O presidente Denis Muniz, que vai deixar o cargo em setembro, criticou a falta de apoio dos políticos e da antiga diretoria da Esportiva
Publicado em: 23 de junho de 2023 às 01:17
A Esportiva Santacruzense não vai disputar as duas partidas finais do campeonato paulista da Segunda Divisão. Após a goleada do último domingo, quando perdeu para o Penapolense por 7x0 e foi rebaixado, o time “entregou os pontos”. No início da semana, dispensou todos os jogadores e está desmontando toda a estrutura. Com a desistência, o time vai levar dois WO seguidos, somando três no campeonato — a Esportiva já havia sido penalizada com WO (placar de 3x0) no jogo contra o Tupã, no dia 4.
Oficialmente, o time desistiu do campeonato numa temporada muito difícil, que se encerra com a pior campanha em todos os tempos. O time tem apenas um ponto, obtido no empate com sem gols contra o Tanabi na primeira rodada, e não fez um gol sequer. Levou 30 gols, já somando os WO das partidas restantes.
Após a dispensa dos jogadores, o clube estava desmontando a estrutura do início do campeonato, como a entrega da casa que serviu de alojamento e dispensa de funcionários, inclusive duas cozinheiras.
O fraco desempenho no campeonato, em que vai terminar como o último colocado na classificação geral, rebaixa o time para a quinta divisão do futebol paulista, que ainda será criada pela Federação Paulista de Futebol. Antes, porém, vai precisar convencer a Federação Paulista de Futebol a entrar em campo na próxima temporada.
É que, além de uma multa de até R$ 50 mil pela desistência em pleno campeonato, o regulamento da FPF diz que o clube pode ser punido também com a proibição de disputar qualquer campeonato em 2024.
O presidente Denis Muniz, que deve deixar o cargo antes do final do mandato, que termina em setembro, acredita que a FPF pode estipular uma multa menor para a Santacruzense, tendo em vista os problemas que o clube enfrentou na temporada. Além disso, segundo Denis, é possível reverter a proibição de disputar campeonato em 2024, principalmente pelos motivos pelos quais aconteceu o abandono.
O principal problema foi a interdição do estádio municipal “Leônidas Camarinha”, sob alegação de que o gramado estava em péssimas condições. A Esportiva jogou apenas a partida de estreia no estádio de Santa Cruz do Rio Pardo, que foi interditado a partir da terceira rodada.
Com isso, o time foi obrigado a “mandar” seus jogos em outra cidade, escolhendo o “Tonicão”, estádio do Vocem de Assis. No início do mês, porém, havia uma esperança muito forte de que uma nova vistoria liberasse o estádio de Santa Cruz. Os dirigentes estavam tão otimistas que não notificaram a FPF sobre o jogo seguinte, que teria o mando da Santacruzense.
Porém, o estádio seguiu interditado, não houve tempo para comunicar o novo campo e o time foi derrotado por WO — não comparecimento. Foi a gota d’água. Na semana seguinte, a goleada de 7x0 selou o rebaixamento.
“Nosso principal problema foi a interdição do estádio. Na estreia, o único jogo no Leônidas, colocamos 350 pessoas no estádio e a torcida aplaudiu o time no final do jogo. Todos estavam empolgados quando, em cima da hora, o campo foi vetado. Naquela semana, tivemos dois dias para fazer uma manobra maluca para jogar em Assis. Nosso gasto triplicou e não tivemos mais renda”, lamentou o presidente da Esportiva.
Jogar em outro campo não significa apenas as despesas de viagem. O time precisa acertar uma ambulância, contratar seguranças e ainda buscar policiamento. “A renda seria nossa, mas no terceiro jogo com mando nosso, em Assis, havia dois torcedores. O que vamos fazer com R$ 10?”, disse.
Sem dinheiro, o clube deixou de inscrever dois atletas no campeonato que já estavam praticamente contratados. “Seriam titulares absolutos, mas fomos obrigados a cancelar a contratação para conseguir pagar outras despesas”, explicou o presidente.
Segundo Muniz, a prefeitura “errou feio” em relação ao gramado do estádio “Leônidas Camarinha”. No final do ano passado, ao invés de colocar areia para estimular a brotação, a administração jogou terra.
“A terra matou a grama”, explicou, “e não houve tempo para recuperação quando chegou o campeonato”. Entretanto, ele considera que na segunda vistoria, no início do mês, o campo já estava em condições de receber jogos. Mesmo assim, a interdição foi mantida.
Denis lembrou que um processo judicial antigo, da época do ex-prefeito Adilson Mira, proíbe qualquer tipo de ajuda da prefeitura municipal. “Claro que não era possível injetar dinheiro no clube, mas um telefonema de alguma autoridade municipal a empresários, inclusive do prefeito, bem que poderia ter nos ajudado. Não tivemos apoio algum”, disse.
O dirigente lembrou as difíceis condições da Santacruzense na última rodada. O time jogou em Penápolis às 10h pela Segunda Divisão e às 15h em Tupã pela categoria de base. “E tudo no mesmo ônibus. O pior é que os meninos não tomaram banho porque não havia água no estádio e nem banheiro em condições. Foi terrível, uma situação desumana”, contou.
“A verdade é que as autoridades poderiam ter ajudado. Eu não sou da cidade, mas se as pessoas de Santa Cruz não ligaram para o clube, que é um patrimônio, então não dava para continuar”, disse Denis.
Muniz também ressaltou que não teve nenhum apoio de dirigentes da antiga diretoria. “Quem nos ajudou foi somente o Nelson Faca, que ficou até o fim, e o Pedrinho Capoeira, que ajudou na manutenção da casa. No final, o Sidnei Maluza também apareceu para tentar nos ajudar em patrocínios, mas a coisa já estava complicada”, afirmou.
O presidente, inclusive, ouviu comentários de que seria uma espécie de ciúme. “Se foi isto, é uma enorme burrice. Afinal, eu estou cumprindo o mandato do Galego, que pediu para sair por motivos particulares. Acho que todos deveriam ter se unido para ajudar o time. Não sou dono da Esportiva, que é um time com tradição e história. Para continuar, as pessoas devem se despir das vaidades”, disse.
Quatro jogadores que deixaram a Esportiva na semana passada já foram contratados por outros clubes, como Grêmio Maringá, Globo (série B) e Cianorte. Um deles fechou contrato com uma equipe da Irlanda.
“Minha preocupação agora é com nossas cozinheiras. Quem vai contratá-las? Será que as pessoas que tanto criticaram nosso time têm emprego para elas?”, reclamou Denis Muniz.
* Colaborou Toko Degaspari
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