O farmacêutico é massagista José Figliolia cuidando do jogador Padaia, na concentração do time
Publicado em: 26 de agosto de 2023 às 03:04
Atualizado em: 26 de agosto de 2023 às 03:17
Miguel Moyses Abeche Neto
Da Equipe de Colaboradores
1963 foi um ano de grandes emoções, algumas alegres e outras tristíssimas. Vamos falar das alegres, das inesquecíveis tardes de domingo no estádio “Leônidas Camarinha”, no alto da vila Sidéria, como diziam os locutores da equipe esportiva da antiga ZYQ-8, a rádio Difusora Santa Cruz. Esses também eram tão apaixonados como a barulhenta e fiel torcida da Esportiva Santacruzense.
Tão apaixonados que, mesmo a Esportiva levando um passeio na sua primeira partida da Primeira Divisão em São José do Rio Preto, contra o América dirigido por Rubens Minelle, quando o placar já demonstrando a superioridade do clube que subiria nessa temporada para a Divisão Especial, o locutor Benedito Camarinha Machado informava o 7x0 para o América, mas ressaltava que a Esportiva “jogava de igual para igual”. Pura paixão dos anos mais emocionantes do futebol e da vida dos santa-cruzenses.
Mas toda essa paixão que tomou conta da cidade - e principalmente da garotada apaixonada por futebol - teve início em 1962, com a volta do tricolor ao futebol profissional. A nova diretoria formada por Antônio Yoneda, Almeida (então gerente do Banco Mercantil de São Paulo), Felipe Saliba e Cláudio Catalano trouxeram respeito e confiança nas ações por eles tomadas para montar uma equipe competitiva e com chances de brilhar na Segunda Divisão.
O início foi difícil. Era um time basicamente local e que tinha dificuldades de treinar e de viajar, já que todos trabalhavam. Porém, foi aos poucos sendo modificado com a chegada de jogadores profissionais que poderiam se dedicar exclusivamente ao futebol. Primeiro vieram Dido, Dino, Peixinho e Edson.
Dino ficou pouco tempo, mas Peixinho num primeiro momento tornou-se ídolo da torcida. Todavia, a empatia durou pouco, pois o jogador era temperamental e rebelde ao esquema montado pelo recém-chegado Beto Mendonça, o novo técnico. Assim, Peixinho acabou se desligando da equipe.
Beto Mendonça havia dirigido o Mirassol no campeonato de 1961 e estava sem clube. Uma noite, no restaurante “Gato que Ri”, no Largo do Arouche em São Paulo, o professor de educação física Jorge Bugarib sentou-se ao lado de um advogado de Mirassol em início de carreira. A conversa acabou no futebol. A Esportiva estava sem técnico e o advogado Neto Fleury (primo-irmão do ex-governador Luiz Antônio Fleury), ao saber da lacuna no comando técnico, falou sobre Beto Mendonça e suas qualidades.
Bugarib — ou “Buga” como era conhecido e reverenciado pelos alunos que o adoravam (fui seu aluno) —, levou essa conversa a Felipe Saliba que, com o apoio de Toninho Yoneda, abriu a conversa com Beto Mendonça e o trouxe para Santa Cruz do Rio Pardo.
Beto Mendonça tinha suas peculiaridades: A mulher assistia aos jogos ao seu lado no banco de reservas, caso único da história do futebol. Quando encerrava o primeiro tempo e Beto ia para o vestiário para orientar a equipe, a mulher ia para o gol em que o goleiro adversário defenderia no segundo tempo e fazia suas orações, jogando balas e um líquido que carregava em um pequeno frasco no espaço a ser atacado pela Esportiva. Se funcionava ninguém nunca soube, mas a verdade é que os gols do nosso tricolor saíam em sua maioria no segundo tempo. Como dizem os espanhóis: “Yo no creo en las brujas, mas que las hay, las hay”.
Beto Mendonça e sua esposa moraram, durante os três anos que estiveram na cidade, no “Grande Hotel”, que era do Felipe Saliba. Aos sábados à noite, ele e a companheira iam ao Clube dos XX jantar no restaurante dirigido pelo conhecido Pedro, e depois dançavam ao som do Mario Nelli e seu conjunto - e que conjunto fabuloso! - com o “croner” Gilberto Salomão.
Beto Mendonça promoveu Davi Andrade na ponta esquerda. Davi era um Touro, forte, com chute potente e veloz. Em seguida chegaram Celso Simões, Suingue, Milão e Bravo. Também retornou o grande Mendonça, que havia brilhado na Prudentina. Elias e Cláudio se juntaram à equipe. Padaia, Zé Dias, Nelson e Álvaro Lorenzetti eram de Santa Cruz do Rio Pardo. Também ajudaram a Esportiva no início do campeonato Mardegan, Omar, Kiko Fraga, Clodo Lorenzetti, Geraldo Carcereiro e Boquinha (de Ipaussu).
