ECONOMIA

Usina São Luiz, que festeja 70 anos, começou em Santa Cruz

Hoje uma potência financeira, empresa foi inaugurada em 1951 no município de Santa Cruz com a presença do governador

Usina São Luiz, que festeja 70 anos, começou em Santa Cruz

PUJANTE Foto aérea do complexo industrial da Usina São Luiz, que emprega mais de 2 mil pessoas de toda a região; ela começou em Santa Cruz, mas foi transferida para Ourinhos

Publicado em: 02 de outubro de 2021 às 02:16

Sérgio Fleury Moraes

Saindo da rodovia Orlando Quagliato, na vicinal que vai até Canitar, já é possível perceber a grandiosidade da usina. Quando se entra no complexo industrial, a imponência de um dos maiores grupos econômicos do Brasil fica nítida num espaço em que trabalham 2.300 pessoas. É a Usina São Luiz, da família Quagliato, que completa 70 anos de atividade. O curioso é que a empresa surgiu em terras de Santa Cruz do Rio Pardo, que teve as divisas modificadas nos anos 1950 e perdeu justamente uma de suas maiores fontes de receita em impostos.

Há muitas dúvidas sobre o que provocou a mudança das divisas e a perda da usina de Santa Cruz para Ourinhos. Sabe-se, porém, que houve uma comissão da Assembleia Legislativa para a reorganização das terras de vários municípios do Estado, a qual decidiu por uma nova divisão territorial. Há versões que culpam o deputado Leônidas Camarinha ou o prefeito a partir de 1955, Lúcio Casanova, pelo fato, mas nada se comprovou.

O INÍCIO — Em 1951, uma grande festa com a presença do governador Lucas Nogueira Garcez (à direita, ligando a turbina), marcou a inauguração de uma das maiores usinas do País

Para a usina, porém, naquela época a transferência de município pode ter sido vantajosa. Afinal, Ourinhos ofereceu incontáveis benefícios para incentivar a troca. Além disso, agências bancárias do município abriram seus cofres para oferecer financiamentos, mesmo sabendo que o usineiro Orlando Quagliato era avesso a contrair dívidas.

Orlando foi o pioneiro da família Quagliato. Nascido em Capivari, era descendente de imigrantes italianos e começou a trabalhar na infância. Aos 19 anos, já estava casado com Rosa Angelieri, que o apoiou em todos os empreendimentos. Ainda jovem, foi fazendeiro em Boa Esperança do Sul, mas sempre buscava terras mais baratas e menos exploradas.

Em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, Orlando adquiriu sua primeira fazenda em Santa Cruz do Rio Pardo, a “São José”, mas logo vieram mais duas aquisições — as fazendas Figueira Branca e Santa Maria. Foi, então, que a família transferiu a residência para Santa Cruz.

Visionário, Orlando já enxergava o potencial da região para uma futura usina de álcool. Como o irmão Luiz, que foi seu sócio durante alguns anos, não se convenceu, a pequena usina surgiu em Capivari. O empreendimento, porém, não vingou muito tempo e o setor agrícola foi vendido, com as máquinas transferidas para Santa Cruz.

Os olhos do industrial, na verdade, já estavam voltados para as terras de Santa Cruz do Rio Pardo. Nos anos 1940, Orlando montou um engenho de aguardente na fazenda Santa Maria, que foi praticamente o embrião da atual Usina São Luiz. Com os lucros, também começou a negociar café e comprou mais terras.

Em 23 de setembro de 1951, com a presença do governador paulista Lucas Nogueira Garcez e autoridades de toda a região, a Usina São Luiz era oficialmente inaugurada. Em pouco tempo, se tornou a maior indústria em uma larga região do Estado.

PIONEIRISMO — Nos anos 1950, trabalhadores da usina posam para foto em enorme caminhão

Orlando Quagliato transmitiu todos os ensinamentos do empreendedorismo aos filhos homens — Fernando, Luizito, Chicão e Roque. Em outubro de 1960, inesperadamente o patriarca do grupo morreu. Tinha apenas 54 anos e havia acabado de comprar uma fazenda, com prazo de cinco anos para pagamento.

Porém, a marcha industrial não parou e o império, nas mãos dos quatro herdeiros, cresceu ainda mais. Cada um começou a trabalhar num setor da destilaria e conseguiram equacionar as dívidas. Teve início uma nova era de desenvolvimento. O grupo se tornou tão gigantesco que possui fazendas espalhadas por Goiás e Pará. Somente neste último Estado, a pecuária emprega 700 pessoas. O total de matrículas imobiliárias passa de 200 somente em áreas rurais.

A São Luiz foi cofundadora da Copersucar em 1959, que se tornou a maior cooperativa dos produtores de açúcar da América Latina, responsável pelas marcas “União” e “Caboclo” durante muitas décadas. Hoje, todo o açúcar produzido pela São Luiz é exportado através de programas da Copersucar. O álcool fabricado é o hidratado, ou seja, o mesmo que é colocado nos tanques dos automóveis.

Há muitos anos o conglomerado buscou a sustentabilidade energética e nos anos 2000 montou sua usina própria de geração, que hoje produz cerca de 16 megawatts e vende energia para concessionárias. Para se ter uma ideia, a usina hidrelétrica de Piraju produz pouco mais de 70 megawatts.

