A lendária locomotiva a vapor que fazia a linha entre Santa Cruz e o distrito de Sodrélia passa por uma estrada que serve ao bairro rural do “Cebolão”
Publicado em: 06 de outubro de 2023 às 15:31
Atualizado em: 06 de outubro de 2023 às 15:38
Sérgio Fleury Mores
Uma porteira, a placa indicando passagem de nível e uma estrada que se perde ao longe, com destino ao bairro do “Cebolão”. Para completar a cena bucólica, a locomotiva “Maria Fumaça” passando a caminho do distrito de Sodrélia. A fotografia foi obtida pelo comerciante Leandro Moraes Paula Assis, que comanda uma tabacaria em Santa Cruz do Rio Pardo.
Colecionador de objetos antigos, Leandro tem um carinho especial pela história da cidade. De Santa Cruz, ele guarda flamulas, botons comerciais ou de campanhas políticas e até caixas de fósforos com propaganda de candidatos.
Nos últimos tempos, ele conseguiu três raridades. Duas fotos da locomotiva que fazia o trajeto no ramal entre a estação de Santa Cruz do Rio Pardo e Bernardino de Campos, passando pelo distrito de Sodrélia, foram conseguidas de uma maneira inusitada, quando as imagens teriam o lixo como destino.
Ele contou que um comerciante de reciclagem percebeu as fotos num lote de papel e papelão que comprou de um cliente e resolveu avisar Leandro. Claro que as imagens ganharam um novo dono.
Leandro explicou que o pai, o ex-prefeito Otacílio Parras (PSB), que nasceu no bairro rural do Caetê, reconheceu numa das fotos a ligação antiga que saía da estrada em direção a Sodrélia. Na verdade, a ferrovia passava ao lado da estrada antiga, hoje pavimentada e com o nome de “Vicinal Anysio Zacura”.
O comerciante, entretanto, possui outra preciosidade, que está emoldurada num pequeno quadro. É uma passagem de trem de Sodrélia até Santa Cruz do Rio Pardo. O bilhete tem o número 5995, o timbre da Estrada de Ferro Sorocabana e indica que o portador tem direito a viajar na primeira classe.
Várias imagens conhecidas da antiga locomotiva mostram que havia de três a quatro vagões de passageiros, indicando que havia grande movimento entre a estação de Santa Cruz e Sodrélia. A explicação é que o distrito teve grande desenvolvimento nas décadas de 1930 e 1940, principalmente pelo avanço da agricultura e do café.
Não é por acaso que em dezembro de 1935 o jornal “Correio de S. Paulo” publicou duas páginas a respeito de Sodrélia, enaltecendo o “progresso” do distrito de Santa Cruz do Rio Pardo. Há, inclusive, anúncios de empresas sediadas em Sodrélia.
O trem chegou a Santa Cruz em 1908 e o município havia perdido o tronco principal da Sorocabana, cujo trajeto foi modificado. Entretanto, a prefeitura bancou a construção do ramal até Bernardino de Campos e assumiu uma dívida gigantesca, que só foi perdoada muitos anos depois. Em 1966, o ramal foi definitivamente extinto, quando os governos estadual e federal já não se importavam em sucatear a malha ferroviária.
* Colaborou Toko Degaspari
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