CULTURA

Leitura em baixa!

Leitura em baixa!

Publicado em: 17 de agosto de 2018 às 05:40
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 10:47

Bibliotecas, livrarias e sebos dizem que procura por livros

está cada vez menor; município não investe em novas obras

André H. Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Uma sociedade se faz com homens e livros”. A frase do escritor Monteiro Lobato, um dos maiores escritores de livros infantis do Brasil, pode parecer fora de contexto nos dias atuais. Afinal, o livro ainda é ignorado por milhões de brasileiros — 30% da população nunca comprou um livro. A pesquisa mais recente indica que 56% da população se consideram leitores. Isto significa um crescimento de 6% no período de 2015 a 2016, mas é muito tímido, ainda mais levando-se em consideração o crescimento populacional e das crianças em idade escolar.

Em 2016, o Ibope fez a pesquisa para o instituto Pró-Livro e concluiu que 44% da população não lê. Para a amostragem, leitor é aquele que, nos últimos três meses, leu ao menos alguma obra. Essa mesma pesquisa indicou que 67% da população afirma não ter tido uma trajetória favorável ao desenvolvimento do hábito da leitura. Os não leitores justificam não ter tempo, paciência, dificuldades ou gosto para ler. Mas também há aqueles que simplesmente não gostam de ler e preferem outras atividades.

Segundo o Banco Mundial, o Brasil só deve atingir os níveis internacionais de leitura em 260 anos. Dados do Índice de Cultura Mundial sugerem que o brasileiro lê, por semana, durante 5h12min. A população da Índia, em contrapartida, tem uma média de 10h42min. O resultado é que, entre 2006 e 2017, o mercado de livros no País caiu 21% segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Na verdade, livrarias, bibliotecas, sebos e até escolas sofrem com a falta de leitura. Santa Cruz do Rio Pardo não é exceção. É o que admite, por exemplo, Djalma de Souza Marques, 59, proprietário do “Sebo Literário” há 15 anos. Para ele, a leitura nunca sofreu tanto quanto nos últimos anos. E Djalma entra na ferida para analisar a causa principal. “Isto acontece devido à internet. Antes, as vendas eram boas. Agora as pessoas baixam livros na internet e costumam passar a maior parte do tempo nas redes sociais”, avaliou.

Djalma conta que os poucos jovens que ainda procuram livros vão em busca de obras requisitadas pelos vestibulares. São impulsionados pelos professores para trabalhos escolares. “O que mais sai é literatura brasileira, tudo aquilo que as escolas pedem”, diz Djalma.

Nem mesmo os adultos escapam desse declínio. “Há alguns anos, o público adulto que frequentava o sebo era uma coisa incrível. Hoje, no entanto, caiu muito”, admite.

Já Flávio Frederico, proprietário da livraria Empórium há 10 anos, discorda em parte. Segundo ele, a venda de livros diminuiu, mas o fator principal é a crise. Ele diz que o agravante é o alto preço dos livros. “Em tempos de crise, o jovem se afasta da livraria”, diz.

Além disso, Flávio considera que o jovem atual não vê, como prioridade, a leitura, exceto na primeira infância. “Nas escolas, há uma preocupação maior no primeiro ciclo da infância. As bibliotecas são constantemente atualizadas. Entretanto, no decorrer da vida, essa preocupação — até mesmo pessoal — desaparece”, afirma.

Débora e Vânia acreditam em livros digitais num futuro próximo



Na escola

Vânia Regina dos Santos, 46, foi bibliotecária do Colégio Camões de 2010 a 2016. Segundo ela, neste período o número de livros alugados pelos alunos também caiu. “Os mais novos, do Ensino Fundamental 1, vêm a mando do professor, pois têm de escrever um pequeno resumo das histórias. Quando chegam no 6º ano, porém, não são mais obrigados a fazer os resumos e passam a ter menor interesse nas obras”, disse.