Foto aérea da Usina São Luiz mostra pujância do local

“A geração própria sempre existiu com a queima do bagaço para rodar a usina, mas nós também investimos na cogeração energética, exportando quase a metade”, conta Adriana Quagliato Vessoni, filha de Luizito e responsável pela Assistência Social da indústria.

Segundo Adriana, é uma energia limpa que já pode ser considerada o terceiro grande negócio dentro de uma usina de açúcar. “A crise hídrica provou que o mundo precisa de energias produzidas de formas diferentes. Afinal, o governo necessitou ligar as termoelétricas, que são caras e poluentes em comparação com a biomassa”, explicou. “Para o futuro, nós estamos prevendo dobrar a geração de energia da usina. É nossa grande aposta”.

Além disso, o grupo montou há 15 anos uma fábrica de levedura, um subproduto produzido a partir da fermentação da cana e usado na alimentação animal. O idealizador foi um antigo diretor da usina, Joaquim Andrade, muito ligado aos donos.

Aliás, o filho Manoel Andrade está na São Luiz há mais de 40 anos e é o atual diretor de Meio Ambiente. Recentemente ele introduziu a usina no programa “RenovaBio”, que consiste em créditos obtidos a partir da redução da emissão de CO2 (gás carbônico). “É um programa complexo, com auditorias regulares, mas veio para ficar”, disse Manoel. Os créditos são negociados no mercado — principalmente para distribuidoras de combustíveis — e a usina renova sua participação a cada três anos.

A preocupação com o Meio Ambiente está em todos os cantos do complexo industrial, com arborização exuberante e coqueiros seguindo as estradas. “Começou com meu tio Fernando. Veja que até o acesso à usina pela rodovia [que tem o nome do patriarca Orlando Quagliato] possui jardinagem. É que na época era permitido aos proprietários enfeitarem suas entradas”, explicou Adriana Quagliato.

A São Luiz, por sinal, integra vários outros programas. Um deles é o internacional Bonsucro, que é uma certificação global que atesta a responsabilidade social e ambiental dos produtores de cana, comprovando os padrões de qualidade e normas internacionais de produção sustentável. O documento é obrigatório para a exportação de açúcar, especialmente para a Europa. Das 34 usinas cooperadas da Copersucar, apenas sete possuem a certificação Bonsucro, entre elas a São Luiz. Na busca por novas tecnologias, a usina tem até parcerias com a Esalq/USP, Unicamp, Unesp e FIO.

Adriana e Dante: terceira e quarta gerações da família Quagliato

Se em 1951, ano de sua inauguração, a primeira safra atingiu 802 toneladas de açúcar, atualmente a São Luiz produz 240.000 toneladas de açúcar, 71.000 m3 de etanol e 1.700 toneladas de levedura. No total de cana própria, são 2,1 milhões de toneladas, provavelmente a maior produção do País.

Indústria 100% familiar, três gerações dos Quagliato ainda estão na ativa. Luizito e Roque, os remanescentes dos quatro filhos homens de Orlando, dão expediente na usina todos os dias. Aos 89 anos comemorados há alguns dias, por exemplo, Luizito passa as manhãs no escritório e confere, além da contabilidade, a viscosidade do açúcar produzido.

Porém, além de Adriana e outros primos — a segunda geração, com cada família tendo direito a dois cargos na direção —, uma quarta está sendo preparada. E justamente numa nova fase do grupo, que está finalizando a criação da holding. “Claro que é só quem quer e tem afinidade com algum setor”, disse Adriana.

E um daqueles que demonstram afinidade é Dante Quagliato Yoneda, um dos braços financeiros da usina atualmente. “Sou da primeira turma do trainee, que começou no ano passado. A ideia é ficar um pouco em cada área, passando um mês no setor agropecuário do Pará e em praticamente todas as áreas da indústria. Vários gestores e psicólogos fizeram avaliações e, no final, ingressamos em áreas específicas”, contou Dante.

Festa de inauguração com uma faixa saudando o governador 

“Meu pai sempre disse que a usina é uma escola, onde se aprende de tudo”, ressalta Adriana. Aliás, a São Luiz já é internacional, exportando tecnologia de etanol para vários países como Tailândia, Vietnã e Índia, este último o maior produtor mundial de açúcar. “Mas eles não têm destilaria de álcool e os governos estão impondo a adição de 10% de etanol na gasolina”, explicou.

Segundo Adriana, a medida visa reduzir a emissão de poluentes, uma vez que o carro elétrico ainda traz preocupações. “Na verdade, ele é mais poluente do que o carro movido a etanol”, disse, lembrando que o grande problema destes veículos é o descarte das baterias, que poluem o Meio Ambiente.

“E é assim que estamos formando as gerações, numa empresa totalmente familiar. No entanto, não deixamos de ter gerentes e profissionais qualificados, como Lino Sartori no Jurídico e o Manoel no Meio Ambiente, entre outros”, afirmou. E na quarta geração, certamente vai começar uma nova etapa de desenvolvimento da Usina São Luiz.

O empresário Dante Quagliato
Parte da indústria do complexo da São Luiz
Indústria em pleno funcionamento: funciona 24 horas por dia
Caminhão despeja cana em moedor
Estação energética da São Luiz
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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