘Fami’ de Ipaussu tem origem histórica

Na entrada da instituição, há uma capela construída por Sebastiana da Cunha Bueno

Publicado em: 21 de abril de 2023 às 01:19

Sérgio Fleury Moraes

 

Não fosse pelos carros modernos na porta ou pelos prédios muito bem conservados, quem visita a Fami — Fundação Assistencial do Município de Ipaussu — pode se imaginar dentro de um túnel do tempo, de volta aos anos 1940 e 1950. É que toda a estrutura é a mesma da antiga “Fundação Henrique da Cunha Bueno”, fundada pela fazendeira benemérita Sebastiana da Cunha Bueno em 1946. Na época, porém, era uma instituição de acolhimento, que em 2001 tornou-se Fami.

Sebastiana foi uma rica fazendeira e chegou a ser prefeita de Ipaussu em 1946. Ela custeava integralmente as despesas da instituição, dava frequentemente presentes para as crianças e, no Natal, levava grupos para passeios em sua fazenda.

 

A fazendeira Sebastiana da Cunha Bueno morreu em 1977

 

Era uma mulher bondosa, benemérita e tão importante que hoje é nome de rua no bairro do Morumbi em São Paulo. Em Ipaussu, existe um bairro residencial com seu nome, além das lembranças da antiga instituição.

Casada com Henrique da Cunha Bueno, ficou viúva muito cedo, aos 44 anos. Com pulso firme, virou uma baronesa do café e, ao construir a instituição, homenageou o marido dando o nome dele à fundação. Henrique era 30 anos mais velho.

 

SINTONIA — Equipe de trabalho da Fundação Assistencial do Município de Ipaussu (FAMI)

 

Durante décadas, a instituição cuidou de meninas em regime de internato — os meninos iam para a Fundação Sylvestre Ferraz Egreja.

Todas as construções da instituição foram planejadas por Sebastiana, inclusive a capela na entrada da antiga fundação. Provavelmente são feitas de tijolos fabricados na fazenda da família, que levava as iniciais “HB” em cada unidade.

Religiosa, Sebastiana ainda fez questão de uma outra capela, menor, no interior do prédio que abrigava as crianças. As portas são imensas, os corredores longos e há muitos quartos para as meninas.

 

Capela interna da instituição

 

Duas ex-internas visitaram a atual Fami na semana passada. Elas se lembram que durante algum tempo a instituição de Sebastiana da Cunha Bueno foi comandada por madres da Ordem Coração de Jesus.

Maria de Lourdes Zaneti, 65, entrou na fundação com seis anos. “Fui obrigada. Minha mãe ficou viúva muito nova e não tinha casa para morar. Como era enfermeira na Santa Casa, morava no hospital”, contou. Ela virou interna junto com outra irmã, de apenas três anos. “Foi um choque para mim”, afirmou.

Lourdes se lembra de “dona” Sebastiana, que todas as crianças chamavam de “vó”. Ela conta que a fazendeira fazia questão de cortar o cabelo de todas as meninas.

 

 Sebastiana e Lourdes, que foram alunas internas da antiga fundação

 

Sebastiana dos Santos Germano, 69, foi acolhida da fundação da baronesa do café e, já adulta, continuou trabalhando no local. Assim, no total, permaneceu entre 1958 e 1998, “Foi praticamente minha casa”, disse.

A história dela se resume à morte da mãe e um novo casamento do pai. “A nova mulher dele não me quis e ele concordou em me deixar na instituição”, contou. Eram duas irmãs e um menino, todos distribuídos pelo pai em instituições de Ipaussu.

“Mas só tenho boas lembranças da fundação. A dona Sebastiana também cortava meu cabelo e me dava presentes. Ela contratava médico e dentista para, uma vez por mês, atender todas as crianças”, lembra.

Sebastiana Germano lembra que a fazendeira era rígida, mas com um coração enorme. “Naquela época havia muita disciplina”, disse. Segundo ela, os uniformes eram impecáveis.

A “Fundação Henrique da Cunha Bueno” foi extinta anos depois da morte de Sebastiana Cunha Bueno, que ocorreu em 1977. Em 2001, na mesma área, agora doada pela família para funcionar como entidade filantrópica, surgiu a Fami, que passou a atender crianças em situação de vulnerabilidade familiar ou estudantes de escolas públicas no período de contraturno. Algumas são encaminhadas pelo Conselho Tutelar de Ipaussu.

No total, são quase 50 crianças, além de um grupo de 40 idosos que é atendido quatro vezes por semana, com aulas de dança e ginástica.

 

Nos dois períodos, crianças ganham lanches na entrada e na saída

 

A psicóloga Giovana Galvanin da Costa, coordenadora da Fami há um ano, lembra que a instituição sobrevive com promoções e emendas de deputados e até de vereadores, já que este benefício existe na Câmara de Ipaussu.

Outra fonte de renda são casas na cidade deixadas por Sebastiana da Cunha Bueno como fonte permanente de recursos para a entidade através dos aluguéis.

A Fami desenvolve uma série de atividades para as crianças, inclusive judô e aulas de capoeira. Na sala onde está o tatame para a prática do judô, há dezenas de troféus e medalhas. Os alunos também têm aula de música e, dentro de algumas semanas, de informática.

“O prédio é todo original. Claro que há algum tipo de reparos em vários locais, mas todas as características foram preservadas. Até as telhas são antigas”, conta Giovana.

Lucimara Pereira da Silva Adriano é outra psicóloga que atua na Fami. Ela conta que as crianças têm atividades de artesanato e, dentro de algum tempo, terão aulas de culinária.

 

Viveiro da entidade será implantado por Renato

 

A instituição tem até um técnico que está implantando um viveiro de mudas. É Renato Emiliano Rosa, que iniciou o projeto há setes meses. “A ideia é criar uma nova fonte de renda”, diz. Ele disse que haverá um site na internet para vendas de mudas de quaresmeira, palmeira, resedá, ipê de cores variadas e outras. “No total, teremos 10 mil mudas para venda”, disse.

Enfim, com o nome de Fami,  o sonho da fazendeira Sebastiana da Cunha Bueno continua vivo em Ipaussu.

 

* Colaborou Toko Degaspari

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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