CULTURA

Parto natural: ‘direito do feto’

Parto natural: ‘direito do feto’

Publicado em: 23 de agosto de 2018 às 19:32
Atualizado em: 28 de março de 2021 às 22:21

Número de cesarianas em Santa Cruz do Rio

Pardo cresce e especialista alerta para os riscos

Diego Singolani

Da Reportagem Local

No mês de julho de 2018, Santa Cruz do Rio Pardo registrou 73 partos. Desses, 53 foram cesarianas, o que corresponde a 72% do total. O percentual está bem acima da média do País — 55,7% no ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde — e muito além do limite preconizado pela Organização Mundial da Saúde, que vai de 10% a 15% dos nascimentos. O alto índice de cesáreas no município preocupa, já que este procedimento, quando não indicado corretamente, traz inúmeros riscos, como aumento da probabilidade de surgimento de problemas respiratórios para o recém-nascido e risco de morte materna e infantil.

De acordo com o obstetra José Antônio Torres Peres, 65, a situação é alarmante. “Há cerca de 20 anos, Santa Cruz tinha um percentual de 40% de partos por cesárea, o que já encarávamos como algo excessivo”, relata. Para o médico, defensor do parto natural, os indicadores mostram que as mulheres têm fugido da possibilidade de esperar o momento adequado para o bebê nascer. “A cesárea, apesar de segura, não deixa de ser um procedimento cirúrgico bastante invasivo e que, portanto, traz certos riscos. Podem ocorrer complicações com a anestesia, na cirurgia e até no futuro obstétrico da mulher, relacionado à saúde da cavidade abdominal”, explica.

O problema maior está nas cesáreas eletivas, aquelas realizadas sem necessidade. José Peres confirma que há casos em que o procedimento é feito apenas para atender aos “caprichos” da mãe. “Existem mulheres que querem escolher o dia do nascimento e até a hora do parto”, diz o especialista. O Conselho Federal de Medicina estabelece que as cesárias eletivas só podem ser realizadas após a 39º semana de gestação. De acordo com o obstetra, devido a vários fatores, pode haver erro na contagem da data e o feto estar prematuro (menos de 37 semanas) ou precoce (de 37 a 38 semanas) no momento do parto. “Nessas condições, pode ocorrer a taquipneia transitória, que é quando o bebê tem dificuldade para respirar. O quadro requer muita atenção e a criança precisa de oxigenação artificial. Também é frequente a icterícia, devido ao fígado ainda não estar preparado. O bebê fica ‘amarelado’ nos primeiros dias e há risco de sequelas neurológicas”, afirma José Peres.

Cultura do medo

Apesar da situação nacional ainda ser crítica, o Brasil teve avanços nos últimos anos em relação ao número de partos naturais, que subiu 2% entre 2016 e 2017. Já as cesáreas reduziram em 5% no mesmo período. Os dados são da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Mesmo assim, o País apresenta a segunda maior taxa de cesáreas do mundo, atrás apenas da República Dominicana. No ano passado foram realizadas 432.675 cirurgias, quase cinco vezes mais do que os 87.947 partos vaginais (as informações são de pacientes atendidos através de planos de saúde).

Para o obstetra José Antônio Torres Peres, a predileção pela cesariana entre as mulheres brasileiras é motivada principalmente pela cultura do medo, pela influência dos próprios médicos e pela formação pouco sólida desses profissionais. “As nossas meninas ouvem desde sempre que o parto é algo dolorido e que as mulheres sofrem demais. As tias, primas e amigas perguntam logo de cara quando será a cesárea. Isso gera insegurança”, afirma o médico. “Além disso, muitos médicos que atendem pacientes particulares ou de convênios preferem indicar a cesárea eletiva. Uns, pela comodidade. Afinal, um trabalho de parto natural pode levar até 12 horas em mães de primeira viagem, exigindo uma série de manobras. Outros, devido à má formação acadêmica, não têm confiança em conduzir um parto vaginal, com receio de enfrentar alguma complicação”, alerta José Peres.

O médico diz que, geralmente, a primeira pergunta que as mulheres fazem no consultório é justamente sobre qual tipo de procedimento irão realizar. “O ideal é que a mãe pelo menos entre em trabalho de parto, mesmo se a opção for pela cesárea”, ressalta. “No fenômeno gravídico, existe algo que desencadeia o trabalho de parto que os médicos ainda não sabem acionar de forma precisa. É o sinal de que o momento certo chegou para o nascimento”, diz José Peres.

O obstetra destaca, ainda, a importância do parto natural como um último estágio de preparação do feto para a vida fora do útero. “O parto é o primeiro grande desafio que deve ser superado pelo bebê. Estamos criando uma geração de superprotegidos, desde o nascimento. Isso é prejudicial para o desenvolvimento psicológico e social das crianças”, assevera José Peres. “Não temos o direito de escolher pelo feto, sem saber se ele está pronto para nascer. É um direito dele vir ao mundo quando for a hora certa, de forma natural”, afirma.
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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