Em 2010, quando ingressou na biblioteca, Vânia disse que alegrava-se ao perceber alunos do Ensino Médio com interesse em livros. “Contudo, ao longo dos anos eles foram desaparecendo”, lamentou.

Débora Cristina Catalano, 47, é a atual bibliotecária do Camões. Além de confirmar o raciocínio de Vânia, ela reitera que a tecnologia é a principal vilã da leitura nos dias atuais. “É uma corrida contra o tempo. É muita informação pronta para os alunos e ainda estamos nos adaptando aos poucos”, relata. As duas, porém, acreditam que, num futuro muito próximo, os livros físicos serão substituídos pelos digitais.




Adriana diz que muitos títulos procurados não existem na biblioteca



Falta de livros prejudica

leitura, diz bibliotecária

Para piorar a queda na leitura, há absoluta falta de investimentos nas bibliotecas públicas. É o que admite a bibliotecária Adriana Vieira de Aguiar, 42, que trabalha na biblioteca “Abílio Fontes”, de Santa Cruz do Rio Pardo. “O que prejudica muito é o fato de não se comprar livros. Muitas pessoas, incluindo estudantes, aparecem com um título do livro em mente, mas não o temos”, lamenta.

Adriana já trabalhou em outras cidades, como Botucatu, onde o município constantemente comprava livros novos. “Isto fazia com que o movimento fosse de 50 a 100 pessoas por dia”, lembra.

Formada em biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina, ela está no trabalho há mais de seis anos. Adriana conta que, para os padrões de Santa Cruz, o movimento na biblioteca ainda pode ser considerado bom, pois cerca de 10 a 20 pessoas procuram a biblioteca diariamente. “O problema principal mesmo é a falta dos livros”.

O prédio, um imóvel histórico onde funcionou a antiga Escola Normal, também atrapalha. O silêncio, por exemplo, fundamental em bibliotecas, não é respeitado. E a culpa nem é das pessoas que frequentam o local, mas da infraestrutura. “Muita gente estuda, lê ou costuma fazer trabalhos na biblioteca, mas muitos desistem. Nosso espaço é pequeno e o barulho dos veículos na rua é intenso”, conta Adriana. “Se houvessem investimentos, o futuro das bibliotecas seria de muito movimento”, avalia.




Alunas apontam a

internet como vilã

De dez estudantes ouvidos pelo DEBATE, apenas dois afirmam ter o hábito da leitura. Maria Clara Bianchi Firmino, 16, inclusive, acha essencial a leitura em sua rotina. “Para mim, os livros são uma válvula de escape. Quando leio, me desconecto do tempo. Vou para outra realidade”, afirma. Maria Clara acabou de ler “It – a coisa”, de Stephen King, pois adora literatura estrangeira.

A estudante acredita que, com a leitura, as pessoas conseguem fugir do senso comum. No entanto, a tecnologia, que em outras áreas significou um avanço extraordinário, é a principal responsável pelo decréscimo na leitura dos jovens. “Os assuntos giram em torno do que é visto na internet. Dificilmente conversamos sobre livros”, conta Vitória de Andrade Mendonça, 16.

Fala, professora

Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professora há 25 anos, Layss Pinheiro acredita que a fase em que se deve desenvolver o apreço pela leitura é a infância. “Contos de fábulas contêm as ‘fórmulas’ poéticas da oralidade, que tanto atraem a criança pequena, em composições em que voz e gestos são complementares”.

Layss, no entanto, segue a mesma crítica dos alunos e culpa a tecnologia. “Essa fase da leitura prazerosa vem sendo substituída pelos artefatos advindos da era digital”, diz. Segundo ela, a falta de leitura implica em interpretações textuais deficitárias, uma vez que pouco se tem formado o leitor crítico. “Não basta estar convicto da ideia de que a leitura forma leitores conscientes e politizados. É necessário que haja um esforço coletivo do governo, escolas, educadores na implementação de projetos voltados para a formação do leitor”, afirmou. 
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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