CULTURA

O dia em que todos choramos

Artigo de Miguel Abeche

O dia em que todos choramos

Adalberto Manzo (à direita) tocando no Carnaval do Icaiçara em 1963

Publicado em: 11 de agosto de 2023 às 00:00
Atualizado em: 11 de agosto de 2023 às 00:24

Miguel Moyses Abeche Neto
Da Equipe de Colaboradores

 

Cada pessoa tem suas tristezas exclusivas, só dela, da família ou amigos. E existe a tristeza coletiva, a que toma conta de uma cidade ou de um país.

15 de agosto de 1963 foi o dia da tristeza coletiva, da solidariedade coletiva, do dia mais triste da história de Santa Cruz do Rio Pardo.

Sessenta anos se passaram e todos que vivenciaram o trágico dia não se esquecem do momento que receberam a notícia e de como foi cinzento e tristonho aquele 15 de agosto de 1963.

A paixão pelo futebol é pelo momento mágico da Esportiva Santacruzense, que se aproximava da conquista do campeonato da Segunda Divisão de Profissionais e levava uma multidão de santa-cruzenses a acompanhar o tricolor mais querido da antiga Sorocabana onde ele estivesse.

Poderíamos ter mudado a letra do maravilhoso hino do Grêmio de Porto Alegre, composto por Lupucínio Rodrigues, para a Esportiva daqueles anos: “Até a pé nós iremos... Com a Esportiva onde a Esportiva estiver”. E era verdade: a fanática torcida acompanhava nosso tricolor onde ele fosse.

E foi essa paixão que levou 10 santa-cruzenses a enfrentar em uma madrugada fria os 350 quilômetros que separavam Santa Cruz do Rio Pardo, pela antiga rodovia Raposo Tavares, de São Paulo.

Naquela manhã que era feriado - e não me lembro o motivo -, assim como era feriado o 25 de agosto (mas este era o Dia do Soldado), eu e dois amigos, Tom Queiróz e João Queiróz, saímos de bicicleta - como fazíamos costumeiramente, quando não estávamos na quadra da Escola de Comércio (que pecado destruir a nossa quadra!) – e, ao passarmos em frente a antiga Rádio Difusora, a ZYQ-8, vimos uma aglomeração na porta da emissora.

Era sempre assim. Não havia televisão, o telefone era a manivela e ainda tínhamos que pedir para a telefonista fazer a ligação. Assim, era através do rádio que o mundo chegava a Santa Cruz do Rio Pardo.

Ao aproximarmo-nos das pessoas, soubemos da tragédia. E ali ficamos por um tempo e cada minuto que passava ia aumentando a aglomeração. De vez em quando, Buza Queiróz, o gerente da rádio, aparecia par dar alguma informação sobre a tragédia.

De repente, vi um grande amigo do meu pai se aproximando e pedindo a confirmação do acidente e do veículo. Imediatamente seu semblante se transformou, saiu andando vagarosamente, quase desnorteado. Colocou a mão em uma árvore frondosa na calçada em frente à rádio, bem perto de onde eu estava e balbuciou: “Isto não está acontecendo, agosto mês do desgosto”.

Era José Manzo, o grande amigo do meu pai, sofrendo com a perda do seu irmão Adalberto Manzo que, como músico da banda municipal, sempre esteve no estádio Leônidas Camarinha tocando com o grupo o dobrado “Dois Corações” quando a Esportiva entrava em campo.

Essa cena me acompanha até o dia de hoje. Nesse 15 de agosto, a Esportiva venceu o Cerâmica por 1x0 e deu um grande passo para o sonhado título de campeão da Segunda Divisão.

No dia seguinte, a despedida foi mais um dia de tristeza coletiva. A cidade emudeceu, fez-se um silêncio absoluto. Santa Cruz, despediu-se dos seus 10 amigos em profunda tristeza. Dois amigos perderam seus pais, o Luís Carlos Simões (Carlota) e o Roberto Sartorato.

Passados 60 anos, ainda ouço a voz do amigo do meu pai dizendo baixinho: “Isto não aconteceu. Agosto, mês do desgosto”.

Foi o dia mais triste de Santa Cruz do Rio Pardo. Todos choramos naquele dia.

 

Leia mais:

Tragédia dos torcedores da
Esportiva completa 60 anos

 

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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