Foi nesse ano que as mulheres começaram a frequentar o estádio “Leônidas Camarinha” para ver os namorados ou paqueras jogando. O futebol ficou mais bonito com a presença feminina, que dava um toque mais doce nas tardes de domingo.
Mas a Esportiva ia mal das pernas até o jogo contra a Ourinhense. Foi o momento mágico da mudança, quando tudo começou a se encaixar, a dar certo. A Ourinhense tinha um bom time com o goleiro Zague e o central Savério, que foi campeão pelo São Paulo e jogou ao Lado de Mauro, Bauer, Rui e Noronha.
Naquela tarde de domingo de final de 1962 a Esportiva jogou com Dido, Celso e Padaia; Zé Dias e Nelson, Suíngue e Milão; Edson, Mendonça, Bravo e Davi. Deu um passeio na Ourinhense em pleno estádio “Pequeno Maracanã”, como era conhecida a arena de Ourinhos. Bravo marcou os três gols do placar de 3x0. Foi o jogo perfeito, que assisti ao lado do meu amigo José Carlos Siqueira, do seu pai José Batista Siqueira, e do saudoso Ari Amaral.
Dali para frente, foi um show que só quem viveu sabe da dimensão e da alegria que o time proporcionou a Santa Cruz do Rio Pardo, principalmente à garotada da “Joia da sorocabana”.
Trago até o hoje toda a emoção que aquele time deu a todos os que não perdiam os jogos dos domingos à tarde nos altos da Vila Sidéria.
Eu e o futebol... uma história
Miguel Moyses Abeche Neto
Da Equipe de Colaboradores
Era uma tarde de domingo de abril de 1963. A Esportiva ia jogar em Assis contra a Ferroviária e eu louco para ir. Meu pai, ‘Seu’ Lilo Abeche, resolveu não ir. Ao sair da minha casa na rua Conselheiro Antônio Prado e passar em frente ao bar do Guido Dainesi, encontrei com o Ninho Manfrim e o João Negrão, que estavam alugando uma Kombi para acompanhar o jogo da Esportiva em Assis.
Eu tinha 11 anos e perguntei se poderia ir com eles. O Ninho, ainda solteiro, morava com seus pais Natal e Amália Manfrim, grandes amigos dos meus pais. O Ninho aceitou, desde que meu pai autorizasse.
Fui até a minha casa, voltei e disse que meu pai havia deixado eu viajar e, como “prova”, paguei a minha parte do aluguel do táxi.
Meu pai não havia autorizado nada. Na verdade, nem falei com ele, mas o espírito aventureiro e a paixão pelo futebol me levaram a esconder que não havia pedido e nem meu pai havia autorizado.
Terminado o jogo em 2x2, achei que retornaríamos a Santa Cruz do Rio Pardo imediatamente. Os jogos começavam às 15h e terminavam às 17h. Pelos meus cálculos, no máximo às 18h30 estaria de volta, o que não causaria problema nenhum.
Acontece que esse pessoal era chegado num chope e não havia bar com esta bebida em Santa Cruz. Ao sair do estádio, meus amigos mais velhos resolveram parar num bar que ficava bem em frente ao hotel Santa Rosa, que era todo pintado de rosa, como a “Casa Rosada”, o Palácio do governo argentino.
Entre um chope e outro, chegou a cantora Leny Eversong, que tinha uma voz maravilhosa e havia emplacado um grande sucesso que tocava várias vezes por dia na ZYQ-8. A música era pedida diariamente no Programa “O telefone é quem manda”, comandado pelo animador e radialista José Eduardo Catalano.
Aí o Ninho, que tinha a mania de cantor e uma voz de barítono, começou a fazer um dueto com Leny Eversong. E eu, com muita fome, olhava no relógio o tempo voando e o medo começou a tomar conta dos meus pensamentos. “Hoje eu vou apanhar”.
A pedido do dono do táxi, finalmente estávamos voltando para Santa Cruz. Porém, ao passar por Ibirarema, o Ninho quis entrar na cidade que seu irmão Nico Manfrim havia morado. Para aumentar meu sofrimento, havia uma quermesse na praça. Mais cerveja e eu, já sem dinheiro (que havia ficado com o táxi e o ingresso do futebol), morrendo de fome e de medo da cinta do meu pai.
Chegamos em Santa Cruz às 21h. Corri para tomar um banho e ir para o Clube dos XX encontrar meus pais e inventar uma desculpa qualquer. Quando estava no banho, meu pai chegou e, já sabendo da lorota que eu havia contado, aquele homem doce e calmo se transformou e desceu a cinta em pleno banho.
Toda a vizinhança estava me procurando, principalmente no rio Pardo, onde eu sempre estava. Apanhei. Foi a segunda e última vez que apanhei. Me desculpem os que defendem a severidade, mas faria tudo de novo para ver a Esportiva daqueles tempos gloriosos e românticos. Era pura paixão pelo futebol.
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